Buy & Hold ou Swing Trade?
A diferença fundamental entre investir e especular é que o especulador procura comprar um determinado ativo no intuito de vendê-lo por um preço maior, ou vendê-lo no intuito de recomprá-lo por um preço menor, normalmente utilizando predominantemente a Análise Técnica como ferramenta, tanto para escolher o ativo quanto para determinar o momento da compra e da venda e vice-versa.
Já o investidor procura comprar um determinado ativo em razão do retorno que esse ativo tem a capacidade de produzir em comparação ao preço cobrado por ele, seja este retorno em dividendos, em receitas e lucros ou em crescimento de patrimônio líquido, normalmente utilizando predominantemente a Análise Fundamentalista como ferramenta para escolher o ativo. Obviamente, quando o investidor consegue identificar ambos, ou seja, um ativo que além de apresentar um bom retorno está sendo vendido a um bom preço, o resultado do seu investimento será potencializado.
Portanto, dentre os diversos participantes do mercado existem diferentes perfis de investidor, de especuladores até aqueles mais conservadores. Dentre os últimos, as estratégias mais utilizadas para investir em ações são o Buy & Hold e o Swing Trade. A primeira obedece a um perfil mais conservador, focado na construção e manutenção de uma carteira de ações de empresas que apresentam bons resultados visando o retorno de longo prazo.
A segunda é mais comum dentre investidores com perfis mais especulativos e consiste basicamente em acompanhar a tendência de curto e médio prazo do mercado, abrindo e fechando posições em determinados ativos buscando ganhos nos movimentos dos seus preços.
O Swing Trade é uma estratégia que se popularizou a partir dos anos 90 com a democratização do pregão eletrônico para investidores pessoa física. É uma estratégia mais especulativa em que o investidor analisa um determinado grupo de ativos buscando oportunidades de lucro nas pequenas flutuações de preço.
Ele não está interessado em se tornar sócio da empresa, ou mesmo, em receber dividendos, mas em aproveitar os movimentos de curto prazo do preço de um determinado ativo, comprando e vendendo nos momentos que julga serem mais apropriados, ou mesmo, abrindo posições vendidas para encerrá-las após o preço do ativo ter se desvalorizado. O horizonte de suas operações vai desde um day trade até posições que podem durar alguns meses.
Uma das desvantagens de operar tendência em relação ao buy & hold é a depreciação dos lucros pelos impostos. Cada vez que um investidor realiza uma venda com lucro, parte deste é pago em imposto de renda. Dado o maior número de compras e vendas realizadas por investidores que fazem swing trade, a incidência dos impostos sobre seu lucro acaba sendo maior.
“Se é óbvio, então é obviamente errado!”
Joseph Granville
Para compensar essa desvantagem o swing trader precisa obter na média de suas operações um rendimento superior ao que a maioria dos investidores buy & hold consegue nas suas carteiras. Caso não consiga, não haveria vantagem alguma nessa estratégia, pois seria preferível montar uma carteira com bons ativos e administrá-la. Assim, esses investidores procuram se beneficiar das oscilações de preço de curto e médio prazo, procurando auferir lucros superiores à rentabilidade dos ativos no longo prazo, fator que basicamente difere o investidor do especulador.
Apesar dos fundamentos serem essenciais para ambos, investidores que operam tendência costumam dar mais atenção aos gráficos dos preços dos ativos, utilizando a análise técnica para identificar oportunidades de compra ou para abrir posições vendidas nos mesmos. Muitos são atraídos por estratégias extremamente duvidosas, vendidas por “gurus” e corretoras, que os induzem a realizar um grande volume de operações de compra e de venda ao invés de instruí-los a realizar investimentos de longo prazo.
Existe uma enorme quantidade de ferramentas de análise técnica que buscam auxiliar o investidor a identificar oportunidades com maior probabilidade de sucesso. Mas no fim é a habilidade desses investidores em acompanhar bem um pequeno número de ativos, em interpretar corretamente a tendência do mercado, os resultados das empresas e os indicadores econômicos e, acima de tudo, o “feeling”, que fazem com que obtenham sucesso “operando tendência”.
“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente”.
Soren Kierkergaard
É muito fácil identificar topos e fundos no gráfico das cotações passadas, o difícil é identificar quando os mesmos ocorrerão no lado direito do gráfico. Todo movimento de alta é marcado por correções de baixa e vice-versa. Enquanto seus lucros derretem, o investidor começa a indagar se uma eventual correção não é na verdade uma reversão de tendência do preço.
Investidores buy & hold mantém suas posições durante período de queda, aproveitando os preços descontados nesses períodos para adquirir mais ações. Investidores que operam tendência não podem ser dar esse luxo, devem stopar suas posições perdedoras e ficar fora do mercado até que uma nova oportunidade de compra seja identificada, ou mesmo, operar vendido para tirar proveito da queda.
Para tomar vantagem da desvalorização do preço de um ativo (ação de uma empresa ou contrato futuro, por exemplo) o investidor, mediante o aporte de margem de garantia, pode abrir uma operação de venda a descoberto no caso de operações de day trade, quando a posição deve ser encerrada no mesmo dia mediante uma operação de compra, ou pode abrir uma posição vendida para um prazo superior a um dia.
Para isso faz-se necessário alugar o ativo que se pretende abrir uma posição vendida. Atualmente as corretoras realizam automaticamente a operação de aluguel após o aporte da margem de garantia e a abertura da posição vendida pelo investidor. Outra opção seria vender contratos futuros de ações ou de índice.
Além disso, como a operação é feita através de margem é possível operar alavancado, tanto numa posição vendida, mediante o aluguel, como numa venda a descoberto no daytrade. O mesmo pode ser feito para uma posição comprada, mediante uma operação a termo ou numa compra alavancada no daytrade. Caso a operação dê lucro, ou seja, caso o preço do ativo vendido caia ou caso o preço do ativo comprado suba, a margem é devolvida ao encerrar a posição.
No entanto, caso dê prejuízo, ou seja, caso o preço do ativo vendido suba ou caso o preço do ativo comprado caia, ele será descontado dessa margem de garantia ao encerrar a posição. E, caso o prejuízo se torne maior do que o valor requerido como margem de garantia o investidor obviamente terá que realizar um novo aporte para saldar essa diferença com a corretora. Portanto, obviamente a alavancagem aumentará tanto o retorno da operação, caso ocorra, tanto o prejuízo.
O problema é que a maioria dos investidores só opera comprado, seja por medo ou por preguiça. Não estão preparados para uma inversão de cenário. Durante esses períodos o mais comum é que a maioria dos papéis ande juntos, ou seja, se a tendência é de queda, a maior parte das ações estará oscilando no campo negativo, o que torna extremamente difícil ganhar dinheiro nestes períodos através da compra de ações. A melhor coisa a se fazer neste caso é ficar fora do mercado e aguardar. Mas seja por ganância ou por compulsão, o swing trader tende a voltar para o mercado no momento errado.
Também é muito fácil afirmar que para ganhar dinheiro no mercado é preciso comprar no fundo e vender no topo. Assim como é praticamente impossível comprar no preço mínimo da tendência e vender no máximo. A ideia de quem opera tendência é se posicionar na direção correta da tendência principal do mercado.
E é este que irá definir onde o fundo e topo serão formados, podendo o investidor apenas tentar comprar e vender a um preço próximo a eles. Portanto, será o próprio mercado que irá indicar o momento de comprar e de vender, assim como o momento de liquidar a posição caso a operação dê errado.
Muitos investidores conservadores seguem inicialmente uma estratégia buy & hold mas acabam operando tendência na tentativa de maximizar seus ganhos ou tentar recuperar algum prejuízo. Pensando apenas no lucro ignoram a possibilidade do prejuízo e, eventualmente, acabam realizando alguma operação contra a tendência do mercado ao tentar adivinhar fundos e topos de preço.
A partir daí, esses especuladores se tornam “investidores de longo prazo”. Não veem outra saída a não ser manter a posição perdedora e aguardar semanas, meses ou até mesmo anos até que a operação comece a dar lucro, se isso chegar a acontecer algum dia.
“Não existe maneira certa de se fazer uma coisa errada”.
Capital e Valor
Isso é muito comum entre investidores recém chegados no mercado. Compram ações e assim seus preços sobem um pouco verificam que estão tendo um lucro tentador e então liquidam suas posições para imediatamente comprar ações de outras empresas.
E quando tomam posições erradas, ou seja, quando os preços de suas novas aquisições caem e lhes deixam no prejuízo, esses novatos mantêm essas posições perdedoras em aberto na esperança de que o preço possa reverter e lhes trazer algum lucro, pois agora “no longo prazo é garantido”. Em outras palavras, são corajosos nas perdas e covardes nos ganhos.
É comum ouvir desses “investidores” frases do tipo “tudo que cai, um dia tem de subir”, “agora já caiu tanto que só pode subir”, “na próxima alta eu vou vender”, “agora não posso vender porque a perda está muito grande”, "não tive prejuízo ainda porque não realizei a venda ainda", dentre outros comentários patéticos. A partir desse momento qualquer informação serve de consolo para justificar suas más escolhas e as suas posições perdedoras no mercado.
Os mais orgulhos, por não terem a menor flexibilidade para mudar de opinião, acabam fazendo preço médio do prejuízo. Aumentam suas posições especulativas comprando mais ativos a preços mais baixos. Os seus erros só ficam claros quando todo o capital está preso em operações que não param de dar prejuízos, o que poderia ter sido evitado se houvessem respeitado seus limites de perda ou se conseguissem ficar um tempo fora do mercado.
Quem compra ações tem a expectativa de que irão se valorizar porque o mercado está numa tendência de alta. Tome cuidado com a euforia do mercado e não subestime a manipulação dos investidores institucionais, eles podem promover a alta do preço de uma ação muito além da razão. Assim, reconheça e esteja aberto a mudanças inesperadas porque o mercado por natureza é dinâmico, não estático. Nunca está claro quando uma correção irá acontecer. Portanto, sempre esteja preparado para uma reversão de tendência.
“O que está barato pode sempre ficar ainda mais barato.”
Jesse Livermore
Como Montar uma Carteira de Ações (Buy & Hold)?
O investidor conservador (Buy and Hold) segue a filosofia de sócio das empresas cujas ações fazem parte de sua carteira. Suas ações serão mantidas em custódia por tempo indeterminado, desde que tais empresas continuem apresentando bons resultados, pagando dividendos regularmente e, principalmente, desde que suas ações estejam se valorizando no longo prazo. Sua estratégia está focada no aumento da rentabilidade deste portfólio e no fortalecimento de sua poupança de longo prazo.
O desejo de todo investidor conservador que busca investir em valor é adquirir ações de empresas sólidas, bem administradas, que estejam num setor aquecido e promissor e que paguem bons dividendos. Tais informações somente ficarão disponíveis para sua tomada de decisão através da análise dos fundamentos das empresas e do seu setor, além da conjuntura e dos indicadores econômicos. É fundamental a comparação do desempenho das ações de uma carteira com algum benchmark de mercado, tal como o Ibovespa, o S&P 500 ou o índice setorial.
Apesar da estratégia Buy & Hold seguir um procedimento operacional muito simples, comprar ações no mercado à vista, ela requer muito estudo e dedicação por parte do investidor, além de alguns hábitos fundamentais, os quais no longo prazo aumentarão significativamente a rentabilidade de uma carteira de ações. Portanto, a estratégia Buy and Hold implica se tornar sócio de boas empresas e permanecer sócio enquanto elas produzirem bons resultados e tiverem boas perspectivas para o futuro.
“Quando a empresa vai bem cedo ou tarde suas ações acabam acompanhando-a”.
Warren Buffett
O investidor conservador segue alguns princípios comumente utilizados em investimentos de renda fixa para otimizar os resultados dos seus investimentos de renda variável. Dentre eles talvez o mais importante seja investir com regularidade, comprando mais ações periodicamente.
Todo período de queda é uma oportunidade para baixar o preço médio de sua carteira de ações, aproveitando os preços mais atrativos. Esse princípio diminui o efeito das oscilações no longo prazo, otimizando o retorno da valorização de suas ações. Contudo, é importante lembrar que isso não é razão que justifique fazer preço médio para baixo numa posição perdedora.
De maneira similar, alguns investidores compram ações através do “método pirâmide invertida”, começam com um pequeno capital e à medida que a posição vai mostrando lucro vão comprando em quantidades cada vez maiores. Muitos não percebem, mas estão investindo no próprio túmulo, pois quando o topo da pirâmide desaba, acaba com tudo que foi construído embaixo.
Caso o mercado faça uma reversão, e eventualmente fará, o investidor ficará posicionado a preços altos com a maior parte do seu capital. E a partir daí, serão só prejuízos, pois o pequeno lucro das posições menores será rapidamente perdido pelos grandes prejuízos das posições maiores. Se a pirâmide não fosse invertida, ou seja, se o investidor começasse com maiores quantidades de dinheiro e fosse diminuindo à medida que a posição mostrasse lucro o efeito de uma reversão não seria tão prejudicial.
“O maior risco é não se arriscar. Em um mundo que muda muito rápido a única estratégia em que a falha é garantida é não arriscar.”
Mark Zuckerberg
Portanto, comece com uma estratégia simples e invista de forma independente. Para investir com regularidade os novos aportes podem partir tanto do salário e outros rendimentos do trabalho, bem como das participações periódicas nos lucros das suas empresas. O reinvestimento dos dividendos simula o efeito dos juros compostos da renda fixa.
Por isso, para garantir um significativo retorno de uma carteira de ações no longo prazo é fundamental que ela seja composta de ações de empresas com histórico de serem boas pagadoras de dividendos. Isso pode ser medido pelo Dividend Yield, que mede o retorno financeiro anual de uma ação, ou seja, o total de dividendos pagos num ano dividido pelo preço da ação. Assim, uma ação que pagou no ano um total de dividendos de R$ 1,50 por ação, sendo o preço desta R$ 30,00, apresenta um Dividend Yield de 5% ao ano.
Na tabela abaixo estão listadas as ações do Ibovespa com maior dividend yield. São os ativos que dentre as empresas do Índice apresentaram a maior distribuição de proventos em relação à cotação de suas ações nos doze meses anteriores a 16/07/2012. É importante frisar que essa classificação muda com o passar do tempo e não deve de forma alguma ser vista como uma recomendação de compra ou de venda.
“Invista o seu dinheiro apenas quando houver algo que se valha a pena comprar”.
Warren Buffett
Sempre que uma ação pagar dividendos o investidor pode utilizar os valores recebidos para adquirir novas ações da empresa. Isto permitirá que os ganhos cresçam com uma capitalização composta. Por fim, existem três datas importantes para o investidor de longo prazo que tem foco nos dividendos.
Data de anúncio: Data em que a empresa anuncia que pagará dividendos e determina a data ex- dividendos.
Data ex-dividendos: A partir dessa data as ações que forem compradas por você não terão direito a receber os dividendos que foram anunciados, mas, em compensação, quem adquire ações nessa data poderá adquirir as ações com algum desconto referente ao dividendo.
Data de pagamento: Nem sempre a data de pagamento do dividendo é divulgada junto com a data ex- dividendo, mas essa será a data em que efetivamente o dinheiro do dividendo ou do juro sobre capital próprio será depositado na sua conta na corretora.
Quando o mercado sabe que a ação já carrega o direito de receber dividendos, ele precifica a ação com esses dividendos. Na data em que a ação não carrega mais o direito de receber dividendos do último trimestre, os próprios investidores passam a negociar suas ações com um pequeno desconto referente ao dividendo por ação, o que pode ser um oportunidade para operações de curto prazo. Embora não seja garantido, frequentemente o preço da ação retorna ao valor anterior dentro de poucas semanas, mas pode ocorrer em dias ou em meses.
Mas fique atento, dividendos altos podem parecer como “pérolas” nos olhos dos investidores, mas o que mais interessa para o mercado é o quanto de lucro uma empresa gera e o quanto este está crescendo. Esse talvez seja o principal fator que alimenta a expectativa do mercado com relação à uma determinada empresa. O quanto de lucro ela está gerando e pode gerar no futuro.
O maior risco ao investir considerando apenas o Dividend Yield é investir em empresas que se encontram em estágio de declínio mas que são boas pagadoras de dividendo. Apesar do retorno de dividendos ser alto, o preço das ações no mercado vem caindo, o que poderá resultar em prejuízo para o investidor independentemente do retorno dos dividendos. Portanto, a interpretação correta é buscar empresas que além de serem boas pagadoras de dividendos, vêm apresentando lucros e fluxos de caixa persistentes e crescentes ao longo do tempo.
Em momentos de crise as ações das empresas que apresentam lucros crescentes e que pagam os melhores dividendos costumam ser as melhores escolhas. Além de perderem menos em relação à média do mercado (Ibovespa), em razão da maior procura em meio à crise, elas também irão render melhores dividendos, o que irá compensar parte da desvalorização do seu preço.
Além dos proventos, outra forma de aumentar a rentabilidade de uma carteira de ações é através do aluguel dos títulos, ou mesmo, através da venda coberta de opções. O aluguel de ações é uma operação na qual o detentor das ações (doador) autoriza sua transferência a um terceiro (tomador) em troca de uma taxa de aluguel livremente pactuada entre ambos. O doador define a taxa que quer receber, e caso haja um tomador que a aceite, o doador receberá a taxa do empréstimo deduzida do imposto de renda aplicável.
É preciso deixar claro que o doador não perde os direitos inerentes às suas ações. Os eventuais pagamentos de juros sobre capital próprio, dividendos e bonificações são reembolsados ao proprietário original das ações, que ainda poderá se beneficiará como a valorização no preço do ativo.
Obviamente, o doador ficará impedido de vender suas ações enquanto estiverem alugadas. Para aqueles investidores que aplicam pensando no longo prazo e por isso não têm o interesse de vender suas ações em breve o aluguel de títulos se mostra uma excelente estratégia para aumentar do retorno de uma carteira de ações.
"Convém deixar ao morrer algumas dívidas incobráveis para que alguém nos chore com sinceridade".
Jacinto Benavente y Martinez
Com relação à venda coberta de opções, essa estratégia requer estudo e acompanhamento do mercado. Dependendo de como for feita pode render uma taxa mensal superior ao aluguel. Mas por outro lado, caso haja uma expressiva variação no preço de suas ações, as opções lançadas podem vir a serem exercidas, obrigando o investidor a se desfazer de suas ações por um preço não muito atraente, o que no longo prazo poderá depreciar o seu patrimônio. Cabe a cada investidor decidir o que compensa mais, alugar ou vender opções cobertas. A venda coberta será abordada num respectivo artigo.
Por último, a diversificação é uma estratégia muito recomenda, mas deve ser feita de maneira coerente e responsável. Conforme dito anteriormente, diversificação não é garantia de maiores lucros, muito menos de que não haverá prejuízos. Ela apenas reduzirá parte do risco do investimento, porém, jamais por completo.
De maneira geral, no mercado as diferentes ações tendem a subir e cair juntas. Para os que investem de maneira desinformada, sem saber bem o que estão fazendo, a diversificação resultará num rendimento medíocre e bem abaixo da performance dos índices, quando não em prejuízo.
Acreditamos que a diversificação deva ser utilizada não só no mercado de capitais, mas principalmente fora dele. Cada pessoa deve possuir tanto investimentos de renda fixa como de renda variável, tal como ações, imóveis e títulos públicos. Quando estes são realizados com expectativa de retorno de médio e longo prazo, o risco tende a ser menor para os investidores. Assim, ao invés de realizar um grande número de investimentos diversos, concentre seu capital em alguns poucos ativos de qualidade.
No caso específico do mercado de capitais, o risco ficará condicionado ao desempenho (lucro ou prejuízo) das empresas dentro de um horizonte temporal mais amplo, sendo o ideal selecionar no máximo uma meia dúzia de empresas promissoras e com um Yield alto, e acima de tudo, que sejam de setores muito diferentes, ou seja, não correlacionados. É muito comum que mesmo empresas que apresentam bons fundamentos e bons resultados tenham os preços de suas ações prejudicados em razão da perspectiva do mercado para o seu setor ser ruim.
“É muito mais fácil tomar conta de alguns do que de muitos”.
Além das diversas estratégias para aumentar a rentabilidade de uma carteira de ações, poucos investidores se dão conta do potencial de alavancagem que seus ativos possuem. Assim como debêntures e títulos públicos, ações podem ser utilizadas como margem para a realização de operações no mercado futuro, tal como o aluguel de ações para a venda a descoberto, a compra a termo e a compra e venda de contratos futuros, tais como mini Índice, mini Dólar futuro e contratos futuros de ações.
São estratégias muito utilizadas durante períodos adversos em que o cenário econômico é ruim. Investidores que não desejem se desfazer de suas carteiras de ações podem utilizá-las como margem para vender mini contratos de índice futuro, reduzindo as perdas de suas carteiras, ou mesmo, auferindo lucro em razão da alavancagem desse mercado. Já outros podem utilizar suas ações como margem para comprar mini contratos futuro de dólar, pois a moeda tende a se valorizar nesses momentos.
Essa possibilidade de operar no mercado futuro permite aos investidores fazer o hedge de suas carteiras de ações. Embora seja um hedge imperfeito, ainda assim os protegerá de eventuais desvalorizações excessivas em seus papeis. A melhor estratégia para hedge de ações seria comprar de opções de venda (PUT). Ambas serão abordadas nos respectivos artigos.
Para concluir, uma carteira deve ser formada por ações de apenas algumas empresas que apresentam perspectiva de sobreperformar os índices de mercado no longo prazo e, preferencialmente, que sejam boas pagadoras de dividendos, cujos patrimônios líquidos e lucros venham crescendo ao longo dos anos.
Com o passar do tempo, a participação das ações que mostraram maior rentabilidade em relação às demais deve ser aumentada, no sentido de concentrar seus investimentos em ações que estão apresentando rentabilidade superior à média do mercado e da sua carteira. Da mesma forma, ações que apresentaram rentabilidades aquém da média da carteira devem ter sua participação reduzida, ou mesmo, liquidada.
Essa estratégia de realocação se diferencia da diversificação que normalmente é feita pela maioria dos investidores, a qual produz resultados medianos, ou mesmo, abaixo da média do mercado. Seu objetivo é direcionar o capital para ativos que apresentaram rentabilidade superior a esta média. Requer estudo, acompanhamento e, principalmente, paciência por parte do investidor, tanto para aguardar a valorização de suas ações como para suportar a volatilidade de seus preços. Novos aportes devem preferencialmente serem feitos nas ações que apresentaram a maior rentabilidade da carteira.
“Eu prefiro estar vagamente certo do que exatamente errado”.
Além disso, empresas que apresentam baixas reservas de capitais e de patrimônio líquido, endividamento elevado, principalmente de curto prazo, margens reduzidas e receitas instáveis, apresentam riscos elevados, principalmente durante ciclos de juros altos ou em elevação. Essas características tornam essas empresas mais vulneráveis a choques econômicos e podem ter dificuldades quando o ciclo econômico entrar em fase de contração, o que será precificado pelo mercado nos preços de suas ações.
Por outro lado, aquelas empresas que possuem uma boa reserva, um endividamento controlado e sustentável e uma maior capacidade de investimento, preferencialmente a partir do capital próprio ou contraindo dívida em momentos estratégicos do ciclo econômico, ou seja, quando os juros estão baixos, além de estarem mais preparadas para passarem por um ciclo de contração econômica e de juros elevados, poderão investir mais do que seus concorrentes e poderão aumentar seu market share.
Assim, investidores de longo prazo devem evitar comprar ações que apresentam rentabilidade muito inferior à do Ibovespa ou ao índice do seu setor, assim como de empresas concordatárias e “micos” de mercado, bem como de empresas que vem apresentando fundamentos ruins ou abaixo da média do setor, a menos que hajam claros sinais de recuperação em seus resultados financeiros. Nunca compre ações de uma determinada empresa simplesmente porque estão baratas na expectativa de que irão se recuperar.
Empresas concordatárias ou em recuperação judicial podem fazer inúmeros agrupamentos das suas ações, de modo a elevar artificialmente o preço de suas ações, o qual continuará se depreciando até chegar novamente a um valor muito baixo, quando outro grupamento será realizado. Sem contar que a qualquer momento essas ações podem ter suas negociações suspensas pela Bolsa. Nesta situação ocorre a transferência da custódia da B3 para o escriturador das ações ou para o livro da companhia, ou seja, a negociação dos papéis deixa de ocorrer no ambiente da Bolsa e os investidores na grande maioria dos casos não irão reaver o total do valor investido, ou sequer parte dele.
Da mesma forma, o investidor não deve comprar ações embasado apenas por projeções e recomendações de corretoras ou gurus do mercado. Seja independente, estude e tome suas próprias decisões, fundamentado sempre pelo seu próprio julgamento e sua análise do mercado. Apesar de muito criticada por investidores de perfil mais especulativo, acreditamos que a estratégia Buy & Hold em ações de empresas que crescem de maneira saudável e constante apresenta resultados melhores no longo prazo do que ficar “pulando” de papel em papel ou fazendo “delírios especulativos” em empresas “quebradas” ou IPOs hipervalorizados.
Investidores muitas vezes acabam investindo em ações de péssimas empresas na expectativa de terem encontrado uma boa oportunidade em uma empresa que se encontra numa fase de turnaround, ou seja, que vem há vários trimestres apresentando resultados ruins ou prejuízos e péssimos indicadores financeiros, tais como baixo ROE, baixo EBITDA, se não negativo, elevado endividamento em relação ao patrimônio líquido, dentre outros, mas que cujos resultados mais recentes têm se mostrado melhores em relação aos anteriores, sugerindo que a empresa está se recuperando de uma fase ruim e que seu futuro pode ser promissor, ou pelo menos não tão ruim quanto o passado.
Tais oportunidades além de arriscadas são raras. Conforme Buffett afirma, a probabilidade de uma empresa ruim se tornar uma empresa boa é muito menor do que a probabilidade de uma empresa boa permanecer boa. Contudo, em alguns casos quando o investimento é feito logo no início deste turnaround tais investimentos podem se mostrar muito rentáveis, visto que em razão do histórico de resultados ruins os preços dessas ações acabam sendo muito depreciados, muitas vezes ficando abaixo dos seus valores patrimoniais e, portanto, desde que a empresa consiga continuar gerando resultados melhores, o potencial de valorização pode ser expressivo.
Existem vários indícios de que uma empresa se encontra numa fase de retomada, além de um histórico de resultados ruins e prejuízos. Melhorias nos seus índices de endividamento tais como o aumento do GAF, redução do seu grau de endividamento, redução no endividamento/EBITDA e no endividamento/receita líquida, bem como melhorias nos seus índices de liquidez e, principalmente, melhorias nos seus índices de rentabilidade tais como crescimento da receita líquida, do EBITDA, das margens e dos retornos, em especial do ROE.
Empresas que apresentam um processo produtivo cíclico, ou seja, que em determinados períodos ou ciclos econômicos apresentam resultados melhores ou piores também apresentarão esse comportamento. Contudo, o risco nestas situações é muito maior se comparado a investimentos em empresas que vêm apresentado históricos de bons resultados e excelentes indicadores financeiros, porém, caso haja uma inflexão nos históricos de resultados ruins o retorno poderá ser bem maior.
"É possível ser jovem sem ter dinheiro, mas não se pode ser velho sem ele".
Tennessee Williams
Comprar e segurar pode se mostrar uma estratégia muito lucrativa, mas tudo depende do período analisado e dos objetivos traçados por cada indivíduo. Os desinformados que compram ações de blue chips apenas por acreditarem que as empresas de grande porte são investimentos garantidos muitas vezes acabam segurando uma carteira de ativos desvalorizados de empresas que pagam baixos dividendos.
Os preços das ações podem ser influenciados por razões lógicas e muitas vezes ilógicas. Investidores de longo prazo são pacientes e estão dispostos a aceitar o risco da volatilidade. Não entram facilmente em pânico porque sabem que enquanto a empresa continuar produzindo bons resultados trimestrais e apresentando um crescimento saudável o preço de suas ações voltará a subir. Em momentos de crise tomam vantagem dos preços baixos para aumentar o tamanho e a rentabilidade de suas carteiras, vendo oportunidade exatamente no sentido contrário ao que a maioria dos investidores acredita e consegue perceber.
Desta forma, períodos de crise são vistos como oportunidades para investidores buy hold, os quais aproveitam os preços baixos das ações para aumentarem suas posições em ações de boas empresas. Por outro lado, durante períodos de histeria no mercado esses mesmos investidores evitam aumentarem suas posições em razão dos elevados preços das ações.
No gráfico abaixo é possível perceber que de maneira geral a tendência do mercado acionário no longo prazo tende a ser o inverso da tendência da taxa de juros, exceto durante períodos de crises econômicas e/ou políticas. Períodos de expansão monetária, quando a tendência da taxa de juros é de queda, tendem a gerar períodos favoráveis ao mercado acionário, impulsionando a sua valorização. De maneira oposta, períodos de contração monetária, quando a tendência da taxa de juros é de alta, tendem a gerar períodos desfavoráveis ao mercado acionário, impulsionando a sua desvalorização.
"Tudo o que o investidor deve fazer é comprar o pânico e vender a euforia."
Jim Rogers
Quando os juros estão muito baixos, qualquer coisa parece um bom investimento, desde crypto moedas e nft´s até mesmo ações de empresas que não geram lucro ou que estão em processo de falência. Isso ocorre porque a taxa de desconto, ou o prêmio pelo risco, exigidos pelos investidores, principalmente nos países desenvolvidos, costuma ser pequena neste cenário e isso torna o preço justo por ações muito elevado. Logo, nessa condição de juro baixo, todo risco parece compensar. Até mesmo ações de empresas que não geram lucros possuem preço elevado em países onde o juro da renda fixa é próximo de zero.
Já em países como o Brasil o investidor exige um desconto muito maior por existirem juros altos, inflação elevada e um ambiente político, econômico e até jurídico oferecendo muito risco com relação ao futuro. Quando os juros futuros se elevam isso sinaliza que o mercado está pessimista com relação ao futuro do país e por isso exige juros maiores ou prêmios maiores. Nesta situação nem tudo compensa o risco, logo, quando o investidor identifica uma fonte de renda capaz de atender às suas necessidades com menor risco, ele escolherá essa fonte de menor risco.
Mas por outro lado, a queda generalizada dos preços das ações e dos fundos imobiliários diante de um ciclo de alta dos juros por expectativas pessimistas sobre o futuro e inflação alta são oportunidades para aqueles que identificam empresas com bons fundamentos a preços descontados e aguardam pacientemente o mercado se reajustar, precificando essas ações para cima.
Diante disso, investidores buy and hold tomam vantagem desses períodos de pânico para comprarem ações de boas empresas a preços descontados quando a taxa de juros se estabiliza após um período de alta do juro, o qual precede o início de um período de redução do juro.
Também evitam comprar durante períodos de histeria, quando a taxa de juros se estabiliza após um período de redução do juro, o qual precede o início de um período de aumento do juro. Alguns inclusive aproveitam os preços altos das ações para reduzirem suas posições, realizando parte do lucro, para futuramente recomprarem quando os preços estiverem mais atraentes
Quanto mais independente o investidor se tornar em relação à opinião de analistas e jornalistas melhor. Assim, poderá se dedicar mais a estudar o setor, o negócio e a empresa em que tem interesse, aproveitando melhor seu tempo para estudar os fundamentos da empresa e seus relatórios trimestrais. Quanto mais disposto estiver o investidor a investigar e a aprender sobre o negócio em que faz parte menos dependente ele ficará da opinião daqueles que ganham a vida orientando leigos a agirem de maneira irracional e muitas vezes estúpida. No fim, as melhores oportunidades sempre aparecem quando o investidor faz o seu “dever de casa”.
Os relatórios dos analistas e das corretoras são muito similares, as empresas sugeridas para uma carteira “conservadora” são quase sempre as mesmas. Recomendam as empresas de grande porte (blue chips) como investimentos mais seguros, levando muitos investidores a investir em empresas como Petrobrás e Vale acreditando que no longo prazo a rentabilidade estará garantida.
Entretanto, tanto a performance passada de uma empresa como a rentabilidade passada de um investimento em geral não são e nunca serão garantias de resultados futuros. Vale lembrar que há 20 anos atrás a empresa aérea Varig possuía na época um valor de mercado superior a elas. E naquela época ninguém previu ou sequer imaginava que a empresa poderia falir e que suas ações poderiam chegar a valer menos que R$ 1,00. Contudo, novamente o que se era considerado como “improvável” acabou se tornando a realidade.
“Lembre-se, daqui a dois anos as empresas líderes de mercado podem não ser as mesmas de hoje”.
Jesse Livermore
Um investidor mais agressivo busca a remuneração adicional por um maior risco. Um investidor mais conservador na renda variável, por outro lado, tende a fugir do risco, mesmo que isso produza retornos menores. Dessa forma, determinadas estratégias que se mostraram bastante rentáveis num determinado momento ou cenário econômico podem não proporcionar bons resultados em cenários ou em momentos diferentes. Por exemplo, durante períodos de queda de juros até mesmo as ações de empresas que vêm apresentando prejuízos sobem de preço, o que geralmente não ocorre durante momentos de alta de juro de uma maneira geral.
A estratégia de comprar e segurar é muito popular nos EUA e em países desenvolvidos que possuem um bom histórico de estabilidade política e econômica e, principalmente, baixas taxas de juros, o que estimula o investimento em ações. Além disso, são países que normalmente oferecem um ambiente favorável para a criação e o crescimento dos negócios.
Já no Brasil o ambiente não é tão favorável e os juros são altos, e mesmo as empresas que conseguem se desenvolver nesse ambiente desfavorável sofrem sérios problemas durante os ciclos de recessão que se formam no ambiente externo. Portanto, os casos de investidores de longo prazo que tiveram sucesso no exterior, onde as condições são totalmente diferentes, não se aplicam ao que temos no Brasil. E, dessa forma, no mercado brasileiro não se pode comprar e segurar sem realizar uma avaliação constante.
Conforme fora dito, existe uma relação entre a tendência do lucro e a tendência do preço da ação. Embora não seja uma regra, essa relação é muito frequente. Portanto, apostar que prejuízos frequentes se transformarão lucros frequentes no futuro é mais arriscado do que apostar que lucros frequentes continuarão a se transformar em lucros frequentes no futuro.
Investir em empresas que não geram lucro esperando que em algum momento no futuro elas serão lucrativas é uma aposta que eleva seus riscos como investidor. Algumas empresas possuem receitas bilionárias, porém despesas ainda maiores, vide netflix e uber. Se a empresa não gera lucro e continua funcionando e aumentando as suas receitas, alguém está pagando essa conta apostando que terá algum lucro no futuro.
Tomar decisões de investimento baseando-se apenas na rentabilidade ou na performance financeira passada também é um dos erros mais comuns cometidos pelos investidores. Apesar de historicamente o Buy & Hold apresentar em média uma rentabilidade superior às demais estratégias de perfil mais especulativo, acreditar firmemente no passado pode não significar um bom resultado no futuro, afinal, rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.
Existem muitos casos de empresas que no passado eram consideradas investimentos seguros e que hoje suas ações viraram micos de mercado ou tiveram a negociação de seus ativos em bolsa suspensa.
A verdade é que o longo prazo será favorável às boas empresas e desfavorável para as ruins. Logo, investimentos de longo prazo não podem simplesmente ser esquecidos, deixados de lado, independentemente de estarem ou não gerando rentabilidade. Investidores que fazem isso se comportam como jogadores. Fazem uma aposta e a mantém no longo prazo, independente dela estar ou não lhes rendendo lucro. Alguns só admitem que erraram após terem perdido grande parte de seu capital, senão todo ele, numa aposta que acabou dando errado.
Portanto, não se apegue ao papel. A partir do momento em que a empresa apresentar um mal resultado ou tenha algum sério problema operacional, venda suas ações e parta para outra. Não compre uma ação simplesmente porque ela não para de subir, tampouco em razão do seu gráfico de preço.
Verifique primeiro se existem razões concretas que a tornem interessante. É importante investir em ações pensando nos resultados de longo prazo e na formação de poupança de longo prazo. Se precisar do dinheiro no curto prazo, pode ser mais conveniente direcioná-lo para outra forma de investimento. E como disse Peter Lynch: Se você não consegue achar empresas atrativas para investir, coloque seu dinheiro no banco e espere até encontrá-las.
“E agora quero falar uma coisa. Depois de passar muitos anos em Wall Street e ao ganhar e perder milhões de dólares quero dizer-lhes isso: nunca foi meu raciocínio que trouxe o dinheiro grande para mim. Foi sempre minha capacidade de esperar. Entendeu isso? ESPERAR e não fazer nada. Você sempre encontra compradores precipitados em mercados altistas e vendedores precipitados em mercados baixistas. Para mim esta foi uma das coisas mais difíceis de aprender. Mas apenas depois de compreender isso profundamente é que um investidor poderá ganhar o dinheiro grande”.
Jesse Livermore