Onde Investir? Eis a Questão.

Os resultados dos investimentos que fazemos, assim como os resultados que alcançamos nas nossas vidas, são decorrentes das escolhas que fazemos e do risco que estamos dispostos a correr. Não se trata apenas de quem tem mais dinheiro para investir, ou de quem teve o privilégio de ter nascido num berço de ouro, pois nossas escolhas e suas consequências é que irão definir os desempenhos dos nossos investimentos.
Para determinar em que mercado investir e, dentro deste, que ativos escolher, é necessário antes de tudo definir o seu perfil como investidor. Uma vez que o investidor defina o seu perfil de risco e seus objetivos poderá se informar sobre os investimentos disponíveis no mercado e definir quais são os mais adequados a ele. Investir é expor um capital ao risco. Todos os que investem devem fazê-lo de forma consciente, estando preparados para que eventuais perdas não provoquem grandes danos.
Dificilmente em algum momento poderemos afirmar o que o mercado fará, mas poderemos determinar o que ele provavelmente fará a partir de uma série acontecimentos e fundamentos. Essa perspectiva lhe dará a liberdade para agir em função da situação ao invés de hesitar e ter esperança de que o mercado faça o que você quer. Como disse Charlie Munger, "reconheça a realidade mesmo quando você não gostar dela – especialmente quando você não gostar dela."
Isso quer dizer que a partir de nossas expectativas escolheremos a melhor estratégia para ganhar dinheiro e que seja compatível com nosso perfil de investidor. Tal estratégia deve estar de acordo com o quanto de capital podemos imobilizar no investimento, ao risco que estamos dispostos a expô-lo, à rentabilidade que esperamos e, principalmente, deve ser compatível com a nossa disponibilidade de tempo para acompanhar o investimento.
Não adianta se iludir com um objetivo de rentabilidade de 100% num mês, ou mesmo num dia, operando com opções ou em margem, se você não está disposto ao risco de perder grande parte do seu capital investido ou até mesmo poder ficar devendo. E ainda que você esteja disposto a assumir tal risco, caso não disponha do tempo necessário para acompanhar as suas operações, muitas vezes em tempo real, estará simplesmente apostando num cassino, à mercê da oscilação dos preços. E quem faz isso normalmente não sobrevive no mercado por muito tempo.
Portanto, o objetivo é investir com responsabilidade e embasamento, sempre de acordo com o seu perfil e a sua disponibilidade de tempo. Ao invés de se iludir com o que é impossível, use seu bom senso para se convencer que só existe um caminho para sobreviver no mercado: Trabalho duro e estudo. Como também disse Charlie Munger, “desenvolva um hábito autodidata vitalício através de uma leitura voraz, cultive a curiosidade e se esforce para se tornar um pouco mais sábio todos os dias. Vá para a cama mais inteligente do que quando você acordou."
“Simplicidade e disciplina andam de mãos dadas. Para ser um investidor bem sucedido, escolha um pequeno número de ativos, selecione poucas ferramentas e aprenda a usá-las bem”.
Alexander Elder
Neste ponto você deve definir o que investir no mercado é para você. Se for um passa tempo, destine pouco dinheiro e pouca dedicação, não importa o que vai operar, o que importa é jogar e se divertir. Mas se o seu objetivo é aumentar seu patrimônio remunerando capital já existente, procure realizar investimentos de longo prazo, tais como ações e títulos públicos. Proteja seu capital e dedique tempo para acompanhar seus investimentos e para estudar novas oportunidades.
Agora, se o seu objetivo é enriquecer rapidamente e viver do mercado você terá que abandonar tudo e praticamente dedicar-se exclusivamente para isso. Parece fácil, mas é uma grande decisão e sem nenhuma garantia de sucesso. O mercado não paga salário, muito menos contas. Existe uma minoria extremamente talentosa que durante um certo tempo consegue isso, mas é extremamente raro.
Quem tenta tirar o sustento do mercado acaba tendo uma enorme pressão não só sobre suas operações, as quais têm que dar lucro para que possam pagar suas contas, mas principalmente sobre o seu emocional e psicológico. É muito difícil operar e manter o sucesso quando se está sob algum tipo de pressão financeira. Assim, não opere com dinheiro que você não pode se dar o luxo de perder.
A pressão financeira também faz com que você se sinta obrigado a estar sempre no mercado. Como resultado, o investidor acaba fazendo overtrading, seja para tentar ganhar mais ou para tentar recuperar um capital perdido. A tendência de quem faz isso é se afundar ainda mais no prejuízo, trazendo mais frustração e desolação para sua vida.
Acredite, o stress e o desgaste são enormes. A tendência é que o emocional tome conta do processo e o investidor passe a realizar o chamado trading vingativo, quando se opera para tentar recuperar uma perda, o que é fatal. A maioria que faz isso não dura no mercado e acaba pagando um preço caro por sofrimento e angústia. Quando se parece que é você contra o mercado ou vice versa, na verdade o mais provável é que seja você contra si mesmo. Para se obter o sustento do mercado é preciso ter um capital que já lhe permita viver de renda, para então tentar aumentar esse capital fazendo day trade ou operando risco.

“É difícil ganhar dinheiro no mercado, mas é quase impossível ganhar quando você precisa ganhar”.
Jesse Livermore
O mais importante é estar ciente de que cada objetivo no mercado requer um determinado nível de comprometimento. Não confunda as coisas, determine em qual perfil de investidor você se encaixa e se comporte de acordo. Se você largar seu trabalho para pagar suas contas operando no mercado o mais provável é que você termine sem trabalho e com uma dívida imensa.
Seus objetivos devem ser compatíveis com a sua realidade. Querer atingir um objetivo é uma coisa, poder atingi-lo é outra. É essencial que você estabeleça objetivos que guiem o seu comportamento no mercado e deem uma direção às suas estratégias. Caso contrário, você ficará perdido com tantas oportunidades e informações.
Assim, é possível perceber que de uma maneira geral cada investidor possui um estilo de operar próprio, ou seja, toma suas decisões embasado nas informações que capta do mercado e nos fundamentos e indicadores econômicos. Define um plano de ação próprio, assim como no exemplo abaixo:
1 – Que tipo de mercado operar e o limite de prejuízo que estou disposto a tolerar? Ex. Mercado de ações – stopar 5% abaixo do preço de compra.
2 – Que tipo de operação implementar para sua expectativa de tendência do mercado? Ex expectativa de alta – comprar ações.
3 – Que ativo operar e quanto de capital investir? Ex: 10.000 ações preferenciais do Itaú ITUB4.
A partir daí seu sucesso operacional dependerá de três componentes básicos:
1 – Um processo eficiente de seleção da estratégia e do ativo
2 – Controle de risco e perdas
3 – Disciplina para aderir aos dois primeiros itens.
O lucro da operação será sempre um sucesso relativo, pois deverá ser comparado à média do mercado. Um retorno somente pode ser considerado excelente caso esteja acima do índice do mercado. Para garantir isso o investidor deve possuir uma boa técnica para selecionar ativos que sobreperformem a rentabilidade média do mercado, um método para acompanhar seus investimentos e ativos favoritos e, principalmente, deve estar flexível para mudar de ativos e de estratégia caso uma melhor oportunidade apareça ou caso seja stopado. Um investidor consciente assume posições próprias no mercado embasado por suas próprias análises, utilizando estratégias operacionais que domina e seus próprios métodos de gerenciamento de capital e do risco.
“No mercado não existe bondade, muito menos filantropia. Operar no mercado é uma atividade solitária em que a responsabilidade pelo resultado é toda sua. Dê ouvido aos especialistas e você estará falido!”
Capital e Valor
O mercado de renda variável é similar em qualquer lugar do mundo e você será o responsável pelo resultado de todas as suas operações. Quando diante de um prejuízo é inútil reclamar que o mercado é manipulado, que é um jogo de azar, que a culpa é da corretora ou que é isso ou aquilo. Reclamar não vai lhe fazer ganhar, pelo contrário, lhe fará perder seu tempo e as novas oportunidades que o mercado oferecerá. A responsabilidade por todos os ônus e todos os bônus é sua, bem como pela análise do mercado e dos ativos em que investe.
Quando não sabemos onde o mercado está em relação a onde esteve temos grande chance de comprar um topo ou de vender um fundo. O ponto de entrada no mercado é a diferença entre realizar uma operação lucrativa, deixar uma oportunidade de negócio passar ou realizar uma grande e desnecessária perda. Não acredite que o preço de determinado ativo irá se valorizar para sempre, tampouco se convença de que crises econômicas perpetuarão indefinidamente.
O mais difícil para investidores iniciantes é ter a confiança e a coragem de comprar um ativo cujo preço literalmente desabou nos últimos meses, num contexto de indicadores econômicos ruins e notícias pessimistas, mas que apesar de estar desvalorizado possui boa perspectiva. A convicção no método de análise e a disciplina operacional o colocarão no mercado no momento certo.
Um bom investidor não se importa se o mercado está subindo ou caindo, desde que seu capital esteja protegido ou que esteja operando de acordo com a tendência e não contra ela. Sempre terá uma estratégia para ganhar em momentos de alta e outra para ganhar também nos momentos de baixa, sabendo o que fazer caso esteja errado ou caso o mercado vire contra ele. E as correções de curto prazo servirão então para marcar novos pontos de entrada. O maior problema do investidor não é estar errado, mas não reconhecer o seu próprio erro e não mudar de estratégia.

“Se alguém me falar que meu plano não funcionará, mesmo assim eu o testarei no mercado para ter certeza. Porque quando estou errado, há somente uma coisa que me convence disso, que é perder dinheiro. E eu só estou certo quando ganho dinheiro. Isto sim é especular!”
Jesse Livermore
Sempre tenha uma estratégia operacional e um plano B que possa ser ativado sem hesitação quando sua estratégia der errado. Muitos movimentos do mercado ocorrem inesperadamente e sem uma lógica clara. Mesmo aqueles que trabalham no mercado muitas vezes não fazem ideia da causa e do efeito deles, ou mesmo, em que momento acontecerão. Disciplina não se reduz apenas a possuir uma estratégia operacional e a seguir suas regras, mas também a perceber quando a estratégia não está mais funcionando e então abandoná-la, buscando outra forma de ganhar dinheiro.
Investidores institucionais induzem certos padrões na variação dos preços. Esses comportamentos dos preços indicam possíveis oportunidades de ganhar dinheiro. Compram fundos de mercado fazendo com que o mercado suba. E após o mercado subir consideravelmente a massa entra comprado, estimulada pela alta dos preços e por boas notícias.
Neste ponto, os profissionais começam a vender o que compraram e o mercado cai. A massa tende a segurar sua posição com prejuízo até o ponto do desespero, quando então decide vender, acentuando ainda mais a queda dos preços, os quais por sua vez se tornam atrativos para os institucionais, que identificam um novo fundo de mercado e entram comprando, e assim o ciclo se repete. Muitos iniciantes costumam operar apenas comprado, “pulando de um papel para o outro”, enquanto investidores profissionais e institucionais operam o mesmo mercado nas duas pontas durante anos.
“Na bolsa é fácil ganhar pouco e perder muito. O difícil é ganhar muito e perder pouco”.
Escolher um bom ativo para operar é muito mais difícil e vai muito além de ouvir indicações de revistas e corretores ou dicas de amigos. No caso do mercado acionário, uma estratégia muito comum é buscar os ativos que apresentaram um desempenho histórico superior ao do índice de ações ou do setor, pois estes nada mais são do que médias do desempenho geral dos ativos.
Ações que estão acima dessa média são as que mais interessam, pois é de se esperar que continuem a ter esse desempenho no futuro. Entretanto, é muito comum que ações bastante depreciadas nos últimos meses tenham fortes altas, superiores à do índice, no momento em que o mercado comece a se recuperar. Tais movimentos costumam ser bastante rápidos e para identificá-los é necessário acompanhar o mercado diariamente. E obviamente, ao comprar ações em tendência de baixa o investidor expõe seu capital a um risco maior.
O investidor também deve possuir uma estratégia para ganhar na baixa, ou mesmo, para não perder dinheiro. Caso não esteja disposto a vender ações a descoberto, vender índice futuro, ou mesmo, montar estratégias com opções, deverá vender suas ações e esperar a reversão da tendência de baixa fora do mercado, sendo este um excelente momento para se investir na renda fixa. Outra opção muito interessante é o aluguel de ações, que possibilita uma considerável rentabilização para investidores que possuem carteiras de ações como investimento de longo prazo. Outra seria vender contratos futuros de suas ações, o que lhe renderia juros sobre seus preços de mercado.
“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.
Mahatma Gandhi
Buscando ganhar dinheiro num período de queda, o investidor pode alugar ações e vendê-las no mercado à vista, no intuito de recomprá-las posteriormente a preços mais baixos e encerrar o aluguel. Seu lucro será a diferença entre o preço de venda e o de compra, menos o percentual do aluguel e custos operacionais.
Um investidor mais arrojado pode vender índice futuro, tomando vantagem da alavancagem dos contratos futuros, ou mesmo, utilizar suas ações como margem para vender contratos de índice (hedge). No mercado de opções existem diversas estratégias para ganhar com a queda no preço de um ativo, tal como uma trava de baixa ou um straddle. Todas essas estratégias serão abordadas nos respectivos artigos.
Conforme dito anteriormente, sempre que possível procure operar em mercados líquidos, ou seja, aqueles em que a melhor oferta de compra e a melhor oferta de venda sejam bastante próximas, havendo pouca diferença, e que possuam um volume suficiente para comprar e vender a quantidade desejada. Operar ativos sem liquidez ou em mercados estreitos implicará maiores custos de corretagem, pois terá que dividir suas ordens limitadas para conseguir executar a quantidade de ativos desejada. E caso insira uma ordem a mercado perderá dinheiro em função do largo spread entre as ofertas.
Uma das vantagens de se escolher ativos mais populares é a liquidez e o alto volume de negociações e de giro financeiro. Quanto mais líquido for o ativo maior será a sua chance de comprá-lo ou vendê-lo rapidamente a um preço próximo à média do mercado, já que não faltam compradores e vendedores. Ativos com pouca liquidez envolvem certas manobras para negociá-los a um bom preço.
“Há somente uma tendência no mercado, não é a de alta e nem a de baixa, mas a certa”.
Jesse Livermore
Outra recomendação importante é sempre procurar seguir a tendência do mercado. Não reme contra a maré, a não ser que você queira fazer day trade, realizando operações de curtíssimo prazo e se dedicando integralmente ao mercado. É muito difícil obter sucesso comprando ações num mercado em plena tendência de baixa. O investidor precisa estar ciente do contexto em que mercado se encontra e se o mesmo é favorável à sua estratégia de operação e ao prazo estabelecido para seu investimento (longo, médio ou curto).
A menos que você resolva utilizar o capital investido em renda variável, suas operações serão realizadas e liquidadas no prazo do mercado. Isto quer dizer que você somente entrará e sairá do mercado quando este lhe indicar. A partir do momento em que abrir uma posição no mercado, irá mantê-la por prazo indeterminado enquanto os preços seguirem ao seu favor.
Você somente liquidará a sua posição quando o mercado indicar o momento ou caso uma melhor oportunidade de investimento apareça, ou ainda, caso os preços se movam contra você, podendo até mesmo acontecer que a operação seja liquidada no mesmo dia em foi iniciada. Dessa forma, você estará deixando os lucros se acumularem até o momento em que a tendência do mercado reverter.
Com estudo e prática será possível desenvolver diferentes estratégias para investir do curto ao longo prazo, aproveitando o que o mercado oferece em cada um deles. Um bom investidor segue a tendência principal do mercado sem querer tirar dele o que ele não pode dar. Define o nível de risco com o qual se sente confortável, e com o passar do tempo, caso esteja obtendo bons resultados e experiência, passa a aumentá-lo gradativamente no intuito de alavancar a rentabilidade de suas operações.

“O sucesso virá da confiança em seu instinto e sagacidade no momento da verdade, encarando o risco como um aliado para alcançar o resultado desejado”.
Robert Koppel
Como Analisar um Ativo para Investimento?

Nenhum mercado de renda variável, seja de futuros ou de ações, é perfeito, tampouco eficiente. Não existe uma equação matemática ou estratégia de operação que tenha 100% de garantia de acerto. O que existe são técnicas que indicam se o mercado está numa tendência de alta, de baixa ou se está lateral, e que mostrem para onde será mais provável que se mova. O melhor e mais confiável método de análise do mercado será desenvolvido e ajustado para você por você mesmo.
Não é recomendado investir em renda variável sem antes ter um mínimo de conhecimento a respeito. Educação é um elemento essencial para se construir o sucesso em qualquer área e o mercado financeiro não é exceção. Não pense em prejuízo e lucro. Mude sua perspectiva pensando no que você precisa aprender para investir no mercado com mais eficiência e obter maiores resultados. Felizmente, você já está seguindo esse caminho ao ler esse artigo.
Existem diversas formas de tentar prever os movimentos de preço de um ativo. Poucas são válidas, mas nenhuma é garantida, sendo a maioria inútil ou redundante. Um investidor deve procurar estudar estratégias operacionais, formas de diminuir o risco e de preservar seu capital, bem como técnicas de realocação de investimentos, ao invés de tentar prever o futuro, o que é o que a maioria faz e normalmente é inútil. Ainda que você consiga prever o futuro, o que teoricamente é fácil, pois o mercado ou sobe, ou cai, ou acumula, ou distribui, se você não souber o que está fazendo ainda assim irá perder.
“O mercado não lhe dá dinheiro. É você que se dá dinheiro baseado na sua habilidade de perceber oportunidades e executar uma operação no mercado”.
Capital e Valor
A análise de mercado vai embasar as suas decisões e lhe dar a confiança para fazer o que é necessário para atingir os seus objetivos no mercado de capitais. Aprenda a identificar rapidamente topos, fundos, bem como os níveis de suporte e de resistência, o que lhe indicará qual é a tendência de longo prazo do preço do ativo e lhe colocará no lado certo do mercado. Não faz sentido investir no longo prazo quando não se tem sinais concretos da direção do preço.
Normalmente parte-se de uma análise macroeconômica para uma microeconômica, ou seja, primeiro se avalia o contexto econômico atual do país e dos principais mercados internacionais (EUA, China, Europa e Japão). A partir daí, é feita a análise do setor em que o ativo pertence, bem como dos índices setoriais, para finalmente avaliar os fundamentos do ativo ou da empresa em si e como o seu preço e o preço das ações líderes do segmento estão se comportando no momento e como se comportaram no passado.
Assim, os aspectos tendência do mercado, qualidade do ativo e, principalmente, o timing, sistematicamente irão embasar a tomada de decisão do investidor no longo prazo, mas ainda assim ele não poderá evitar as variações de curto prazo, pois nada garante que determinados problemas tenham sempre uma solução. Acreditar que apenas um indicador será suficiente para identificar o melhor momento de compra de um ativo é menosprezar toda a complexidade do mercado financeiro e a inteligência dos demais investidores.
Investidores iniciantes acreditam na ilusão do piloto automático. Creem cegamente que podem automatizar suas operações garantindo a rentabilidade destas. Pessoas que montam ou compram trading systems são como cavaleiros medievais pagando alquimistas para que transformem seus metais em ouro.
Se houvesse um sistema de previsão ou trading system que acertasse mais que 50% de forma garantida e consistente a imperfeição do mercado acabaria e, consequentemente, o próprio mercado acabaria. A oportunidade de obtenção de lucro está exatamente na sua imperfeição e imprevisão.
Atividades humanas complexas não se prestam à automatização. Linhas aéreas pagam altos salários para pilotos apesar de seus aviões terem pilotos automáticos. Os pilotos possuem uma capacidade de raciocínio e de tomada de decisão que nenhuma máquina tem, principalmente para lidar com situações não previstas, assim como é o contexto do mercado financeiro.
“Fórmulas podem estar erradas; o mercado nunca. O mercado é o mercado, nem mais nem menos. Não faz previsões nem promessas, está ali e basta. Discutir com ele é como sair numa tempestade de neve gritando que só deveria nevar no dia seguinte”.
Max Gunther
É inquestionável que um sistema automático de análise, ou mesmo de operação, permitirá uma abordagem mais disciplinada e metódica do mercado. Mas ao mesmo tempo limitará o horizonte de visão do investidor, afinal de contas, computadores não conseguem captar e interpretar as exceções e os aspectos qualitativos.
Um sistema de análise computadorizado pode servir como uma linha mestra para identificar a tendência de um ativo, mostrar os níveis históricos de preço, dentre outros, mas jamais substituirá a análise interpretativa e intuitiva do investidor, a qual é capaz de identificar os comportamentos prováveis em razão da influência dos fatores externos e da forma como o mercado vem evoluindo.
Acontece que as oscilações dos preços no mercado, embora talvez sejam previsíveis com análise técnica e fundamentalista, dependem inúmeros fatores, mas principalmente do comportamento dos investidores institucionais. Basta que apenas um deles resolva se posicionar de maneira contrária à tendência do mercado para que os preços de determinados ativos mudem de direção, ainda que temporariamente. Além disso, temos de considerar os inúmeros fatores que podem ocorrer a cada instante e que têm a possibilidade de mudar dramaticamente o rumo do mercado ou de qualquer ativo negociado em leilão.
Se nos encontrarmos tentando adivinhar cada oscilação e pullback dos movimentos dos preços, não seremos apenas levados à frustração, mas também perderemos totalmente qualquer senso de perspectiva de longo prazo. As oportunidades no mercado estão à disposição de todos. Dependemos apenas da nossa percepção para que possamos tomar proveito delas.
A partir daí, a escolha da estratégia mais adequada será sempre embasada no que acreditamos. E o sucesso desta dependerá do nosso comprometimento às nossas próprias regras. Entretanto, de nada adianta utilizar boas ferramentas de análise e gráficos de preços para analisar ações de empresas ruins, com pouco ou nenhum fundamento de qualidade.
Da mesma forma, não se pode querer estar sempre posicionado no mercado tentando ganhar sempre. O segredo está em controlar a ganância e trazer as chances ao nosso favor. Entender como a maioria dos participantes do mercado está se comportando em relação a determinado ativo e operar de acordo com a tendência do seu preço. Não baseie suas operações puramente em previsões e projeções de preços de corretoras, gurus e analistas, mas no que você vê acontecendo à sua frente, no comportamento do preço e do mercado e, principalmente, nos fundamentos do ativo.

“Não fique curioso demais sobre a lógica por trás de um movimento dos preços. A chave para a fortuna no mercado é a simplicidade”.
Jesse Livermore