A Importância das Notícias Para o Mercado Financeiro

Operar no mercado significa expor seu capital ao risco. A partir do momento em que se decide fazer isso as notícias não serão apenas mais uma fonte de entretenimento, elas passarão a afetar diretamente seus interesses e estratégias no mercado.
Desde criança somos alvejados por notícias através de todos os meios de comunicação. Vivemos na era da informação e é através desse mecanismo que a massa é manipulada e adestrada a determinados comportamentos.
A mente humana tende a estar aberta para sugestões, sempre aceitando as notícias como a verdade. São poucos os que possuem a audácia e o senso crítico para questioná-las. De uma maneira geral, os fatos ocorridos no mundo são coletados e apresentados num formato sensacionalista e de fácil assimilação com o objetivo de vender revistas e jornais e, consequentemente, vender seus anúncios, ao invés de realmente informar e instruir.
“O fato da maioria das pessoas discordarem do seu ponto de vista não faz com que você esteja nem errado nem certo. Você está certo porque os fatos e o seu raciocínio estão certos”.
Benjamin Grahan
O noticiário da mídia especializada costuma ser fonte de grande frustração. Os novatos tendem a tomar posicionamentos baseados nos julgamentos que fazem em cima dessas notícias. Eles entendem que as notícias movimentam o mercado e tentam a todo custo estarem bem informados. Sim, é verdade que as notícias possuem um impacto no mercado. Mas existem alguns fatos importantes sobre isso.
Ao tentar interpretar o efeito de notícias ou de indicadores econômicos no contexto geral do mercado devemos nos perguntar de que forma os investidores institucionais vão se comportar diante desses, se serão benéficos ou prejudiciais à nossa estratégia e, principalmente, como iremos tomar vantagem destes novos fatores. Muitas vezes tais acontecimentos mostram oportunidades no mercado exatamente no sentido oposto ao que é esperado ou ao que seria previsível.
Notícias e fatos relevantes ruins podem criar boas oportunidades de compra em ações de empresas que vêm apresentando bons desempenhos ao longo do tempo. Da mesma forma, o mercado pode reagir de maneira exagerada diante de acontecimentos favoráveis, hipervalorizando as ações de determinada empresa, por exemplo. O que pode ser um momento oportuno para se desfazer desse ativo.
A reação do mercado é algo muito mais complexo de antever. O mercado não segue uma lógica linear, e isso é algo que um investidor que não for muito teimoso vai logo perceber. Um fato que julgamos positivo pode resultar numa forte queda dos preços, enquanto algo que julgamos negativo pode resultar numa forte alta nos preços. Ficamos confusos e buscando uma explicação para a falta de nexo entre causa e efeito no mercado.
“Com o tempo percebi que a melhor dica, o melhor corretor e o melhor analista é o próprio mercado”.
Jesse Livermore
É natural pensar que o mercado sobe com boas notícias e cai com más notícias, entretanto, não é bem assim que funciona. Para o mercado mover-se depende da ação dos investidores institucionais. As notícias influenciam o comportamento destes, mas não são o motivo pelo qual o mercado sobe ou cai.
A razão para que isso ocorra é óbvia, o mercado sobe porque os investidores institucionais estão comprando mais do que vendendo e cai porque estão vendendo mais do que comprando.
Enquanto a maioria dos comentaristas financeiros explica a atividade do mercado pelos eventos correntes, raramente existe correlação entre a notícia e o movimento dos preços. Na maioria dos dias temos uma abundância de boas e más notícias, que são normalmente seletivamente investigadas na busca de uma explicação “plausível” para o movimento do mercado.
Para se ter uma ideia, no final de 2007 a expectativa para o Ibovespa era que fechasse ano de 2008 em 70.000 pontos, o que ocorreu, no entanto, foi que fechou o ano em torno dos 39.000, exatamente o oposto do que a grande maioria previu e esperava que acontecesse.

"A diferença entre a literatura e o jornalismo é que o jornalismo é ilegível e a literatura não é lida".
Oscar Wilde
Na melhor das possibilidades as notícias são o relato tardio do que o mercado já assimilou e reagiu, sendo novidade apenas para aqueles que desconhecem a tendência do mercado. Há muito tempo fora reconhecido por investidores experientes a futilidade de se confiar na habilidade de alguém em interpretar o valor de qualquer notícia em termos direção do mercado, a qual pode ser identificada independe de qualquer notícia.
É bem provável que a massa, por considerar as notícias como a causa das oscilações do mercado, deva obter um melhor resultado jogando num cassino do que confiando na sua habilidade para interpretar as notícias e adivinhar a direção do mercado. Depois de algum tempo tentando lucrar à base de notícias, "lógica", "bom senso" e algumas dicas é inevitável que esses iniciantes se sintam frustrados. A sensação é de impotência frente à inconsistência dos resultados.
O que importa não é a notícia, mas a importância que o mercado dá ou aparenta dar a ela. Quando o mercado está em alta a maneira que reage a uma notícia é frequentemente diferente da maneira que reagiria se estivesse em baixa. A psicologia do mercado nos informa mais do que qualquer notícia, especialmente quando ele reage da maneira oposta ao que normalmente seria esperado. Contudo, pensar de forma diferente não quer dizer que o investidor deve ser do contra. Ele deve ser independente e assumir suas próprias decisões não delegando-as para terceiros.
Outra questão importante é que muitas vezes as notícias que realmente importam, enquanto importam, ficam distantes do público, dado a incapacidade da massa em analisar e interpretar mudanças nos fundamentos ou em razão da falta de tempo hábil para que tomem proveito dessas notícias. Isso explica em parte porque o mercado não segue uma lógica linear de causa e efeito.
O mercado responde e precifica uma série de informações que ainda são desconhecidas da maioria do público, mas não de todo o público. Isso faz com que os movimentos, além de ocorrem muito rapidamente, pareçam sem sentido, pois não correspondem ao conhecimento aceito e atual sobre os fatos. O que parece sem sentido agora pode ser explicado por uma informação que está ainda para chegar ao nosso conhecimento. Mas, quando ela se torna conhecida, muitas vezes já será tarde de mais para tomarmos proveito, pois o mercado já haverá reagido muito antes.
“O único modo para ver a floresta claramente é tomar uma posição acima das árvores circundantes”.
Jesse Livermore
A massa desinformada tende a entrar no mercado no momento em que uma tendência de alta está próxima de se reverter, bem próximo de quando os preços começam a cair. Isso porque psicológico e emocionalmente essas pessoas possuem pouca tolerância ao risco, previamente necessitando de constante reconforto e de alguma garantia de segurança para que então consigam realizar qualquer operação, ou seja, um histórico de alta dos preços.
Como resultado comprarão um topo de mercado convencidos de que estão diante de uma boa oportunidade e de que os preços continuarão a subir. E como se não bastasse, ainda buscarão quaisquer informações que julguem racionais para que possam justificar porque mantém posições perdedoras enquanto os preços caem e seus prejuízos aumentam, já que o que veem são boas estimativas e um histórico de boas notícias nos noticiários, jornais e relatórios de analistas.
Da mesma maneira, um histórico de queda no mercado intimida e inibe a participação da massa, pois num cenário econômico desfavorável não encontram conforto e segurança nas informações que veem e nas notícias que leem. De forma que mesmo quando diante de preços atraentes não encontram justificativas para comprar, pois torna-se difícil estabelecer uma correspondência entre a notícia e o comportamento do mercado.
"O que importa não é o que acontece, mas como você reage".
Bruce Lee
Na realidade essas pessoas não têm a menor ideia do que estão fazendo e onde estão se metendo. Entram no mercado com uma grande expectativa e uma baixa tolerância ao fracasso, imaginando que os demais investidores estão fazendo o mesmo e ganhando dinheiro. Mas ao contrário, os investidores institucionais estão fazendo lucro na ponta vendida.
O mercado nada mais é do que esperança com relação ao futuro. Os ativos são precificados em função da expectativa futura de resultados, sejam eles bons ou ruins. Ou seja, no início de uma tendência de alta, em função de melhores fundamentos e resultados das empresas, o mercado enxerga um futuro melhor e começa a reagir, independente das notícias pessimistas dos jornais.
As boas notícias só começam a aparecer quando o mercado já subiu e sua tendência de alta está se aproximando de seu topo, e ao atingi-lo, inicia-se um movimento de queda, enquanto que os jornais divulgam boas notícias de maneira eufórica, o que induz à massa entrar no mercado num topo de tendência.
O mercado faz seu topo muito antes do pico das boas notícias. Ele realmente nos informa antecipadamente de possíveis mudanças no contexto econômico antes mesmo das notícias saírem. Ou seja, o mercado é essencialmente a própria notícia.

“A inteligência de um homem é inversamente proporcional a sua capacidade de acreditar em boatos”.
Goethe
Opiniões de nada valem a menos que o mercado aja de acordo com o que é afirmado. Investidores e corretores tomam decisões em momentos errados por seguirem as notícias mais que os sinais do mercado. Suas escolhas são equivocadas e dispendiosas, trazendo perdas e frustração. Isso os deixam perplexos e incapazes de ver o que os investidores institucionais estão fazendo no mercado.
As notícias são fundamentais para que esses grupos executem sua estratégia, atuando de forma mais efetiva sobre os preços dos ativos e mascarando a sua manipulação. Induzem a massa mal informada e iludida ao erro, a fazerem exatamente o oposto do que os grandes fundos e bancos estão fazendo. A massa vende enquanto eles compram e compra quando eles decidem que chegou a hora de vender. É da natureza do ser humano querer se enganar e também querer enganar aos outros.
A massa diante do resultado frustrante de suas operações externaliza a sua responsabilidade pelos próprios erros cometidos. Coloca a culpa pelo seu fracasso na situação econômica, nas notícias ou no governo. Diz que o mercado financeiro é um jogo de azar e que é pura manipulação.
O pior é que está afirmação de certo modo está certa, pois seguindo “estratégias perdedoras” terão muito azar e pouca sorte. Na maioria das vezes dizer que o mercado é manipulado é apenas uma desculpa para seus próprios erros. O importante é saber se é o mercado que é manipulado ou se é você quem está sendo manipulado, pois se você consecutivamente compra nos topos e vende nos fundos é você quem está sendo manipulado a perder o seu dinheiro para os outros.
“A Notícia não é importante. É como o mercado reage à notícia que é importante”.
Jesse Livermore
O investidor tem que desenvolver sua capacidade de análise e interpretação do mercado e não se influenciar pelas massas. Para os que acompanham os indicadores econômicos, os fundamentos das empresas e a tendência atual do mercado, as notícias são de pouco ou nenhum valor para que obtenham ganhos no mercado, pois são escritas para tolos, e na maioria das vezes por tolos.
De uma maneira geral as notícias confundem mais do que orientam. Criam pânico e euforia fora de hora, provocando vendas no momento errado ou esperanças que encorajam compras também em momentos errados. E como dito anteriormente, a razão porque as notícias têm pouca relação com os movimentos dos preços é simplesmente o fato de que o mercado se movimenta em relação às notícias de amanhã, pela expectativa futura sobre o desempenho dos ativos. De maneira que as notícias de hoje já foram precificadas e, portanto, já prescreveram.
Quando o mercado sobe diante de notícias ruins temos uma indicação de que as coisas estão melhorando, possivelmente que o pior já passou. É o descompasso entre o relato da notícia e a reação do mercado que permite que os investidores institucionais obtenham tanto sucesso no mercado. Utilizam a super confiança que o público coloca sobre as notícias do passado como um orientador para seus procedimentos e estratégias no presente. Quando a notícia de que as ações se valorizaram se espalha, as massas começam a comprar tarde demais, quando os preços já estão altos e o risco de queda aumenta à medida que os preços aumentam.
Assim, as notícias são muito importantes. São tão importantes que nós, na maioria das vezes, não temos acesso a elas quando elas realmente importam. Já as massas são desorganizadas e desinformadas. Quando querem obter informações sobre o mercado o fazem nos jornais e na televisão, ao invés de obtê-las diretamente do mercado, o qual indicará se ações estão sendo acumuladas ou distribuídas pelos investidores institucionais em quantidades significativas, informação que nunca será encontrada na primeira página do seu jornal favorito.
Dessa forma, quando o investidor adota uma postura mais objetiva e realista de encarar as notícias, bem como uma maneira coerente de analisar o mercado, suas operações e seus investimentos terão mais chances de sucesso e, muito provavelmente, maiores retornos do que os obtidos pela massa desinformada, a qual é levada de um lado para o outro, sem saber ao certo para onde está indo, guiada por manchetes de jornais, por gurus de fóruns ou através de rumores e dicas.
“As notícias são o presente, mas o mercado se movimenta sobre o futuro”.