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Noções de Macroeconomia e os Ciclos Econômicos
Aprenda a investir no mercado com nosso conteúdo de análise fundamentalista, análise técnica e estratégias de investimentos

O desempenho das empresas e dos ativos financeiros está intimamente ligado ao desempenho da economia. Como investidor de renda variável é preciso estar ciente de que as chances de retorno para tal aplicação serão determinadas por dois fatores básicos, o bom desempenho futuro da companhia em foco e o bom andamento do mercado acionário no período para o qual se espera o retorno.

Alterações nos rumos da economia interna ou externa causam oscilações por vezes bruscas nos mercados de capitais e podem afetar a performance dos títulos de determinada empresa, ainda que seus negócios em nada estejam sendo afetados pelos fatos ocorridos. Torna-se então fundamental aprofundar o estudo das correlações entre as variáveis econômicas e o desempenho do mercado.

A macroeconomia oferece uma visão geral do patamar econômico do país, tanto para o cenário interno quanto para outros países ou em nível mundial. Essa ampla abrangência possibilita antecipar os movimentos do mercado, tanto nacional quanto internacional. Dessa forma, o investidor pode agir e reagir de forma mais rápida, especialmente no sentido de evitar crises e de aproveitar oportunidades.

Portanto, o ambiente macroeconômico deve ser constantemente monitorado e analisado. A definição das premissas macroeconômicas permite o prosseguimento da análise setorial e dos fundamentos das empresas e fornece informações importantes para a adequada definição das taxas de crescimento da economia e das ameaças de riscos sistêmicos.

 

"O fato é que em cada exemplo bem sucedido de desenvolvimento econômico deste século passado, em todos os casos em que uma nação pobre trabalhou seu caminho até atingir um padrão de vida mais ou menos decente, ou pelo menos até um melhor padrão de vida, foi feito através da globalização, isto é, através da produção para o mercado mundial, em vez de tentar a autossuficiência."

Paul Krugman

 

CICLOS ECONÔMICOS

 

Basicamente, a economia de um país segue um ciclo de expansão econômica (recuperação e crescimento), seguido por um período de prosperidade, seguido por um período de declínio e recessão econômica (contração), seguido por um período de depressão econômica e, posteriormente, um novo período de retomada econômica (recuperação e expansão econômica).

 

Um ambiente econômico mais instável, menos previsível, sujeito a intervenções e a uma estrutura regulatória incerta cria um ambiente mais avesso ao risco, que pode impactar as decisões gerenciais e, consequentemente, o desempenho das companhias.

 

Período de Expansão -  Após uma profunda crise (depressão econômica), a economia começa a indicar sinais de melhora. A oferta monetária volta a ser expandida através da redução dos juros, o que torna o crédito mais barato e uma maior quantidade de dinheiro passa a circular novamente na economia, as empresas gerenciam suas operações de forma mais coerente e há expansão do crédito e do investimento das empresas.

 

A economia experimenta uma fase de crescimento consistente da produção de mercadorias e serviços, bem como no comércio, proveniente do aumento do consumo e do investimento gerado pelo crédito mais barato. Normalmente as taxas de juros estão numa tendência de queda e a moeda local mais forte, o que posteriormente pode estimular pressões inflacionárias.

Normalmente, aqui se percebe uma mudança no mercado, com empresas e trabalhadores ineficientes de fora, o que coloca a economia novamente em ritmo capaz de inovar e criar novos produtos a preços interessantes. Entra em cena a esperança, força capaz de fazer as pessoas consumirem mais e confiarem mais no sistema financeiro.

 

Nestes períodos grandes volumes de capital retornam para o mercado de ações, provenientes principalmente de investidores institucionais e estrangeiros, impulsionando a valorização das ações, visto que as notícias, os resultados das empresas e os indicadores econômicos de modo geral são positivos, ou pelo menos não estão mais tão ruins como estavam anteriormente durante a depressão econômica.

 

Período de Prosperidade - Trata-se do ápice econômico de uma nação, fase a qual a produção de bens e serviços alcança o seu ponto máximo. Os níveis de desemprego são muito baixos, há ofertas de melhores salários, maior demanda generalizada, lucros crescentes e mercados imobiliário e de capitais atingindo incríveis patamares.

 

Nesses picos normalmente acontecem desequilíbrios econômicos tal como o aumento da inflação, decorrente do aumento do consumo e do investimento gerados no período de expansão monetária antecedente via o crédito mais barato. Este período é marcado pela necessidade de elevação da taxa de juros para conter a inflação, o que leva, além da retração da atividade econômica em razão do crédito se tornar mais caro, à desvalorização monetária e ao aumento do risco país e do endividamento das empresas e das famílias.

Nestes períodos os preços das ações inicialmente apresentam altas moderadas em relação ao período anterior de expansão, mas logo os investidores institucionais e estrangeiros começam a liquidar suas posições e os preços dos ativos se desvalorizam, apesar das notícias, dos resultados das empresas e dos indicadores econômicos de modo geral ainda serem positivos.

 

Período de Recessão - Trata-se do início de um declínio da econômica após o seu pico. É percebida uma diminuição da atividade econômica e as taxas de desemprego se encontram em tendência de elevação constante. É portanto um momento de correção, normalmente decorrente de um período de forte expansão do crédito através da redução do juro, o qual resultou no aumento da inflação.

 

E para contê-la, o Banco Central aumenta a taxa de juro neste período, gerando a queda da demanda por produtos e escassez de crédito. Os investimentos se retraem e as pessoas param de consumir em razão do custo do crédito haver aumentado. As empresas auferem menos ganhos, perdem dinheiro com contratos futuros e tendem a vender seus produtos a preços mais baixos – o que nem sempre funciona, já que a população e empresas, já endividados, sentem a falta de dinheiro e crédito para comprá-los.

Nestes períodos os preços das ações são severamente desvalorizados, havendo fuga de capital estrangeiro e de investidores institucionais em massa do mercado, impulsionados por notícias pessimistas e resultados das empresas e indicadores econômicos ruins.

Período de Depressão - Trate-se do período mais baixo do ciclo econômico, ponto mais forte da crise macroeconômica. Alto desemprego, sobras relevantes de capacidade instalada nas fábricas e empresas, baixo consumo e baixo investimento, taxas de juros em declínio mas ainda elevadas, salários reduzidos, prejuízos frequentes, dificuldade e baixos níveis de empréstimos e financiamentos são alguns indícios de que uma depressão pode estar em curso.

Neste período os preços das ações, assim como a moeda local, continuam sendo desvalorizados, mas é ao longo desse período que os investidores institucionais e estrangeiros voltam a injetar grandes somas de capitais no mercado, apesar das notícias ainda serem pessimistas e os resultados das empresas e os indicadores econômicos de um modo geral ainda serem ruins, aproveitando a moeda desvalorizada e os preços baixos das ações, antecipando uma provável recuperação econômica (novo período de expansão).

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“Não entre no mercado com ideias preconcebidas a respeito dele. Mude seus planos conforme o mercado muda”.
Alexander Elder

 

É fundamental que o investidor identifique quando cada uma dessas fases estiver ocorrendo e compreenda bem como elas se desenvolvem, quais são os seus impactos e o que as influenciam. Momentos de inflexão econômica são períodos que podem proporcionar enormes ganhos caso o investidor consiga tomar vantagem das mudanças no cenário econômico, ao mesmo tempo em que também podem causar enormes prejuízos caso o investidor não adapte ou mude de estratégia diante deste novo cenário. 

 

O cenário macroeconômico consiste na definição de determinadas premissas que permitam projetar o comportamento futuro das principais variáveis econômicas (Demanda e Oferta, também referidas como Consumo e Produção). A sua elaboração visa orientar o processo de planejamento, análise e decisão dos investimentos e fornecê-lo um quadro prospectivo das condições que influenciam essas 2 variáveis, bem como o mercado, as empresas e os ativos, tornando o seu processo de decisão mais eficiente.

 

A premissa básica desta metodologia de análise afirma que são os dados econômicos que fundamentam as perspectivas futuras do mercado em relação a uma determinada empresa. Estas informações podem ser processadas a partir de uma visão geral da economia, do setor econômico até as informações específicas sobre a empresa (Top-Down) ou, caso já se tenha escolhido a empresa, pode-se iniciar a análise dos dados da empresa e em seguida partir para o contexto setorial e macroeconômico (Bottom-Up). Quanto melhor forem conhecidos estes aspectos e as possíveis implicações sobre a atividade da empresa melhor ela poderá ser analisada e avaliada.

Dessa forma, para alcançar retornos acima da média torna-se necessário ser capaz de compreender, além das consequências diretas de um evento, a cadeia de consequências dos eventos econômicos e políticos e alinhar seus objetivos às oportunidades geradas pelo ciclo econômico. Em outras palavras, é preciso estar certo no momento certo.

A fase de expansão econômica, por exemplo, em razão do início do processo de redução do juro e de incentivo ao crédito, tende a ser mais favorável para investimentos de renda variável, tanto em razão dos preços descontados das ações e dos fundos imobiliários quanto em razão da valorização destes durante esse período. Já na renda fixa o investidor conseguirá garantir taxas prefixadas elevadas no início e ainda aproveitar a marcação a mercado em títulos públicos e debêntures, principalmente nos de maior prazo, os quais se valorizam mais nesses períodos em decorrência da queda do juro.

 

A fase de prosperidade, pico do período de expansão econômica, é marcada pela inflação elevada e o início da alta dos juros. Os investidores mais atentos irão perceber que o ciclo econômico está se revertendo e adotarão estratégias opostas e/ou mais conservadoras. Passarão a reduzir suas exposições em ativos de risco (ações e fundos imobiliários), cujos preços e múltiplos estão sobrevalorizados, bem como em títulos de longo prazo, priorizando a liquidez em ativos pós fixados ou indexados à inflação e de curto prazo, ou mesmo com liquidez diária, de forma a se protegerem durante o subsequente período de recessão.

 

Os mais arrojados irão aumentar a diversificação em mercados de países estáveis, tal como ativos em dólar ou em outra moeda forte, abrir posições “shorteadas” ou "vendidas", que se valorizam na queda do mercado, como a compra de opções de venda (PUT) ou venda de índice de ações.

Ao longo do período de recessão, na medida que os dados econômicos enfraquecem, os juros futuros sobem e os valores dos ativos de renda variável de maneira geral caem. Em meio ao desespero do mercado durante essas fases de correção é comum  encontrar oportunidades em ações de boas empresas negociando a múltiplos baixos e elevados dividend yields, bem como fundos imobiliários oferecendo altos retornos. Já aqueles mais arrojados irão começar a encerrar suas posições vendidas.

 

E na renda fixa, pela mesma razão, o aumento do juro, os valores de mercado dos títulos de longo prazo caem e suas taxas de retorno aumentam, tanto debêntures quanto títulos do tesouro. A liquidez da carteira, por sua vez, vai ser essencial para possibilitar o aproveitamento dessas oportunidades neste período e durante o período subsequente de depressão econômica, ainda que a rentabilidade esteja inferior ao que estava durante o pico da expansão econômica.

 

No período de depressão econômica muitos investidores perdem a paciência e se desesperam com seus investimentos. Grande parte se desfaz de suas posições com enormes prejuízos. Contudo, aqueles que acompanham o mercado e o cenário econômico identificam nesses períodos oportunidades ímpares para aproveitar os preços baixos das ações e dos fundos imobiliários, bem como o alto retorno que os títulos públicos e privados estão oferecendo em razão dos juros altos, tanto os pré-fixados quanto os pós-fixados, bem como os de curto e os de longo prazo, já se preparando para uma nova roda de corte de juros num novo ciclo de expansão econômica.

 

 

​ “Os impostos transformam o cidadão em súdito, a pessoa livre em escrava e o Estado (nosso suposto servidor) em dono de nossas vidas e propriedades. Quanto maiores são os impostos e mais insidiosa a arrecadação de impostos, mais súditos e mais escravos somos do Estado.”
Arthur O. Fraser

SISTEMA ECONÔMICO

Obviamente, atingir esse resultado acima da média requer um processo contínuo de análise do contexto político e dos indicadores macroeconômicos. A macroeconomia concentra-se no estudo do comportamento agregado de uma economia, ou seja, das principais tendências da economia no que concerne principalmente à produção, à geração de renda, aos níveis de preços, ao consumo, ao emprego e ao desemprego, ao estoque de moeda, à taxa de juros, à balança de comercial, à taxa de câmbio, ao uso de recursos, ao comportamento dos preços e ao comércio exterior. Os principais objetivos da macroeconomia são: o crescimento da economia, o pleno emprego, a estabilidade de preços, o controle inflacionário e o superávit da balança comercial.

 

Um conceito fundamental à macroeconomia é o sistema econômico, ou seja, uma complexa organização que envolve todos os recursos produtivos. Esse sistema é divido em 5 mercados:

 

- Mercado de Trabalho: Avalia a existência de um tipo de mão-de-obra, determinando a taxa de salários e o nível de emprego. A oferta de mão-de-obra dá-se pelo salário e pela evolução da população economicamente ativa. E a procura de mão-de-obra ocorre pelo seu custo à empresa e do nível de produção desejada pela mesma. O Brasil apresenta historicamente um quadro de baixa produtividade do trabalhador em relação às demais grandes economias do mundo. Os principais fatores são a baixa qualificação profissional e educacional e a baixa utilização de bens de capitais pelos trabalhadores, tais como maquinário, equipamento, instalações industriais, meios de transportes eficientes etc. A taxa de desemprego afeta diretamente a economia servindo para avaliar o seu desempenho.

- Mercado de Títulos: Analisa o papel dos agentes econômicos superavitários – que gastam menos e ganham mais, podendo efetuar empréstimos – e dos agentes econômicos deficitários – que gastam mais que ganham, e que geralmente recorrem à empréstimos dos superavitários para cobrirem seus déficits, definindo assim as ofertas e as taxas e preços dos títulos. Para tal, idealiza-se um mercado no qual os agentes superavitários emprestam para os deficitários, que é o mercado de títulos. Ex.: títulos do governo, ações, debêntures, duplicatas, etc. A economia se sustenta em um dinâmico sistema de crédito, formado por poupadores e tomadores de poupança, em geral intermediado pelos bancos.

- Mercado de Divisas: Avalia a entrada e a saída de capital financeiro por meio das exportações e das importações, deduzindo a quantidade de produto exportado pela de produto importado, ou seja, da moeda — estrangeira ou nacional — que entra ou sai do país. A taxa de câmbio é a variável determinada neste mercado que possui interferência do Banco Central, que fixa ou deixa a taxa de câmbio flutuar, bem como interfere através da compra e da venda de moeda estrangeira buscando evitar grande volatilidade através de três tipos de instrumentos: pode atuar com os contratos de "swaps cambiais", com os leilões de linha e com a venda direta de dólares do mercado.

- Mercado de Bens e Serviços: Responsável pela determinação do nível de produção agregada, bem como o nível de preços. O nível geral dos preços e do agregado da produção depende da demanda agregada – consumidores, empresas, governo, setor externo – e da oferta agregada de bens e serviços. O mercado de bens e serviços define as variáveis de: nível de renda, produto nacional e de preços, consumo, poupança e investimentos agregados e exportações e importações globais. Portanto, a variação do PIB é o fator mais importante para avaliar o crescimento da economia.

- Mercado Monetário: Avalia as reservas monetárias, a poupança e a disponibilidade de moeda para regular a demanda e a oferta de moeda, bem como a taxa de juros através de operações financeiras de curto e curtíssimo prazo, ou seja, que possuem alta liquidez. O mercado monetário é um importante instrumento para que o Banco Central e as instituições financeiras consigam manter a liquidez da economia, e assim como o mercado de capitais, é utilizado como forma de captação de recursos no mercado financeiro. O Banco Central do Brasil, através do COPOM - Comitê de Políticas Monetárias realiza reuniões a cada 45 dias para definir os rumos da Taxa de Juros (Selic).

 
"O que lhe causa problemas não é aquilo que você não sabe, mas sim aquilo que você jura saber, mas que está errado".
Mark Twain

O estudo da economia atual e da aplicabilidade de políticas públicas está fundamentado na ideia de que o governo deve de forma centralizada controlar ou manipular a economia para atingir resultados desejados. Contudo, além das consequências econômicas diretas, devemos considerar as motivações políticas por trás das intervenções públicas, bem como as suas consequências de longo prazo sobre toda a sociedade.

Muitas vezes, os políticos utilizam obras públicas, políticas de renda e outros tipos de intervenções para fins eleitorais, direcionando recursos para seus eleitores ou grupos de interesse específicos. Isso contribui para uma alocação ainda mais ineficiente de recursos, onde o objetivo passa a ser a manutenção do poder político, em outras palavras, o populismo.

A intervenção governamental na economia, mesmo quando bem-intencionada muitas vezes resulta em distorções, desperdícios e restrições à liberdade, pois não são consideras as repercussões de longo prazo. Em última instância, a intervenção excessiva leva a um declínio da prosperidade e ao crescimento do autoritarismo.

De forma contrária, um ambiente de maior liberdade econômica tende a alocar os recursos de forma descentralizada e mais eficiente do que qualquer planejador central poderia fazer, além de servir como base para um crescimento econômico sustentável e de longo prazo.

Assim, basicamente, o planejamento das políticas econômicas pode ser direcionado com o enfoque na oferta ou na demanda, ou seja, na produção ou no consumo. Sob a ótica do consumo, é o aumento dos gastos das empresas, do governo e dos consumidores que fazem a economia crescer.

Dessa forma, quanto mais o governo estimular e facilitar os gastos, maior será o crescimento econômico, visto que o aumento da demanda irá estimular o aumento da produção, ainda que esse estímulo seja através do aumento dos gastos públicos e do estímulo ao crédito (endividamento) para o consumo e investimento das empresas e das famílias, o que pode resultar em inflação de preços, perda do poder aquisitivo, déficit fiscal, endividamento público excessivo e desvalorização cambial, consequências de políticas de expansão monetária através da manipulação da taxa de juros que acabam por gerar ciclos seguidos de recessões e de expansões econômicas.

Quando o governo reduz os juros e os impostos para estimular o crédito e o consumo, apesar de estimular a oferta de bens e a geração de empregos no curto prazo, essa expansão artificial da quantidade de moeda disponível reduz o poder de compra da moeda e acaba resultando em inflação e desvalorização cambial, pois é emitido uma quantidade de moeda muito acima da demanda real por moeda decorrente do crescimento econômico do período, ou seja, gera-se um aumento da demanda sem que haja um aumento da produção, resultando no aumento dos preços.

Para combater isso o governo passa a aumentar a taxa de juros e os impostos para restringir o crédito e o consumo. Apesar de reduzir a inflação, essa contração monetária além de gerar a redução do consumo, tem também como consequência o aumento do desemprego, a redução dos investimentos, bem como a redução da produção de bens e de serviços e, obviamente, da geração de renda. Em outras palavras, recessão.

Já sob ótica da produção, é o aumento da produção de bens e serviços que irá aumentar a geração de renda e, portanto, tornar possível o aumento do consumo, bem como torná-lo duradouro, visto que existe um limite para o endividamento das empresas e das famílias, a partir do qual não apenas o aumento mas a manutenção do mesmo nível de consumo torna-se impossível senão pelo aumento da geração de renda, a qual dependerá do aumento da produção.

Portanto, as políticas econômicas sob a ótica da oferta buscam facilitar a produção de bens através da redução de impostos sobre a produção, sobre o trabalho, sobre a renda e sobre o comércio exterior, da redução da burocracia e das regulações para se empreender, da criação de medidas para liberar mercados, permitindo a entrada de concorrência em vários setores da economia e a pratica de um comércio exterior mais livre e menos restrito.

Para isso, é fundamental uma política monetária que gere estabilidade monetária, o que requer que a dívida pública e o orçamento estejam controlados e em níveis aceitáveis, de forma que o governo não se utilize de expansões monetárias e emissão excessiva de dívida para se financiar, e a redução de medidas protecionistas e barreiras comerciais que prejudicam a produção de bens e serviços para atender às demandas de determinados grupos econômicos que têm poder de lobby junto ao governo.

 

"Sempre se pede aos economistas que prevejam como a economia estará em uma data futura. Porém, previsões econômicas envolvem prever o que os políticos farão com a economia — e nada é mais imprevisível que isso."
Thomas Sowell

 

Para expandir o crédito o Banco Central injeta moeda nos bancos, aumentando a base monetária, e os bancos é que decidem se irão oferecer esta moeda por meio da criação de linhas de crédito. Quase toda empresa depende dos bancos para seu capital de giro e financiamento geral.

 

Por sua vez, os bancos se ancoram nos bancos centrais, de cuja solidez depende todo o sistema. Para compensar os baixos níveis de poupança o crédito tem crescido continuamente ao longo dos anos como forma de estimular a economia, gerando uma crescente alavancagem dos bancos. Assim, um volume excessivo de empréstimos passou a se equilibrar, como uma pirâmide invertida, sobre uma quantidade muito pequena de reservas de caixa, de depósitos e de capital.

 

Existem duas modalidades de crédito no país, o crédito livre e o crédito direcionado. O crédito livre representa os empréstimos que os bancos podem fazer segundo seus próprios critérios de exigências, de tarifas e de taxa, obviamente sempre acima da taxa de juros. Já o crédito direcionado representa os empréstimos que os bancos são obrigados a fazer a juros abaixo da SELIC, principalmente os estatais (BNDES por exemplo). Logo, são empréstimos subsidiados pelo governo, concedidos em sua maior parte com base em critérios políticos, e não econômicos, para investimentos mais arriscados e com menores taxas de retorno.

 

Para isso, o Tesouro vende títulos da dívida pública para arrecadar dinheiro do mercado e injetar nos bancos estatais para expandir o crédito público, o que consequentemente além de aumentar o endividamento público gera inflação e desvalorização cambial.

 

Apesar de estimular o PIB, o emprego, a renda e o consumo no curto prazo, a manutenção dessa política de expansão monetária no longo prazo provocará o aumento generalizado nos preços e o enfraquecimento da moeda, consequentemente levando o governo a aumentar os juros para restringir o crédito, resultando numa contração econômica que reduzirá a renda, o consumo, o investimento e a produção e, consequentemente, a arrecadação fiscal e o emprego.

A crítica à política de expansão artificial do crédito como forma de incentivar o consumo é exatamente a geração de ciclos de crescimento seguidos por ciclos de recessão econômica em razão desse aumento de moeda na economia não ser decorrente do aumento da produtividade e da atividade comercial interna e externa, bem como de uma maior abertura econômica e de um menor protecionismo (menos tarifas, subsídios e burocracia), o que por sua vez evitaria que a expansão do crédito rapidamente se transformasse em inflação de preços e desvalorização cambial.

Além disso, um aumento na quantidade de dinheiro em uma economia nunca é neutro, pois os primeiros a receberem o dinheiro podem gastar seu novo dinheiro em bens e serviços a preços inalterados. À medida que o dinheiro se move de mão em mão, os preços dos bens sobem devido ao aumento da demanda, de modo que os destinatários tardios só podem comprar bens a preços elevados. E os mais severamente afetados são aqueles que não recebem nada da oferta monetária recém-criada, os mais pobres, sobre os quais incidem preços mais caros sem, contudo, haver o aumento das suas rendas, mantendo-os abaixo de seu potencial econômico.

Isso ocorre porque em um ambiente em que mais pessoas passam a consumir, porém, o nível de produção permanece estável, o resultado de uma expansão do crédito e, consequentemente, do consumo, é inflação de preços e perda do poder aquisitivo. Além disso, se um indivíduo aumenta seu endividamento, mas não aumenta sua renda, o que requer o aumento da sua produção, ele não terá como quitar essa dívida a não ser que reduza o seu consumo. Portanto, a demanda de um indivíduo é restringida por sua capacidade de gerar renda ao produzir bens e serviços.

Por fim, a inflação monetária ainda resulta em comportamentos de curto prazo ao incentivar empresas e famílias a contrair dívidas e viver além de suas possibilidades, viabilizado por taxas de juros artificialmente baixas, muitas vezes negativas após contabilizar a inflação. As pessoas também são incentivadas, muitas vezes via mercado de crédito, a realizarem más alocações de capital em investimentos em ativos de valores elevados, de baixa qualidade, de alto risco ou que geram baixos retornos, inicialmente desencadeando um boom, apenas para ser seguido por um colapso, que leva as economias a um endividamento excessivo, recessões e crises econômicas.

O crescimento econômico saudável deve ser proveniente de políticas econômicas que estimulem a oferta, ou seja, um ambiente que seja propício à produção de bens e serviços, de forma que através do investimento, do livre comércio, do aumento do emprego e da renda, haja geração de poupança, o que irá possibilitar que o consumo seja mantido no longo prazo, ao invés de ser estimulado através do estímulo artificial do crédito e do endividamento da população, das empresas e do governo como forma de aumentar a demanda.

A melhor forma de estimular a produção é através da redução da carga tributária, das barreiras comerciais, dos subsídios e dos gastos do governo, o que no longo prazo como decorrência do aumento da atividade econômica aumenta a renda e, consequentemente, a poupança, o consumo e a arrecadação de impostos.

 

Existe um limite para o endividamento, a partir do qual novas medidas de estímulo ao consumo através do crédito deixam de gerar resultados, normalmente coincidindo com períodos de recessão econômica. E quanto mais longo for esse período de expansão monetária piores serão os efeitos e a duração do período de recessão subsequente.

 
"Riqueza é quando pequenos esforços produzem grandes resultados. Pobreza é quando grandes esforços produzem pequenos resultados."

As decisões de consumo e de poupança da população são influenciadas por diversos fatores, como renda, níveis de poupança, taxa de câmbio, disponibilidade de crédito, entre outros. Ou seja, há uma relação diretamente proporcional entre a renda disponível e o consumo. Portanto, a propensão de consumo e de poupança da população varia conforme a oscilação de sua renda.

 

Ao se poupar a consequência imediata, e muitas vezes vista de forma negativa, é a redução do consumo no presente no intuito de preparar-se para o consumo no futuro. Contudo, ao se avaliar o contexto maior percebe-se que essa poupança na verdade irá alavancar os investimentos produtivos, pois os bancos captam essa poupança sobre a forma de depósitos, os quais lhes servirão como margem e lhes permitirão fornecer uma quantidade ainda maior de empréstimos para os empreendedores nos mais diversos setores econômicos, de forma que possibilitará o investimento em mão de obra, bens de capital, construção civil, expansão fabril, estoques e capital e giro para negócios. Portanto, a poupança é direcionada para o financiamento de atividades produtivas, transformando assim poupança em bens de capital, produtos e serviços.

Além disso, a poupança também possibilitará o aumento da eficiência produtiva, o que por sua vez possibilitará uma maior geração de renda e, consequentemente, uma maior geração de poupança, que por sua vez possibilitará maiores de investimentos para aumentar a eficiência e a produção, seguindo um ciclo ascendente de desenvolvimento econômico e, consequentemente, social. Outro fator muito importante é que um nível adequado de poupança e de consumo, além de possibilitar o investimento, mantém o endividamento em níveis aceitáveis e controláveis.

Contudo, para que essa espiral de crescimento se perpetue é fundamental, além da geração da renda e da poupança interna, uma economia respaldada por políticas econômicas que propiciem a existência de uma unidade monetária estável. Em outras palavras, sem que haja expansão monetária excessiva (inflação) e políticas de desvalorização cambial.

Já por outro lado, baixos níveis de poupança obrigam o aumento do endividamento não apenas para o investimento, mas para o próprio consumo. E ao tentar compensar os baixos níveis de poupança através da expansão do crédito por meio da expansão monetária o governo acaba gerando inflação de preços, desvalorização cambial, juros futuros altos e ciclos recorrentes de recessão e expansão econômica.

Para a geração de renda é necessário que haja produção de bens e serviços, a qual por sua vez necessita de fácil acesso a bens de capital e insumos, ainda que importados, visto que quanto maior a quantidade de bens de capital utilizados por um trabalhador, maior será sua produtividade e consequentemente o seu salário.

 

E o que possibilita esse investimento em capital físico é a capacidade financeira poupada e a ausência de subsídios, burocracias e tributação excessivas e barreiras às importações impostas pelo governo como forma de beneficiar um determinado setor e seus sindicatos em detrimento da economia de todo o país.

 

"Dado que a prosperidade de uma economia e o aumento dos níveis salariais dependem de um aumento contínuo do capital investido, uma das principais tarefas de um bom governo é remover todos os obstáculos que dificultem a acumulação de capital e o investimento deste capital."

Ludwig Von Mises

Da mesma forma, a propensão de poupar também varia de acordo com a oscilação da renda da população. Em países mais pobres a propensão de poupar é menor do que a propensão marginal a consumir, pois a população tende a gastar quase toda sua renda em bens de consumo.

 

Em último caso, em razão do baixo nível de renda e de produção e do consequente baixo nível de poupança, para consumir a maior parte da população é obrigada a recorrer ao crédito, aumentando ainda mais o seu endividamento e prejudicando a formação de poupança.

Essas variáveis também irão afetar os investimentos, tanto das pessoas como das empresas e do governo. O investimento é o acréscimo ao estoque de capital, ou seja, a compra de novas máquinas, computadores ou o aumento da capacidade instalada das fábricas, bem como investimentos em infraestrutura por parte do governo, como por exemplo, construção de estradas e hidrelétricas. Leva ao aumento da demanda e da oferta de produtos e pode ser visto de duas formas: a curto prazo ou a longo prazo.

A curto prazo, os investimentos fazem parte da demanda agregada, pois o empresário necessita fazer gastos necessários para a ampliação de sua empresa. Ele interfere na demanda ao comprar novas máquinas, por exemplo. A longo prazo, os investimentos podem ser vistos como elemento da oferta agregada, pois ao concluir as obras ou compras de novas máquinas, a empresa estará apta para aumentar a produção.

O investimento é determinado por duas variáveis: a taxa de rentabilidade do investimento e a taxa de juros. A taxa de rentabilidade é importante, pois um empresário não irá fazer investimentos que não sejam rentáveis. Já a taxa de juros determina o custo do dinheiro e, portanto, se o custo de contrair empréstimos for maior do que a rentabilidade esperada, então o investimento trará prejuízo à empresa. Logo, período de juros baixos tendem a incentivar os investimentos e, períodos de juros altos tendem a desincentivá-los.

Contudo, uma moeda que continuamente perde poder de compra prejudica os investimentos de longo prazo, pois é impossível fazer investimentos produtivos se você não tem a mínima ideia do poder de compra futuro da moeda, além de reduzir o poder de compra e a renda.

 

Isso por sua vez prejudica a poupança, a qual passa ser direcionada para o consumo imediato e para os gastos ao invés de ser utilizada em investimentos produtivos. Logo, o crescimento econômico advém da poupança e do investimento na produção, o que depende de uma moeda forte e uma economia não restringida por barreiras governamentais, que permita que empresas adquiram do exterior bens de capitais a preços acessíveis que aumentarão a sua produtividade e, consequentemente a renda de todos.

Além disso, quando o país exporta mercadorias ele vende mercadorias para o exterior e recebe com divisas, que posteriormente são trocadas por Reais. Já quando importa mercadorias ele compra de fora e, normalmente, paga com dólares. Assim, o nível do comércio exterior também interfere na demanda e oferta da economia, bem como na taxa de câmbio.

 

A busca de um superávit comercial, exportar mais do que importar, através da desvalorização cambial e de protecionismos tais como elevadas alíquotas de importação, subsídios, burocracias dentre outros, não gera crescimento econômico, pelo contrário, principalmente quando a maior parte dos produtos exportados possuem pouco valor agregado como no caso do Brasil.

A desvalorização da moeda, significa, por definição, uma moeda que perdeu poder de compra. Significa preços mais altos e renda menor para a população, o que como resultado reduzirá a demanda tanto por bens importados como por aqueles fabricados no país, afetando toda a cadeia produtiva ao invés de estimular o consumo interno e impulsionar as indústrias nacionais.

 

A restrição às importações reduz o número dos produtos disponíveis e gera inflação, pois aumenta os seus preços, o que juntamente com a desvalorização cambial prejudica a poupança e o consumo em troca de uma reserva de mercado para determinados grupos empresariais como forma de atenuar a baixa competitividade de suas empresas e indústrias e gerar superávit na balança comercial.

A incerteza quanto aos custos e receitas futuras causadas pela desvalorização cambial e pela inflação desestimulam as empresas a fazerem investimentos produtivos. A história nos mostra que nenhum país que tem moeda fraca e inflação alta produz bens de qualidade que são altamente demandados pelo comércio mundial e apresenta um bom padrão de vida da população, a qual tem sua renda reduzida e é obrigada a pagar mais caro tanto pelos produtos nacionais quanto pelos importados. Por isso, o desemprego é mais baixo e a qualidade de vida é melhor nos países que praticam o livre comércio. Como disse Mises, “o crescimento econômico ocorre quando os clientes podem comprar mais bens e serviços do que antes”.

 

"Não há justificativa para a crença de que, enquanto o poder é conferido pelo processo democrático, ele não pode ser arbitrário. Não é a fonte, mas a limitação do poder que impede que ele seja arbitrário. Uma vez que amplos poderes coercitivos são dados às agências governamentais, esses poderes não podem ser efetivamente controlados. O principal mal, portanto, é o governo ilimitado, pois nenhum indivíduo é qualificado para exercer poder ilimitado."

Friedrich von Hayek

Desde os primórdios da civilização até os dias atuais, burocratas e políticos ainda insistem na ideia arrogante de que podem moldar o mundo de acordo com suas vontades e pressupostos. As históricas tentativas dos Governos de implementar um planejamento econômico centralizado sempre acabam gerando distorções que prejudicam não só o desenvolvimento econômico como também o social.

E as pessoas, por sua vez, frequentemente pressupõem que grandes problemas sociais só podem ser resolvidos por um grupo específico e predeterminado de pessoas, geralmente políticos e burocratas, os quais magicamente possuiriam a chave para a solução.

Trata-se de uma fé de que as pessoas investidas de poder não irão abusar deste poder, de que burocratas nomeados por políticos possuem respostas melhores do que milhões de indivíduos interagindo voluntariamente em busca de soluções próprias, colocando seus próprios recursos e sua própria reputação em jogo, de que apenas aquelas "soluções" escritas em estatutos e regulamentações representam soluções verdadeiras e factíveis.

 

Mas a verdade é que soluções para problemas sociais complexos requerem o maior número possível de mentes criativas interagindo voluntariamente entre si para serem resolvidos, sendo o papel do Governo proporcionar cada vez mais um ambiente que seja propício à isso.

​As intervenções estatais na economia, por via de regra, são na grande maioria das vezes impulsionadas por interesses políticos e de grupos de pressão, que buscam obter benefícios à custa da eficiência econômica e do bem-estar geral da sociedade.

Além disso, uma intervenção inicial, supostamente destinada a corrigir uma suposta falha de mercado, frequentemente cria novos problemas que, por sua vez, demandam mais intervenções. Este ciclo vicioso leva a uma expansão contínua da intervenção estatal, resultando em um controle cada vez maior do governo e dos seus grupos de interesse sobre a economia, reduzindo a liberdade econômica e o bem-estar dos indivíduos.

Por outro lado, de maneira geral a desregulamentação e abertura dos mercados para novos entrantes são essenciais para promover a eficiência econômica, o investimento e a inovação. Ao reduzir a intervenção estatal, os recursos podem ser alocados de maneira mais eficiente, e as empresas podem competir em condições mais equitativas, beneficiando os consumidores com melhores serviços e preços mais baixos.

Como exemplo disso, podemos citar a abertura do setor de telecomunicações no Brasil nos anos 90, que trouxe mais dinamismo, crescimento e competitividade para o mercado e possibilitou a inclusão digital e a melhoria da quantidade e da qualidade dos serviços oferecidos. Lembrando que esse processo fora realizado sem a necessidade de se abrir mão do poder de fiscalização e de regulação do Estado.

Mas apesar disso, ainda existe uma persistente tendência das pessoas verem somente os efeitos imediatos de determinada política ou seus efeitos apenas sobre um grupo especial, deixando de investigar quais serão os efeitos dessa política a longo prazo, não só sobre esse determinado grupo, como sobre todos os demais. Como disse Frédéric Bastiat, os economistas bons são aqueles que sabem analisar tanto aquilo que se vê quanto aquilo que não se vê. Portanto, para compreender como funciona um sistema econômico, temos de levar em conta não só o que pode ser visto, mas também o que não pode ser diretamente percebido.

Na grande maioria das nações o intervencionismo é a política que rege o país. Já não existem partidos políticos autênticos, no sentido clássico, mas tão somente políticos que se vendem e passam a representar os grupos de interesse, buscando beneficiar a estes com privilégios especiais. Segundo as concepções intervencionistas, é dever do governo apoiar, subsidiar e conceder privilégios a esses grupos de interesse, obviamente, não extensíveis aos demais.

O governo ao impor tarifas que elevam os preços internos das mercadorias acima dos preços em que são cotadas no mercado mundial, juntamente com regulamentações abusivas e restritivas para restringir as importações e impedir novos entrantes, procura isolar o mercado interno do mercado mundial, criando uma reserva de mercado contra a concorrência e ainda possibilita que os produtores nacionais formem cartéis.

Portanto, como esperar que os países, principalmente os subdesenvolvidos como o Brasil, promovam a industrialização, atinjam melhores condições econômicas, a elevação do padrão de vida e padrões salariais mais elevados se adotam uma prática intervencionista e protecionista que gera exatamente o efeito oposto?

O que as políticas desses países fazem efetivamente, quando criam obstáculos ao ingresso do capital estrangeiro e ao empreendedorismo, é impedir ou retardar a produção, a geração de renda e a acumulação interna de capital. O resultado final, extremamente negativo, portanto, é uma acentuada perda de confiança e da qualidade de vida.

Apesar de gerarem resultados localizados de curto prazo, estímulos monetários e fiscais, bem como medidas protecionistas, não alcançam um alto crescimento econômico, pleno emprego e um nível de preços estável no longo prazo, pois a dívida pública gerada e a necessidade de uma carga tributária cada vez mais elevada tornam-se um obstáculo crescente para a economia, sendo essas políticas econômicas as principais causa da inflação, do desemprego e da recessão.

"Há uma tendência inerente a todo poder governamental em não reconhecer empecilhos às suas operações e em ampliar a esfera de seu domínio o máximo possível.  Controlar tudo, não deixar espaço para que nada aconteça espontaneamente fora do âmbito de interferência das autoridades. Essa tende a ser a meta perseguida incansavelmente por todos os governantes."

Ludwig von Mises

 

Portanto, as tarifas de importação e medidas de desvalorização do câmbio são exatamente meios de impedir a importação de bens de capital, o investimento e a industrialização do país. A viabilidade do investimento externo nestes países sob essas circunstâncias só se torna possível mediante intervenção no câmbio, desvalorizando suas moedas, ou através da concessão de subsídios extremamente favoráveis para atrair investimentos externos.

E a triste consequência desse sistema político corporativista é a deterioração da liberdade e a decadência econômica e social, além da geração de um constante aumento dos gastos públicos e da carga tributária, salvo é claro, para esses grupos de interesse beneficiados por flexibilizações e ajuda estatal.

O intervencionismo significa que o governo não somente fracassa em proteger e incentivar o funcionamento harmonioso da economia de mercado, como também interfere em vários fenômenos de mercado, como nos preços, nos padrões salariais, nas taxas de juro, de câmbio e nos investimentos e nos lucros. E a popular ideia de que a intervenção governamental é solução para problemas econômicos dá margem, em todos os países, a circunstâncias no mínimo extremamente insatisfatórias que acabam por prejudicar a economia como um todo, salvo para os grupos de interesse beneficiados pelo Governo.

 

Dado que a tendência do governo é se expandir, é melhor nunca permitir que ele adquira uma participação majoritária na vida econômica e cultural da sociedade, pois assim que se permite que o estado comece a gerenciar um aspecto da economia e da sociedade, criam-se as condições que irão, no fim, fazer com que ele controle todo aquele setor, o que pode ser visto até mesmo em alguns dos setores da economia que foram 'privatizados' e passaram a ser controlados por agências reguladoras. E, caso a intervenção não seja detida a tempo, esses Governos acabarão por implantar regimes cada vez mais autoritários. Como disse Mises, esta é a diferença fundamental entre a liberdade e a servidão.

 

Enquanto o certo seriam as políticas governamentais procurarem beneficiar a todos no longo prazo através do incentivo à liberdade de empreender e de negociar, visando um crescimento econômico e social sustentável, tem-se um sistema voltado a intervir na economia através de políticas que beneficiam apenas a determinados grupos de interesse que possuem poder de lobby, obviamente, a custa dos demais, seja através de políticas inflacionistas e/ou intervencionistas.

As medidas intervencionistas do governo inerentemente geram resultados econômicos instáveis e prejudiciais porque falham em atingir seu propósito ostensivo e têm efeitos colaterais indesejáveis. E diante de um efeito colateral gerado pela medida, o governo cria intervenções corretivas, muitas vezes falsamente chamadas de reformas, que por sua vez falham e/ou geram mais efeitos colaterais, os quais confrontam o governo a novamente utilizar mais medidas intervencionistas, formando um processo espiral que cada vez prejudica mais a produção, o investimento e a geração de renda, reprimindo cada vez mais o setor produtivo e o pleno desenvolvimento do país.

Reformas que são realmente eficientes são aquelas que incidem sobre as intervenções existentes, reduzindo-as ou abolindo-as, culminando na redução dos abusos e excessos do Estado e no aumento da liberdade para empreender, produzir e trabalhar, desimpedindo o setor produtivo. Fica claro que a liberdade proveniente da remoção dos aparatos legais irrazoáveis e da atuação excessiva do Estado é fundamental para o desenvolvimento econômico e, consequentemente, social.

A liberdade para produzir e comercializar, bem como a descentralização do planejamento econômico, são as bases para que a ação livre e espontânea das pessoas gere soluções criativas e inovadoras que conduzam ao progresso e à prosperidade.

O excesso de intervencionismo estatal prejudica o planejamento econômico, o cálculo econômico e a coordenação econômica, os quais dependem diretamente do nível de liberdade econômica e da estabilidade política e econômica, especialmente da estabilidade do câmbio e da emissão de moeda e de dívida pública, o que prejudica a cooperação de todos que participam do sistema econômico, tanto como produtores quanto como consumidores.

"A bolsa sobe pelas escadas e desce pelo elevador."

​O governo é o maior agente econômico e, portanto, o mais importante impulsionador da demanda agregada, bem como o emissor de moeda. O governo pode acabar com as altas taxas de inflação de preços de hoje a qualquer momento, eliminando os gastos desnecessários que causam o déficit público, que é o mesmo que imprimir dinheiro.

Os governos não podem, via aumento de impostos, eliminar a inflação de preços que criaram com o inchaço de gastos públicos. Só podem enfraquecer ainda mais o setor produtivo privado e piorar a situação econômica e as perspectivas para a inflação e para o câmbio por meio de impostos, endividamento e criação de dinheiro.

É preciso entender que o Governo é a principal causa da inflação. Só o governo pode fazer com que todos os preços subam em uníssono e continuem a aumentar. E consegue isso diluindo o poder de compra da moeda ao artificialmente estimular a emissão do crédito acima do que seria exigido, através da redução do juro, e ao emitir dívida em excesso por gastar mais do que arrecada.

Assim, apenas uma medida será capaz de corrigir de vez os problemas da inflação e do baixo crescimento, cortes de gastos e austeridade fiscal, medidas que possibilitam a redução da carga tributária e possibilitam o crescimento econômico.

Portanto, medidas do Governo para deliberadamente gastar mais do que arrecada, desvalorizar a moeda do país, reduzir artificialmente as taxas de juros e adotar políticas de crédito farto e barato inevitavelmente se degeneram em aumento de preços (inflação), desvalorização cambial, juros futuros altos, desarranjos nas cadeias produtivas e recessões e crises econômicas.

A história mostra que quando essas políticas são intensas e duradouras, as consequências em geral são nefastas, criando ciclos econômicos que terminam em recessão e, em última instância, crises agudas como a Grande Depressão de 1929 e a crise financeira global de 2008, períodos marcados pelo colapso do consumo, pela elevação do desemprego e de falências, bem como pela massiva desalavancagem financeira e desinvestimentos sistêmicos.

Praticamente todas as crises de hiperinflação ao longo da história resultaram da falta e/ou da remoção dos limites para a emissão de moeda e para o endividamento público, quando Governos realizaram emissões excessivas de moeda como forma de financiarem suas insustentáveis e crescentes dívidas, as quais foram geradas pelos seus gastos elevados e pelos seus déficits excessivos, tal como ocorreu no Zimbábue em 2010, na Argentina década de 90 e vem ocorrendo na Venezuela desde 2018.

A demanda e a aceitação da moeda de um país depende diretamente do seu poder de compra, ou seja, da estabilidade desde. Obviamente, um cenário de inflação alta e de desvalorização cambial estimula a substituição da moeda local, inflada, de baixo valor e de baixa demanda, por moedas estrangeiras mais fortes e com mais credibilidade no intuito de preservar o valor da renda e da riqueza acumulada.

Isso também dificulta e encarece futuras emissões de dívida por parte do Governo, obrigando-o a elevar o juro dos títulos, ou mesmo, a emitir dívida em moeda estrangeira, sobre a qual o Governo não tem o controle da taxa de conversão. Por fim, emitir mais moeda irá apenas piorar a situação, chegando-se num cenário de hiperinflação em que os credores internacionais suspendem os empréstimos e a compra da dívida desse país, momento em que o monopólio desse Governo sobre a sua moeda deixa de existir, resultando muitas vezes na declaração de moratória (calote da dívida), cujas consequências econômicas são gravíssimas.

E de fato, estudos estatísticos mostram uma forte correlação entre elevado endividamento público, calote da dívida soberana e taxas de inflação acima de 20%. Ao mesmo tempo, desde o século 14 todos os países que colocaram em prática medidas para limitar a emissão de moeda e os gastos públicos, bem como para tornar seus quadros fiscais mais sólidos, conseguiram não apenas evitar a moratória, mas também recuperar suas economias e suas finanças públicas.

Portanto, apesar de possuir o monopólio sobre a emissão de moeda e, teoricamente, não possuir limitações orçamentárias, pois o Tesouro pode, teoricamente, sempre emitir mais divida na moeda local para cobrir o déficit, o Governo deve ser obrigado à respeitar as restrições inflacionárias. Ou seja, visto que o produto interno bruto e os recursos na economia são finitos, é responsabilidade do Governo respeitar e preservar os recursos reais do país e o valor destes, bem como a capacidade de geração de riqueza do setor privado.

Assim, é obrigação de todo Governo trabalhar em prol da facilitação da geração de riqueza, de forma a torná-la cada vez mais abundante, reduzindo assim a escassez das necessidades da população e das empresas, sem contudo gerar neste processo a escassez de outras necessidades, ao impedir ou prejudicar a geração de riqueza para a maioria através de medidas protecionistas que beneficiam a poucos.

Contudo, o tradicional sistema econômico é uma mistura de intervencionismo, protecionismo e de alguma liberdade empreendedorial. Mescla bancos centrais em conluio com o sistema bancário inflacionando a moeda e estimulando o endividamento, ao ponto de gerar um bizarro arranjo de taxas de juros negativas, governos criando elevadas tarifas de importação, barreiras comerciais e regulações abusivas no intuito de criar reservas de mercado para seletos grupos econômicos, as quais prejudicam, ou mesmo, impedem o empreendedorismo, resultam em concentração de renda, em um baixo crescimento econômico e na pobreza social, ao mesmo tempo em que concedem subsídios e isenções fiscais para proteger seus empresários favoritos, e tudo isso gerando bolhas em praticamente todos os ativos e ciclos de expansões e recessões econômicas. No fim, basicamente se tem um país regulamentado para a concentração da renda e para a pobreza.

 

“A alavancagem financeira é a vantagem que os ricos têm sobre os pobres e a classe média”.

Ludwing Von Mises

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