Oferta Pública Inicial - O que é um IPO?
IPO, do inglês Initial Public Offering, é o nome comumente utilizado para designar a oferta pública primária de ações. Por meio desta oferta, empresas privadas tornam seu capital público, captando recursos dos investidores para financiar sua expansão futura.
Esse tipo de captação é muito interessante para as empresas, pois possibilita a obtenção de volumosos recursos sem nenhum compromisso ou garantia de valorização ou restituição do capital dos investidores. Em troca do capital aportado, os investidores recebem ações da companhia, as quais podem remunerar o capital do investidor por meio de dividendos ou mesmo pela sua valorização no mercado.
Em sua fase inicial, as companhias partícipes de um processo de IPO contratam agentes para formular e conduzir a oferta (geralmente um banco de investimentos), fornecendo prospectos que contém as cláusulas contratuais, datas e informações relevantes sobre a companhia em questão. Posteriormente, os possíveis investidores podem reservar cotas, em geral limitadas, que serão entregues à sua custódia quando o processo for concluído.
Nos casos em que a oferta desperta grande interesse é comum que não seja possível atender integralmente as cotas reservadas, sendo entregue apenas um percentual da quantidade anteriormente pretendida. Existe também a possibilidade de não se obter demanda suficiente, caso em que as cotas restantes podem ser redistribuídas ou mantidas em tesouraria.
Vale ressaltar que empresas que já possuem capital aberto também realizam ofertas públicas de novas ações no mercado, seja por motivos de alavancagem financeira ou para novas captações de recursos, ou mesmo, em razão do aumento do capital próprio. Nestes casos se trata de uma oferta secundária.
Além disso, muitas vezes ocorrem IPOs de empresas subsidiárias, ou seja, que são controladas por outra companhia que já tem ações negociadas no Mercado. Nestes casos a análise acaba sendo mais fácil, já que o investidor tem o histórico dos dados econômico-financeiros da controladora, bem como o histórico do preço de suas ações, para embasar a decisão.
As IPOs já foram, no passado, consideradas oportunidades ímpares para obtenção de lucros rápidos, seja sob o viés especulativo ou sob a perspectiva de um investimento de longo prazo. Embora anteriormente essa afirmativa pudesse até ser considerada verdadeira, atualmente ela não poderia estar mais distante da realidade.
Esse histórico de IPOs bem sucedidas criou um mito que vem sendo derrubado a cada novo ano às custas do prejuízo dos investidores ou especuladores menos informados. É possível atribuir o mito do IPO à muitos fatores, faremos nesse artigo uma análise subjetiva dos mais importantes, estabelecendo uma relação de causalidade que permita ao investidor decidir assertivamente.
“As pessoas costumam acreditar em tudo aquilo que elas não entendem”.
Warren Buffett
O Timing e a Euforia
Costuma-se fazer uma oferta pública em períodos de grande euforia do mercado, permitindo que as empresas captem a maior quantidade de recursos possíveis por suas ações. Durante este período de euforia, praticamente todas as ações experienciam uma forte valorização, pois o aporte de recursos no mercado é simplesmente brutal.
As ações recém lançadas em uma IPO participam desta euforia, e mesmo que seus fundamentos ainda não reflitam claras possibilidades de valorização, seus preços reagem acompanhando o movimento dominante no mercado.
Sendo assim, a valorização não é fruto de uma oportunidade advinda da oferta, mas é produto de um momento de euforia e de um excessivo otimismo por parte dos investidores que afetam a maioria dos ativos negociados. A interpretação enganosa desse fenômeno pode trazer prejuízos significativos, pois a fase eufórica do mercado não é eterna.
Uma reversão de tendência e uma atmosfera pessimista podem instalar-se instantaneamente, sem nenhum aviso prévio, pressionando os preços da ação recém lançada a níveis muito inferiores ao que fora pago na oferta primária, e os investidores que ingenuamente assumiram posições grandes nesses papéis podem ter que aguardar anos para obter algum lucro, se é que algum dia o obterão.
Os investidores excessivamente otimistas, os quais na maioria das vezes também são "excessivamente desinformados", tendem a se disseminar no mercado através da imitação sequencial das atitudes de outros investidores e em razão de históricos de rentabilidade passada, criando, além de demanda, um comportamento de manada muito arriscado.
E juntamente a expectativas irreais para o crescimento e para a lucratividade das empresas lançadas na bolsa, tem-se uma excelente oportunidade para os emissores, bancos e corretoras obterem grandes retornos explorando a ganância e a ignorância desses investidores, os quais muitas vezes acabam tendo prejuízos.
"As grandes mentiras do mundo são exatamente aquelas que contém pequenas verdades!"
Capital e Valor
A Liquidez e a Especulação
Como fora dito, Quando a demanda pelo IPO é alta o banco faz o rateio entre os investidores. Logo, nestes casos o valor que o investidor reservou pode não ser adquirido integralmente. O banco também define um intervalo de valor para o preço de lançamento da ação, logo, havendo uma grande demanda o valor de lançamento da ação ficará próximo ao valor máximo estipulado, havendo baixa demanda ficará próximo do valor mínimo.
Por último, existem IPOs com cláusula de lock-up, em que até um determinado prazo após o início das negociações da ação no mercado os investidores não podem vendê-las, sob pena de multa, visando evitar operações especulativas de gestores via informações privilegiadas, ou mesmo, a flipagem.
Mesmo sob a tutela de bancos de investimento e investidores institucionais de grande porte, normalmente a liquidez das ações recém lançadas é bem inferior à dos papéis mais tradicionais da bolsa. Devido à liquidez relativamente baixa, às poucas informações e às dificuldades relativas à valoração coerente dessas empresas, os papéis que estreiam na bolsa costumam ser alvo de intensa especulação, reforçando o mito.
E como resultado, em muitos casos apesar da ação ser valorizada expressivamente no mercado nos primeiros dias após o lançamento, no longo prazo essa distorção criada pela euforia acaba sendo corrigida pelo mercado, o qual desvaloriza seu valor de forma que se ajuste à média dos múltiplos do mercado e das demais empresas do setor.
Eventualmente esses ativos sobem 10% ou mais em seu primeiro dia de negociação, contribuindo para o estigma de “grande oportunidade”, motivando investidores inexperientes a aportarem grandes somas de dinheiro em empresas que pouco ou nada conhecem. Ainda mais comuns são as quedas vertiginosas logo no dia de estreia, em alguns casos atingindo valores 30% inferiores ao valor pago na oferta inicial. Muitos aproveitam esses dias de maior volatilidade para tirar proveito dos movimentos especulativos.
O mais comum é realizar a chamada flipagem, quando o investidor que reservou as ações no IPO as vende no primeiro dia de negociação logo na abertura do pregão. Embora seja verdadeiramente possível ganhar, é fundamental um profundo conhecimento da empresa, do processo de IPO, bem como uma estratégia com objetivos claros.
“Dentre as massas é a estupidez e não o bom senso que é aglomerado”.
Gustave Le Bon
O Preço, o Valor e a Verdade
A estimativa do valor é feita por um banco de investimento a partir de informações providas pela companhia. Geralmente, é obtida com a utilização de um fluxo de caixa descontado e ancorada nos múltiplos de mercado de empresas comparáveis. Entretanto, a falta de informações históricas substanciais em conjunto com o fato de que as companhias ofertantes geralmente possuem grandes projeções de crescimento após a oferta elevam bastante o grau de incerteza no processo de avaliação de valor do negócio.
Normalmente a maior parte dos IPOs acaba sendo lançada com preços e múltiplos muito elevados, o que não significa necessariamente que o preço da ação lançada irá se desvalorizar logo nos primeiros dias após o lançamento, visto que a euforia dos investidores muitas vezes faz com que o preço do IPO se valorize expressivamente longo nos primeiros dias de negociação independentemente dos fundamentos da empresa serem atrativos ou serem fracos, abaixo da média das demais empresas do setor.
Então quer dizer que as IPOs servem apenas aos interesses das empresas? Não. Existe sim a possibilidade de ganhar com IPOs, investindo na empresa contemplando um horizonte de longo prazo, mantendo-se a parte dos movimentos especulativos. Uma Oferta Inicial verdadeiramente bem sucedida beneficia ambas as partes, cumprindo seu objetivo inicial.
A empresa, após receber os recursos dos investidores, tem condições financeiras de expandir sua operação, crescendo e agregando valor, o que eventualmente será refletido no preço das ações, dando retorno efetivo ao investidor. Esse é o caso em que tudo ocorre como planejado e é o tipo de oportunidade que deve ser procurada quando se considera participar de uma IPO.
Para que o investidor consiga diferenciar as oportunidades, mantendo-se afastado dos casos em que a empreitada é destinada ao fracasso desde sua gênese, é necessário que ele torne-se um conhecedor íntimo da empresa que planeja tornar-se sócio. Uma leitura aprofundada do prospecto, bem como uma análise detalhada dos fatores de risco e dos resultados apresentados pela empresa nos últimos anos é o mínimo que deve ser feito antes de sequer considerar a participação na oferta.
Ainda que tudo isso seja feito, deve alocar cautelosamente seu capital, pois as informações que são disponibilizadas são preparadas com a intenção única de tornar a empresa atrativa, maximizando o valor obtido por suas ações. O sucesso depende, portanto, não só do crescimento da empresa a partir do capital recebido, mas de um crescimento que supere as expectativas elevadas que são utilizadas para estipular o preço da ação em seu lançamento.
"Não carregue no colo aquele que já consegue andar".
Padre Leo
O que fazer então?
Se decidir avaliar uma IPO, não encare isto como uma oportunidade líquida e certa de lucro. Avalie o caso rigorosamente, sendo até mesmo mais rígido do que seria com outra ação já em negociação. As ações em negociação já foram “testadas” pelo mercado, apresentam um histórico operacional mais sólido e certamente disponibilizam mais informações do que as empresas em fase de lançamento. Por esses motivos, seu cuidado deve ser redobrado com ofertas públicas.
É importante calcular os indicadores de preço, P/L, PSR, P/FCO, EV/EBITDA e P/VPA, realizando uma estimativa do preço da ação a partir da média da faixa de preço estabelecido para o IPO e a partir da quantidade de ações que serão emitidas e dos indicadores mais recentes apresentados no prospecto do IPO e no histórico de balanços da empresa na base de dados da cvm, tais como lucro líquido, fluxo de caixa operacional, EBITDA, receita líquida e valor patrimonial, bem como analisar o histórico ao longo dos trimestres desses indicadores e dos demais, tais como retorno sobre o patrimônio líquido, margem líquida, dentre outros, de forma a definir parâmetros e bechmarks que o embasarão para avaliar se o valor inicial está sobreprecificado, subprecificado ou numa faixa de valor justa em comparação aos indicadores das empresas concorrentes. Ou seja, verificar se estão dentro, acima ou abaixo da média para o setor.
O maior risco para o investidor é a falta de conhecimento sobre seus investimentos, seja porque pode levar o investidor a se desfazer de seus investimentos motivado pelo desespero durante momentos de crise ou porque pode levá-lo a investir de forma muito arriscada ou em ativos de baixa qualidade ou sobreprecificados motivado pela euforia durante momentos de alta no mercado.
Portanto, lembre-se sempre que um vendedor jamais fala mal de seu produto. Buffett afirma que um IPO é como uma transação negociada – o vendedor escolhe quando vir a público – e é pouco provável que o momento escolhido seja favorável a você. Aprenda a ler as notas de rodapé em letras pequenas, investigue, dedique-se a fazer escolhas racionais e maduras, consulte fontes alternativas de informação. Por fim, não seja ignorante a ponto de achar que o banco, as corretoras ou o economista da rádio têm alguma preocupação com o sucesso do seu investimento. Geralmente, é o contrário.
“Eu compro o negócio e não a ação. Um negócio que sei que vou querer manter para o resto da vida”.
Warren Buffett
Como Investir em uma Oferta Pública Inicial IPO?
Oferta pública primária, usualmente referida como IPO (Initial public offering), é o evento que marca o lançamento de ações de uma empresa no mercado. Seu principal propósito é levantar capital para ser utilizado como investimento para expansão da empresa, sendo também realizado por empresas que já possuem capital aberto, seja por motivos de alavancagem financeira ou novas captações de recursos, ou mesmo, em razão do aumento do capital próprio. Nestes casos se trata de uma oferta secundária.
Numa oferta inicial, como a empresa ainda não está listada na Bolsa, é preciso um procedimento especial para reservar a quantidade de ações que se pretende comprar, sendo isso parte do serviço oferecido pelas corretoras. Ao adquirir ações em oferta pública, o cliente não paga taxa de corretagem nem emolumentos, ou seja, só paga o valor do ativo.
A definição do preço da ação em uma abertura de capital é feita através de uma instituição que avalia o valor da empresa e sua perspectiva futura de crescimento e de geração de lucro. O que ocorre na realidade, é que num IPO as ações que serão lançadas podem ser sub ou hipervalorizadas. Logo, o investidor não tem garantia nenhuma de que subirão de preço logo após sua estreia na Bolsa.
“O principal problema do
investidor, ou seu pior inimigo, provavelmente é ele mesmo”.
Benjamim Graham
Frequentemente investidores com pouca experiência são atraídos para os IPO’s visando a possibilidade de lucros rápidos. Por mais que exista a possibilidade de que isso aconteça em alguns raros casos, é muito provável que essas ações não tenham o rendimento esperado no longo prazo. O próprio Warren Buffett faz questão de exaltar sua antipatia por IPO´s: "Você não precisa se preocupar com o que ocorre nos IPO’s, as pessoas ganham na loteria todos os dias, mas isso não é motivo para você mudar a sua estratégia de investimentos de forma alguma”.
Em muitos casos investidores institucionais promovem altas especulativas num lançamento inicial por acreditarem que sempre haverá algum tolo para pagar um preço ainda mais inflacionado, seguindo a loucura da multidão desinformada ou iludido por falsas promessas. Vamos fazer um exemplo hipotético de como um “estelionato institucionalizado” é oferecido ao público:
Um grupo de pessoas capitalizadas, ou não, busca patrocinadores para financiar seu projeto de IPO da Empresa Brasileira de Turismo Espacial (EBTX3). Digamos que juntos possuam um patrimônio inicial de 100 milhões de reais injetado na empresa, cujo plano de negócio é desenvolver o turismo espacial no Brasil, estando previsto para daqui a 3 anos o início da fase operacional.
Para isso, após conseguir o patrocínio, a EBTX contrata a instituição financeira que irá preparar o prospecto do lançamento, fazer a publicidade, realizar o processo de formação do preço e a emissão das ações e, principalmente, as estimativas financeiras futuras da empresa, tais como lucro e receita.
Para desenvolver seu projeto de negócio a EBTX3 contrata dois engenheiros da NASA e faz um acordo de cooperação com uma empresa de fabricação de aviões. No prospecto inicial consta que em 3 anos a empresa irá comercializar pacotes de turismo para a órbita da Terra, estando previsto para daqui a 6 anos a comercialização de pacotes para a Lua e para o planeta Marte daqui a 10 anos.
Em razão do histórico de sucesso de vários IPOs anteriores que em pouco tempo renderam muito dinheiro para quem reservou as ações daquelas empresas, a massa de investidores desinformados está convencida de que a EBTX é uma excelente oportunidade e que o preço de suas ações irá subir.
Além disso, a instituição responsável pelo lançamento das ações avalia a empresa em 1 bilhão, pois segundo ela o potencial futuro da empresa é enorme. E assim, suas ações são lançadas na Bolsa.
“O risco está naquilo que não conhecemos”.
Warren Buffett
São poucos os que têm a disposição de estudar e avaliar o prospecto do IPO da empresa para calcular o valor intrínseco de suas ações e avaliar o risco do negócio, a maioria está disposta a comprar essas ações a qualquer preço, agindo de forma irracional, atraídos por dicas e pelo desempenho de IPO’s anteriores, ou seja, iludidos por expectativas irreais. E como diria Luiz Barsi: Não compro vento na Bolsa!
Numa abordagem mais realista a EBTX3 é uma empresa que possui preço, mas que não possui quase valor algum, pois não gera lucro e não produz nada. Apesar de ter capitalizado 1 bilhão de reais com um capital inicial de 100 milhões não paga dividendos e está ainda numa fase pré-operacional.
Obviamente, o investimento em empresas pré-operacionais apresenta maior risco, pois é mais difícil realizar uma análise fundamentalista de qualidade. A análise por múltiplos (P/L, LPA, GAF, etc) é deficiente, pois não há ainda resultados operacionais consistentes, fato que torna difícil a avaliação da empresa, a qual por sua vez se baseia predominantemente em aspectos subjetivos, ou seja, na capacidade da administração de entregar o prometido ou nas perspectivas do setor. Assim, seu preço de mercado é formado apenas por expectativa futura (valor extrínseco).
Há muito tempo já se sabe que no mercado financeiro tanto a demanda como a oferta podem ser criados a partir do "nada", bem como um determinado produto financeiro. O preço de uma ação não é baseado apenas em fundamentos, lucros, bens tangíveis, ou seja, em capital real, mas em expectativas, em esperanças e sonhos criados para ou pelos investidores. Entretanto, quando estes não se concretizam são os fundamentos que irão garantir algum valor para a empresa e para suas ações.
Se após 3 anos a EBTX3 anunciar que não será possível iniciar a fase operacional no prazo esperado, ou mesmo, que seu plano de negócio por enquanto é inviável, o mercado irá corrigir a irracionalidade do preço dessa ação em poucos dias. Seu preço irá sofrer uma extrema desvalorização. O que muitas vezes acaba se tornando uma boa oportunidade para os especuladores, que podem ganhar dinheiro rapidamente comprando a preços atrativos e vendendo pouco tempo depois num repique de alta, ou mesmo, alugar suas ações e vendê-las a descoberto no intuito de ganhar com queda e recomprá-las mais barato.
"É mais fácil evitar problemas do que se livrar deles."
Warren Buffett
IPOs são, por definição, algo arriscado e perigoso, principalmente nos casos de lançamentos de empresas pré-operacionais ou que fazem IPO´s como forma de gerar caixa para pagar dívidas ao invés de investir os valores arrecadados na expansão dos seus negócios. Mas são também momentos onde se pode ganhar muito dinheiro em poucos dias, ou mesmo, algumas horas. No IPO da Bovespa que aconteceu em 2007, suas ações se valorizaram mais de 50% no primeiro dia de negociação. Por outro lado, na abertura de capital da Bm&F suas ações se desvalorizaram cerca de 25% no primeiro dia.
E assim como os IPO’s, os lançamentos secundários ou capitalizações também oferecem risco aos investidores, principalmente para os mais antigos. Conforme fora dito, novos lançamentos de ações no mercado primário por empresas que já possuem capital aberto são fontes de recursos permanentes para o financiamento dessas empresas.
Contudo, do lado dos investidores que já são acionistas da empresa uma capitalização em larga escala torna-se muito prejudicial, pois os resultados da empresa passarão a ser distribuídos sobre um número muito maior de ações, ocorrendo uma diluição dos dividendos e do lucro.
Uma capitalização de grande volume financeiro faz com que o P/L da empresa aumente expressivamente, o que consequentemente fará com que suas ações sejam desvalorizadas, pois em razão dos lucros passarem a serem divididos sobre um volume maior de ações, resultando na diminuição dos dividendos pagos, as mesmas se tornam menos atraentes ao preço em que se encontram.
A desvalorização de seu preço de mercado fará com que a empresa volte apresentar um P/L similar ao que possuía antes da capitalização. O P/L (Preço/Lucro) é um indicador que mede a taxa de retorno do acionista, ou seja, indica quantos anos levará para que a empresa lucre o que foi pago pelo investidor por sua ação.
Dependendo da magnitude financeira até mesmo as cotações das demais empresas podem ser afetadas por uma grande capitalização de uma empresa, pois muitos investidores venderão ações que possuem dessas empresas para subscreverem a capitalização daquela.
"Persista, não tome um não como resposta. Se você está feliz em sentar à sua mesa, sem tomar nenhum risco, você continuará preso nela pelos próximos vinte anos".
David Rubenstein
Esse efeito devastador pôde ser observado na capitalização da Petrobrás em 2010, quando suas ações foram desvalorizadas em torno de 50% durante um ano em que o Ibovespa fechou positivo. A capitalização, considerada a maior da história, gerou cerca de 120 bilhões de reais para a empresa. Um evento considerado extremamente favorável para a empresa, mas que, contudo, fora prejudicial para os acionistas, os quais além de perderem margem na participação nos lucros tiveram seu patrimônio desvalorizado no mercado.
Assim, o processo de aumento de capital costuma ser acompanhado de incertezas, sobretudo em relação ao preço da ação no momento final da oferta. O aumento da incerteza se traduz em crescimento do risco do investimento, o que implica queda dos preços das ações negociadas.
Contudo, o mercado tende a reagir positivamente após a oferta, já que esses recursos serão destinados ao crescimento da empresa, trazendo perspectivas de expansão dos resultados futuros e, consequentemente, maior retorno aos acionistas. Isso pode significar que em alguns casos o melhor momento para se investir nas ações dessa empresa seja após a capitalização haver ocorrido, ao invés de se investir através da própria capitalização.
“O público especulativo é incorrigível. Em termos financeiros eles sequer conseguem contar até três. Se parece existir algum ‘movimento’ em andamento eles entram em qualquer coisa, a qualquer preço.
Benjamin Graham
Ofertas públicas são frequentes quando há otimismo por parte do mercado, o que garante às empresas que façam o levantamento do capital necessário através da venda de suas ações a preços inflacionados e, devido a esse momento de euforia, a maior parte dessas ações se valorizam. Contudo, estudos no mercado americano mostram que o desempenho médio dos IPO´s no longo prazo fica bem abaixo do desempenho das empresas mais maduras. Além disso, o mercado é cíclico e em algum momento ficará pessimista, fazendo com que o preço das ações desses IPO´s se desvalorizem expressivamente em razão de apresentarem altíssimos P/L´s.
Investidores que pagam um P/L de 50 vezes o lucro em empresas novas e não testadas não possuem qualquer margem segurança a seu favor. O prometido crescimento exuberante no futuro nunca é garantido e ainda que as vendas consigam crescer substancialmente os lucros podem não subir na mesma proporção.
Caso isso ocorra, eventualmente o mercado irá desvalorizar preço da ação para que se ajuste a realidade, podendo fazer com que o preço dessa ação facilmente caia 50% de forma que se ajuste a um P/L próximo à média da maioria das empresas, entre 15 e 20 vezes o lucro, o que ainda seria uma avaliação muito alta.
Manter uma posição durante uma correção dessa magnitude pode custar ao investidor um prejuízo expressivo. E, ao contrário daqueles investidores que compram suas ações próximo ou abaixo do seu valor intrínseco, o dono de uma ação dessas não possui qualquer base sustentável para acreditar que essa companhia vai algum dia retornar ao seu P/L de 50.
O ano de 2007 foi marcado por uma febre de ofertas públicas e uma enorme procura pelos investidores que participavam do rateio inicial e logo em seguida vendiam as ações no primeiro dia de estreia na bolsa com expressivos ganhos. Quanto maior a demanda maiores serão as chances de valorização da ação, pois muitos investidores que não conseguiram reservar o total do valor pretendido irão comprar no dia do lançamento, implicando na valorização do papel. Mas ainda assim não existe garantia alguma de que o papel irá subir de preço.
“A loucura é rara em indivíduos isolados, mas em multidões, grupos, nações e faixas etárias, é a regra.
Friedrich Nietzsche
Antigamente se adquiria através de IPO’s ações de empresas que tinham um bom histórico de crescimento e que apresentavam bons resultados à medida que se desenvolviam, permitindo que o investidor vendesse suas ações com uma significativa valorização. Entretanto, o que se observa hoje em dia é que a perspectiva de crescimento e as expectativas em relação ao futuro da grande maioria das empresas que abrem capital já vêm embutidas no preço de lançamento de suas ações. Na maioria dos IPO’s realizados hoje as ações já são lançadas a preços hiperinflacionados.
Em razão disso, é recomendado cautela e uma análise mais detalhada dos prospectos de novas aberturas. É preciso avaliar se o preço sugerido na IPO é compatível com a relação preço/lucro. A maioria das empresas que estreiam na bolsa nascem com P/Ls acima de 50 anos.
São armadilhas perfeitas para perdedores compulsivos que não conseguem resistir a uma dica de investimento ou a alguma novidade no mercado, sempre à procura de algum “esqueminha” especulativo para enriquecimento rápido baseados em informações superficiais e exageradas. Iniciantes são sugestionáveis e tendem a acreditar que IPOs são oportunidades certas para ganhar dinheiro rápido, seguindo a empolgação do mercado e a publicidade das corretoras e da mídia. De fato, a história mostra, àqueles que a estudam, que a humanidade é um rebanho a ser tosado, mas felizmente a lã sempre volta a crescer.
No ano de 2012 praticamente todas as ações lançadas em IPO tiveram expressivas quedas de preço já nos primeiros dias de estreia no mercado. Dessa forma, há um risco maior em comprar uma ação que nunca foi negociada porque não se conhece o histórico daquela companhia, já que ainda não há um histórico de relatórios e balanços disponíveis para análise. Logo, é preciso conhecer bem os fundamentos da empresa antes de decidir entrar num IPO. Leia e estude muito, tenha certeza do que está fazendo. Não acredite no mito de que um IPO é investimento certo.
“Sou um melhor investidor porque sou um homem de negócios, e sou um melhor homem de negócios porque sou um investidor”.
Warren Buffett