Análise das Demonstrações Financeiras
Uma empresa nada mais é do que uma máquina de captar recursos (dos seus proprietários ou de terceiros) para investir nas suas operações e, com isso, gerar resultado para os seus fornecedores de recursos (sócios e acionistas), além de fornecedores e colaboradores. A própria essência de um negócio é aumentar a riqueza por meio das atividades a que se propôs.
Empreendedores criam riqueza ao alocar corretamente recursos escassos para setores em que há maior demanda do consumidor e esta não está totalmente atendida, gerando valor ao alocar recursos para usos mais produtivos. Para isso, criam novos produtos ao inovar processos que irão substituir os antigos e ao descobrir oportunidades ainda não percebidas de lucro. Empreendedorismo é perceber oportunidades e desenvolver melhor maneira de alocar recursos de forma eficiente para atendê-las. Inovar, criar valor, superar os rivais e aumentar as receitas e os lucros, esse é o tipo de comportamento empreendedorial.
A concorrência num livre mercado (sem subsídios, sem monopólios, sem barreiras, etc) faz com que a oferta corresponda às demandas dos consumidores. E o erros cometidos, bem como os prejuízos resultantes destes, funcionam como estímulo para que se faça ajustes apropriados na estrutura de produção, ou para que se realoque mão-de-obra e recursos para outras linhas de produção, adaptando-se melhor ao ambiente ao fazer com que os investimentos sejam compatíveis com a poupança disponível necessária para manter e expandir a estrutura de produção no longo prazo.
E qualquer tentativa de manipular esse arranjo artificialmente, como por exemplo por meio de intervencionismo e protecionismo inevitavelmente gerará ciclos econômicos de expansão e de recessão. Intervencionismo e empreendedorismo são estados contraditórios.
"Quer espoliar um rico e redistribuir seu dinheiro? Crie algo e venda para ele."
Exposto isso, talvez a maior dificuldade ao investir em ações não seja a coragem de expor o capital ao risco, mas a escolha de boas oportunidades diante de um grande número de empresas e o que analisar diante de tanta informação disponível. Existem muitas fontes de informações sobre o comportamento dos preços das ações, facilmente encontradas na internet, contudo, poucas fontes confiáveis de informações contábeis de longo prazo e que proporcionem uma visualização eficiente sobre o desempenho operacional e o risco oferecido pelas empresas.
Aconselhamos a consulta aprofundada dessas duas fontes de informação para qualquer pessoa que esteja interessada em investir em renda variável. As principais fontes de informação são as próprias empresas, usualmente através dos seus resultados trimestrais. No entanto, estudar e analisar uma vasta gama de informações sobre cerca de 300 empresas diferentes para se fazer uma análise aprofundada e de qualidade na maior parte das vezes é inviável e/ou ineficiente para aqueles que não se dedicam em tempo integral ao processo.
Não se pode analisar e comparar todos os fundamentos disponíveis, ainda mais tentar fazer isso com todas as empresas que possuem ações na bolsa. Isso levaria uma vida! Ao montar a sua estratégia de análise o investidor deve definir quais são os indicadores e fundamentos que lhe serão mais importantes e úteis, estabelecendo prioridades para ganhar tempo. Caso contrário, quando a oportunidade for identificada já será tarde, pois o mercado já terá reagido aos novos fundamentos.
E como fora dito anteriormente, hoje em dia o mercado está reagindo às mudanças nos fundamentos muito mais rápido do que era de costume. O investidor precisa dedicar tempo e ter foco no que é realmente importante acompanhar, possibilitando que assim que uma mudança ou oportunidade seja identificada e ele possa reagir de acordo em tempo hábil para tomar proveito dela.
A obtenção desses dados para a análise é trabalhosa e a sua análise é relativamente complicada no início. A sistematização desse processo requer tempo e dedicação. Atualmente, estes serviços são prestados pelas grandes corretoras e agências especializadas.
Os serviços prestados por esses provedores muitas vezes pecam pelo fato de suas informações e indicadores estarem defasados face aos valores atuais de mercado. Além disso, normalmente apresentam custos elevados, sem contar o fato das informações oferecidas serem complexas, subjetivas e em grande volume, o que prejudica uma rápida análise e interpretação por parte da grande maioria dos investidores.
“Você deve investir seu dinheiro numa empresa que até um idiota consiga administrar, porque um dia um idiota o fará.”
Warren Buffett
O objetivo da Análise das Demonstrações Financeiras é oferecer um diagnóstico sobre a real situação econômico-financeira da organização utilizando relatórios gerados pela Contabilidade e outras informações necessárias para avaliar a estrutura de capital da empresa, a maneira como financia seus investimentos em ativos, bem como a rentabilidade das suas operações.
Consiste na aplicação de técnicas que realizam a decomposição, a comparação e a interpretação dos dados nelas presentes a fim de obter um diagnóstico sobre a situação financeira e a rentabilidade do negócio em um dado período, avaliando a relação entre preço, rentabilidade, liquidez e endividamento. As principais Demonstrações Contábeis divulgadas pelas empresas a cada trimestre são:
Balanço Patrimonial (BP) - Apresenta a posição patrimonial de uma empresa em dado momento. São registrados os bens e direitos (ativos) e as obrigações, ou fontes de financiamento dos bens (passivos), incluindo-se no passivo o patrimônio líquido dos acionistas (diferença entre o valor dos ativos e as obrigações da empresa.
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) - Apresenta as receitas geradas e as despesas incorridas pela empresa no período, indicando dessa forma o resultado econômico da empresa no trimestre.
Demonstração do fluxo de caixa (DFC) - Apresenta entradas e saídas do caixa da empresa no período e o saldo final do caixa da empresa antes e após essas movimentações.
Demonstração do valor adicionado (DVA) - Apresenta as Receitas geradas por uma empresa em determinado período, bem como a sua distribuição entre todos aqueles que participaram de sua produção.
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) - Apresenta as alterações que ocorreram em determinado exercício nas contas do patrimônio líquido da empresa, indicando onde houve crescimento ou redução de riqueza. O patrimônio líquido pode variar em razão de lucro/prejuízo líquidos do exercício, do pagamento de dividendos, aumentos/reduções de capital, reavaliação de ativos, ajuste dos exercícios anteriores, etc.
O primeiro passo é estudar e desenvolver a habilidade de rapidamente interpretar os fundamentos, determinar a situação da empresa e a tendência de seus indicadores. Essa habilidade não virá a partir de um extenso estudo de contabilidade ou de economia, mas sim de um estudo prático de poucos, porém, importantes indicadores.
O segredo está em transformar os números em palavras, interpretar a evolução e as mudanças dos indicadores e projetar uma tendência futura para a performance e para os resultados da empresa. De grosso modo, a chave para o sucesso está em transformar a informação em algo fácil de digerir, para que se possa realizar uma análise rápida e eficiente. E é isso que os ratios farão para você, uma análise sistemática e eficiente.
Cada decisão da administração da empresa corresponde a um impacto econômico, financeiro e patrimonial cuja extensão depende de muitas variáveis. A análise microeconômica se presta às análises retrospectiva e prospectiva centradas em dois aspectos:
- No nível de risco presente e futuro que a empresa analisada pode apresentar, isto é, na liquidez evidenciada na atividade a que a empresa se dedica e no grau de endividamento.
- Nos retornos de suas atividades e investimentos, isto é, na lucratividade que a empresa obteve e que poderá obter em decorrência do seu desempenho passado e do seu desempenho esperado. Assim, os índices podem ser classificados nas seguintes categorias:
A análise fundamentalista não consegue prever o futuro, mas consegue indicar as tendências passadas dos fundamentos e mostrar em primeira mão as mudanças que estão ocorrendo no presente. Assim, deve-se determinar se essas mudanças são positivas ou se são negativas, para então criar uma expectativa sobre a tendência dos fundamentos e a performance futura da empresa. A evolução de cada item e de cada indicador permite-nos avaliar se a empresa está numa trajetória de crescimento, em retração, ou estagnada em relação aos anos anteriores e, principalmente, em relação às concorrentes.
Na análise microeconômica da empresa também será estudado e incorporado o cenário macroeconômico da economia e do setor em que ela atua. Esse trabalho, no entanto, não deve contemplar períodos excessivamente longos (acima de 5 anos) em virtude das constantes modificações ocorridas na economia brasileira nas últimas décadas, que certamente geraram distorções significativas nos demonstrativos das empresas.
A partir de uma análise retrospectiva teremos embasamento para realizarmos a análise projetiva, estimando seus resultados futuros a partir da média dos resultados históricos, sendo possível até mesmo estimar diversos cenários no intuito de compreender os riscos e as vantagens as quais a empresa está sujeita. É fundamental levarmos em consideração a tendência das variáveis macroeconômicas e setoriais cruciais ao desempenho e ao negócio da empresa.
Assim sendo, a imprensa diária, as publicações setoriais especializadas e os canais de RI são fontes permanentes de consulta para complementar os elementos informativos relevantes. Isso é importante porque é através dessas informações que o mercado consegue criar uma expectativa mais realista em relação ao que acontecerá com a empresa no futuro. Não é uma simples projeção do passado, até porque muitas variáveis não apresentam comportamento linear, mas é um bom ponto de partida, e feitos alguns ajustes é possível identificar tendências e criar estimativas.
A chave para uma boa projeção de resultados está sobretudo na boa definição das premissas, pois a projeção de um resultado futuro é uma mera transposição das expectativas para os dados contábeis. Todas as premissas devem ser bem definidas e, apesar de todo o trabalho, deve ficar claro que nenhuma projeção é eterna. Muito pelo contrário, pois a revisão deve ser constante, sempre avaliando os novos resultados e indicadores divulgados, bem como o guidance, que nada mais é do que um conjunto de comentários que uma empresa faz a respeito das perspectivas para suas atividades.
Os comentários se referem às expectativas da empresa para diversas variáveis, focando principalmente em receitas, indicadores operacionais e lucro. Também são comuns guidances para questões mais amplas relacionadas às perspectivas para a área de atuação da companhia, ou mesmo para o desempenho da economia.
“O preço de uma ação é uma função dos seus lucros projetados”.
A análise dos indicadores fornece uma ampla visão da situação econômica, financeira e patrimonial da empresa, e deve ser realizada através da construção da série histórica com os números encontrados, os quais são apurados através da relação entre contas ou grupos de contas que integram as demonstrações contábeis. Um indicador analisado isoladamente num único balanço trimestral representa pouco para um diagnóstico da saúde financeira da empresa e de seu desempenho ao longo dos anos.
Através de gráficos da evolução dos indicadores podemos identificar se a receita da empresa está caindo, se os lucros estão caindo, um patrimônio líquido em queda constante, margens de lucro caindo, dívidas subindo e distribuição de dividendos em queda ou inexistentes. Tudo isso junto representa uma empresa com problemas ou que caminha para futuros problemas. É de se esperar que essa degradação nos resultados produzirá a queda no preço das ações, ou seja, a empresa perderá valor.
A evolução dos indicadores também podem indicar receitas crescentes, lucros consistentes, patrimônio líquido crescente, margens de lucro estáveis ou crescentes, dívidas equilibradas ou decrescentes, distribuição constante e crescente de dividendos. É de se esperar que essa melhora nos indicadores resulte em uma empresa cada vez mais valiosa, com preços crescentes de suas ações na medida que os resultados positivos são divulgados acima das expectativas dos investidores.
Portanto, a riqueza da análise fundamentalista está em comparar os indicadores em relação ao passado da empresa, ao seu histórico de balanços, além de compará-los aos resultados e indicadores das demais empresas do setor. A análise horizontal (ao longo do tempo) das demonstrações financeiras passadas apresenta importantes informações a respeito do desempenho e do risco oferecido pela empresa, da situação presente, bem como fornece subsídios para projeções e expectativas para o seu desempenho futuro.
O objetivo é avaliar um determinado número de empresas e escolher a que apresenta a melhor perspectiva dentro desta análise. Ao invés de investir em um gráfico, um histórico de cotações passadas que não garante a rentabilidade futura, investir em ações de uma empresa que apresenta bons fundamentos e um histórico de bons resultados se mostra uma escolha muito mais responsável e consciente. E de fato, todo investimento de longo prazo depende diretamente dos fundamentos.
Todo o estudo dos fundamentos envolve comparação, seja entre as demais empresas do setor, em relação à líder do setor ou em relação aos resultados anteriores da empresa nos últimos 5 anos e demais fundamentos. Em alguns casos, é ideal que alguns fundamentos se mantenham constantes.
Por exemplo, espera-se que o valor das vendas aumente com o tempo como um indicador de contínuo crescimento da empresa. Entretanto, o percentual de lucro das vendas (margem líquida) deve permanecer constante. Não se pode esperar que aumente todo trimestre, o que demonstra uma constante taxa de retorno das vendas da empresa. Com a divulgação de um novo resultado, após analisá-lo, você deve fazer algumas indagações:
- A empresa é lucrativa? Qual é o percentual de crescimento do lucro líquido?
- Está muito endividada? Qual é o percentual de crescimento do endividamento?
- A empresa vem apresentando crescimento do seu patrimônio líquido ao longo dos anos? O retorno sobre o Patrimônio Líquido é significativo e vem crescendo?
- Será que essa empresa continua exibindo o mesmo potencial de crescimento que eu havia identificado anteriormente?
- Quanto a empresa vem pagando aos acionistas sob forma de proventos? Esse valor está acima ou abaixo da média histórica e da média do setor?
- Os indicadores tiveram alguma mudança tão significativa que indique que a melhor opção é vender a ação?
- Os indicadores estão se mantendo num nível aceitável e otimista de maneira que eu deva continuar com a ação?
- Estou pagando um preço maior ou menor em relação ao valor patrimonial da ação e em relação às ações de outras empresas do setor? Se maior, existe alguma razão que justifique pagar mais? Se menor, este investimento seria realmente uma “pechincha” ou deveria valer muito menos em razão de algumas características tornarem essa empresa pior se comparada às demais do setor?
- Existe alguma outra oportunidade numa outra ação que está mostrando um melhor potencial? Será que devo vender para comprar essa outra ação?
Essas perguntas básicas determinarão sua estratégia como investidor, comprar, manter, vender ou ficar fora. Ao determinar os resultados de sua análise você deverá plotá-los em gráficos para visualizar as tendências dos indicadores e dos fundamentos. Enxergar a evolução dos fundamentos é muito mais educativo do que simplesmente ler os números, e você precisa dos gráficos para dar perspectiva à tendência desses fundamentos.
“Com bastante informação privilegiada e um milhão de dólares você pode falir em menos de um ano.”
Warren Buffett
Alguns indicadores tais como linhas de média móvel exponencial e linhas de regressão linear são bastante úteis para identificar a melhoria ou a deterioração na tendência de um fundamento e projetar possíveis tendências futuras para o mesmo. Entretanto, essas linhas tendem a minimizar bruscas variações num fundamento, o que pode não ser interessante, pois uma situação crítica ou volátil deve ser identificada como tal e não amenizada pela média.
Fazendo esse tipo de análise dificilmente você irá investir numa empresa que está perdendo performance ou apresentando prejuízo. Mas por outro lado, mesmo ações de empresas que vêm há tempos apresentando prejuízos podem subir a partir do momento em que começam a apresentar prejuízos menores.
Como fora dito anteriormente, o mercado é expectativa. Sendo assim, uma empresa que divulga um prejuízo menor do que o esperado pelo mercado terá suas ações valorizadas apesar de ainda estar tendo prejuízo. O fato de que seus prejuízos estão se tornando menores é um bom sinal, o que aumenta a expectativa do mercado em relação ao desempenho futuro dessa empresa. Essas mudanças serão quase sempre indicadas primeiramente nos seus fundamentos.
Como disse Peter Drüker, “Se você não mede algo, você não pode entender o processo. Se você não entende o processo, você não consegue aperfeiçoá-lo”. Portanto, os índices ou múltiplos estabelecem a relação entre as contas ou grupo de contas das demonstrações contábeis, visando evidenciar determinado aspecto da situação econômico-financeira de uma empresa. Facilitam sensivelmente o trabalho de análise, uma vez que a apreciação de certas relações ou percentuais é mais significativa que a observação de montantes, servindo como um termômetro da saúde financeira da empresa. Os principais índices são:
“As faculdades de administração recompensam o comportamento difícil e complexo mais do que o comportamento simples, mas o comportamento simples é mais eficaz.”
Warren Buffett
Um ratio é uma abreviada forma de expressão que descreve a relação entre 2 ou mais fundamentos. Logo, se um valor for 2 vezes maior que outro o ratio será 2 para 1. Por exemplo, se uma empresa possui uma margem líquida de 50%, isso significa que para cada 2 reais que ela girar, utilizar na sua atividade, ela terá 1 real de lucro líquido.
Se com o passar do tempo essa margem diminuir para 40%, isso é ruim, pois terá que girar mais dinheiro, ou seja, vender mais para poder obter o mesmo lucro. Mesmo que o lucro aumente em função do aumento nas vendas, isso pode ser um mau sinal em relação ao futuro da empresa, pois está ficando mais caro para ela produzir ou está sendo obrigada a praticar preços mais baixos, senão ambos.
A análise geral dos índices tende a focalizar os principais aspectos operacionais e financeiros da empresa através da análise comparativa com a indústria e da análise do histórico da própria empresa a fim de identificar as áreas que mais contribuíram ou afetaram o desempenho da empresa no período em análise.
Ao analisar o lucro líquido, por exemplo, é importante observar obviamente se a empresa apresenta uma evolução de lucros líquidos recorrentes ao longo dos anos, se vêm crescendo e em qual proporção, se estão crescendo num percentual acima ou abaixo da média do setor, além de comparar a sua evolução à evolução dos demais indicadores.
No exemplo torna-se importante comparar a evolução do lucro líquido à margem líquida, de forma a verificar se a empresa vem conseguindo manter sua margem de lucro líquido, ou mesmo aumentá-la, a medida que o seu lucro líquido cresce.
Assim, partindo das bases macroeconômica, setorial e da retrospectiva econômico-financeira, a análise do histórico das demonstrações financeiras permite ao investidor conhecer em detalhes a estrutura de capitais da empresa analisada, observando a evolução dos seus resultados e indicadores ao longo dos anos.
Para isso, o investidor precisa ter informações confiáveis, em tempo hábil, sobre as perspectivas da empresa em foco. É importante saber sobre seus principais itens de custo, seus projetos de investimentos e como isto se refletirá sobre suas vendas e sobre seu fluxo de caixa, levando então a uma expectativa sobre seus resultados no futuro.
O relatório anual é um documento muito importante para o mercado. Contém um extenso resumo de sua atividade durante o ano, notícias, relatórios financeiros, projeções e perspectivas futuras para a empresa e para o setor. Apesar de ser bastante promocional, é fundamental a sua leitura para se situar a respeito da empresa e do seu setor.
Entretanto, esses relatórios são produzidos pelo departamento de relações com o investidor da empresa e, em função disso, podem ser otimistas demais, ou ainda, notícias e dados ruins podem ser expostos de forma superficial ou irreal. Portanto, esses documentos devem ser vistos com certo grau de “desconfiança”, de ceticismo e de bom senso. A maioria dos investidores prefere ler esses relatórios do que estudar os indicadores e fundamentos da empresa.
Contudo, esse tipo de relatório jamais irá se equiparar a uma análise objetiva dos fundamentos e resultados históricos. É preciso analisar a empresa pelo o que os seus números mostram e não pelo o que o RI da empresa “relata” aos investidores.
“Se escrita da maneira "correta" até a pior das notícias pode aparentar ser positiva”.
Capital e Valor
Leia nos resultados as notícias e os acontecimentos do período, assim como a mensagem do presidente da empresa explicando o resultado. Procure informações importantes tais como processos e decisões judiciais, acontecimentos extraordinários, compra de empresas e venda de subsidiárias, prejuízos financeiros, etc. Esses relatos informam não só porque ganhos ou perdas ocorreram, mas também o que está e será feito para recuperar os prejuízos ou para garantir o “sucesso da empresa.”
Entre em contato com o RI da empresa caso tenha alguma pergunta, dúvida ou precise de informações complementares. É fundamental que essa análise seja feita de forma prática e objetiva e, acima de tudo, que os resultados dos testes sejam bem assimilados, comparados e nunca interpretados isoladamente como único indicador financeiro de uma empresa.
Buda defendia que tudo depende de todo o resto. “O Um contém o Todo e o Todo contém o Um”. Não se pode compreender nada em isolamento de seu ambiente.
Portanto, evite analisar um determinado resultado ou fundamento de maneira isolada. Ainda que um determinado valor de um múltiplo forneça uma indicação de como a empresa está no presente, sem se correlacionar esse valor atual à tendência da sua evolução no passado e aos valores dos demais indicadores não será possível criar uma expectativa realista para a sua tendência no futuro.
A correta interpretação deve ser feita através de comparação, analisando a sua evolução com o passar do tempo nos resultados anteriores e comparando-a com a evolução das demais empresas do setor. Dessa forma, você terá uma visão mais abrangente e mais qualitativa do desempenho da empresa ao longo dos anos, permitindo identificar se a empresa está subperformando ou sobreperformando as demais empresas do setor, ou mesmo, se sua performance está alinhada à média do setor. Evite analisar apenas um trimestre ou um ano, compare-os com os fundamentos dos anos anteriores e avalie se os recursos estão sendo adequadamente aplicados e estão gerando os retornos esperados.
Por fim, cabe ressaltar que sempre haverão fatores macroeconômicos, sejam acontecimentos econômicos ou políticos, ou mesmo, fatores intangíveis e subjetivos, os quais além de difíceis ou impossíveis de serem previstos produzem efeitos sobre o preço de uma determinada ação ou sobre o mercado como um todo que também não poderão ser facilmente estimados. Assim, os efeitos de tais eventos poderão sobrepor bons fundamentos e bons indicadores de performance de determinada empresa e como resultado suas ações poderão ser depreciadas na bolsa.
Da mesma forma, ações de outras empresas, independentemente de estarem apresentando bons ou maus resultados financeiros, poderão sofrer valorização em razão da expectativa de que tais eventos serão benéficos para o seu ramo de negócio.
A escola fundamentalista requer intenso e contínuo esforço na obtenção e na interpretação de uma diversidade de informações sobre as empresas, os diferentes setores e a conjuntura econômica. Cada indicador possui peculiaridades que devem ser muito bem conhecidas por quem o analisa sob pena de se gerar distorções nas análises efetuadas.
“Não há pior cego que aquele que não quer ver”.
Lodovico Grossi