Por que os Investidores Perdem Dinheiro na Bolsa?

A maioria das pessoas não sabe perder, seja lá o que for. Também sequer tem paciência para deixar que o lucro de uma operação vencedora cresça. Diante de uma posição perdedora muitos hesitam em liquidá-la. Observam seu prejuízo aumentar dia após dia esperando a próxima alta para que então possam encerrar a operação no zero a zero, ou mesmo, com um pequeno lucro.
Mas quando a alta ocorre não encerram suas operações, pois agora o mercado está indo a favor de suas posições. Contudo, muitas vezes tal movimento é apenas uma correção da forte queda que o preço do ativo sofreu, o qual logo retomará sua tendência de queda aumentando ainda mais o prejuízo.
A aversão a perda, ou seja, a atitude de evitar o sentimento de arrependimento decorrente de escolhas cujos resultados se mostraram negativos, faz com que o investidor tome decisões precipitadas em cenários de ganho e assuma maiores riscos em cenários de perdas, visto que ele tende a manter uma posição que vem gerando prejuízo, mesmo tendo noção que as chances de recuperação são pequenas, e também limita o seu potencial de lucro numa posição vencedora, pois tende a realizar rapidamente o lucro em razão do medo e da satisfação imediata do lucro, perdendo a maior parte do movimento favorável do preço para garantir um pequeno lucro.
Aprender a aceitar perdas é obrigatório para quem investe em renda variável. Quem não tem essa característica deve desenvolvê-la ou desistir do mercado. O fato é que só você erra e só você lhe causa prejuízos. Entenda isso ou só irá parar de perder quando o seu dinheiro acabar. O maior erro de um investidor é não aceitar suas perdas enquanto ainda são razoáveis, deixando-as aumentar até um ponto insustentável. Assim, o seu primeiro objetivo no mercado será preservar o seu capital, para depois auferir lucros.
"Não reclame dos resultados os quais você não alcançou através dos esforços os quais você não fez".
Capital e Valor
Quando se perde uma parte significativa do capital é preciso recuperar uma parte maior do que a que foi perdida apenas para voltar ao capital inicial, e quanto maior for a perda maior será essa diferença. Assim, seja qual for o percentual perdido no mercado será necessário ganhar um percentual maior para recuperar o prejuízo. Quando se perde 20% no mercado é preciso ganhar 25% para voltar ao mesmo patamar.
Se o prejuízo chegar a 50% do capital investido será preciso um lucro de 100% sobre o que restou apenas para que o investidor volte a ter o que tinha antes. Com o passar do tempo o prejuízo vai aumentando até que as margens de garantia ou a pressão psicológica ficam inaceitáveis e o investidor é forçado a liquidar sua posição, normalmente numa época e num nível de preço muito próximos à reversão do mercado. Comprou na alta para vender na baixa.
Quando passamos a torcer ou rezar para que o mercado mude de direção à nosso favor é sinal de que não sabemos o que está acontecendo ou o que estamos fazendo, sendo muito provável que estejamos expondo nosso capital a um alto risco em razão disso. Se após auferir um lucro significativo no mercado o perdemos, ao tentar recuperá-lo o desgaste emocional e psicológico será enorme quando comparado ao que teria sido necessário para manter tal lucro.
Se os preços estão se movendo contra a sua posição então você está errado. E não deve em hipótese alguma querer ficar mais errado do que já está esperando que o mercado reverta ao seu favor. Quando os preços se movem contra você só existem duas maneiras para que fique mais errado do que já está. Uma é aumentar a posição realizando novos investimentos a preços mais baixos (fazer preço médio para baixo) e a outra é mover o preço de gatilho da sua ordem stop para baixo, se é que você a utiliza.
Nunca em hipótese alguma caia na tentação de fazer qualquer uma delas. Agir dessa forma é a causa da ruína financeira de muitas pessoas. E de fato, a solução muitas vezes acaba sendo pior do que próprio problema. Portanto, você pode aumentar o tamanho da sua posição à medida que o preço do ativo se move ao seu favor, assim como o gatilho do stop deve ser mudado num só sentido, na direção do seu lucro.
“Ao invés de se ter esperança deve-se ter medo, e ao invés de se ter medo, deve-se ter esperança. Deve-se ter medo de que a perda se torne um grande prejuízo e esperança de que seu ganho se torne um grande lucro”.
Jesse Livermore
De uma maneira geral o ser humano é otimista em relação às suas crenças, sejam elas quais forem. Isto é particularmente perigoso em relação aos investimentos, pois leva o indivíduo a superestimar sua habilidade como investidor e subestimar os riscos envolvidos. E ainda, uma vez tomada a decisão errada ela acaba sendo mantida no longo prazo, acentuando ainda mais os prejuízos.
Essa necessidade de se iludir e negar a realidade, seja por orgulho ou por arrogância, inicialmente pode até funcionar como um alívio fácil e fazer com que se sinta bem no curto prazo, mas eventualmente os prejuízos, além de se perpetuarem, se tornam grandes demais para serem suportados e o investidor se vê obrigado a realizá-los, muitas vezes desistindo de vez mercado.
Assim, quando você acreditar que por alguma razão o mercado ira cair ou subir não esteja tão certo disso, aguarde até que o mercado indique que isso realmente irá acontecer. Tal movimento que você previu pode não ocorrer, ou mesmo, ocorrer no sentido oposto ao que você acredita.
Opiniões de nada valem a menos que o mercado aja de acordo com o que é afirmado. E quando nos obrigamos a sermos otimistas e esperançosos sempre, principalmente quando negamos nossos problemas, além de nos privarmos da possibilidade de resolvê-los, aumentamos os riscos dos nossos investimentos.
É preciso entender que em certos momentos “turbulentos” perder 10% do capital pode ser inevitável. Perder mais que isso, no entanto, só pode acontecer em função de alguma situação extrema tal como o 11 de setembro ou a crise de 2008. De tempos em tempos aviões são colididos contra prédios e gestores irresponsáveis de grandes fundos de investimento afundam a economia de países. Portando, quando em dúvida, fique fora do mercado. A ganância não compensará, volte seu capital para a renda fixa e espere o momento oportuno.
Por outro lado, ao observar o desenvolvimento dessas situações você encontrará excelentes oportunidades de compra. Quem comprou ações no final de 2008 e as manteve por um ano teve um ganho médio de 150%. É claro que não se pode ter essa expectativa de rentabilidade nos dias atuais e que tal situação ocorre uma vez a cada década. Mas o que é importante é que o investidor saiba quando ficar de fora e quando se posicionar, e que independente disso esteja sempre acompanhando a tendência do mercado.
"Se eu tivesse que resumir minhas habilidades práticas, eu usaria uma palavra: Sobrevivência. E operar um fundo de hedge utilizou meu treinamento de sobrevivência ao máximo."
George Soros
Também não opere contra a tendência do mercado, a possibilidade de sucesso é muito menor. Não tenha uma opinião formada totalmente baixista ou altista em relação ao mercado todo só porque uma ação dentro de um grupo em particular reverteu o seu preço em relação à tendência geral do mercado.
Procure diversificar seu capital em dois ou mais ativos, montando uma carteira, ao invés de investir tudo numa só operação. Tenha uma estratégia de limitação de risco e de prejuízos, seguindo-a com disciplina e não mudando de opinião a cada pequena oscilação do mercado, evitando assim uma limitação dos lucros e uma exposição a grandes perdas.
A grande vantagem da ordem stop é que ela executa automaticamente nossa estratégia de gestão de risco e controle de capital, impedindo de certa maneira que em função do emocional e do psicológico mudemos nossa estratégia e regras de operação, perdendo assim a objetividade. Teoricamente ela nos livra do ônus de termos de decidir se vamos ou não liquidar uma operação com prejuízo.
Perdas causadas pela falta de disciplina são muito mais desgastantes do ponto de vista emocional e psicológico em relação às causadas por erros de análise ou por eventos imprevisíveis. Quando o investidor tem o poder de evitar um maior prejuízo simplesmente stopando uma operação perdedora e não o faz, seja por orgulho ou por esperança de que em algum momento ela lhe dará lucro, à medida que o prejuízo aumenta a angústia e o arrependimento acabam com a paz e o bom humor de qualquer um.
“Só existe uma maneira de uma pessoa se convencer definitivamente de que está errada, perdendo dinheiro”.
Capital e Valor
Assim, não aumente posições perdedoras. Fazer preço médio para baixo não trará nenhuma garantia da diminuição do prejuízo. Uma posição perdedora significa que você está errado. Assuma que errou, encerre sua posição enquanto a perda é pequena e espere o momento certo para entrar novamente no mercado. Não liquide uma posição vencedora para manter uma perdedora e utilize sempre ordens stop. Por mais óbvio que isso pareça a maioria das pessoas faz exatamente o oposto.
Você pode possuir um conhecimento enorme de economia, análise técnica e fundamentalista, conhecer todas as estratégias operacionais e mesmo assim ainda sofrer perdas em seu capital no longo prazo caso não tenha disciplina ou não esteja em controle da sua parte emocional. Por outro lado, você pode ser um analista medíocre e não conhecer bem as estratégias operacionais e ainda assim conseguir aumentar o seu capital caso tenha disciplina, paciência e controle emocional.
Da mesma forma, ao liquidar uma operação antes que o mercado indique você estará sucumbindo ao medo, operando indiscriminadamente ao focar-se em operações de curto prazo e deixando de seguir sua estratégia de investimento de longo prazo. Investidores que conseguem acumular patrimônio ao longo dos anos possuem uma expectativa de retorno de longo prazo para os seus investimentos.
Enquanto uma operação estiver se comportando corretamente e a análise estiver correta não há porque se ter pressa em retirar o lucro. Muitas vezes a excitação do mercado pode levá-lo a abrir posições baseadas puramente em fatores emocionais, seguindo a onda da mesa de operações e do fórum ou a dica de um amigo. Essa excitação o compele a agir como um jogador ao invés de investidor. Por força de uma indisciplina momentânea você acaba fazendo coisas que sabe que são erradas e que apenas o estressarão, afetando dramaticamente seu emocional e, consequentemente, seu patrimônio.

“Pessoas racionais atuam de forma irracional quando estão com medo. E as pessoas ficam com medo quando começam a perder dinheiro, o que acaba comprometendo a sua capacidade de julgamento. Essa é nossa natureza humana em seu atual estágio de evolução. Isso não pode ser negado. Isso deve ser compreendido e administrado”.
Jesse Livermore
Investidores experientes também cometem erros, muitas vezes piores do que aqueles que iniciantes cometem. Erros que os levam a prejuízos enormes, em alguns casos até mesmo maiores do que seu capital inicial investido. Arriscam muito, fazem operações alavancadas muito acima de suas possibilidades financeiras ou tomam dinheiro emprestado a juros altos. Isso aumenta bastante as chances não só de perderem tudo, mas de ficarem devendo.
A partir do momento em que começam a ganhar o entusiasmo substitui a prudência, pois a disciplina é fraca. Não estão realmente seguindo uma estratégia e obedecendo às suas regras e, por consequência disso, raramente este tipo de política remunera. Não faz sentido algum em se dar ao trabalho de estudar, de acompanhar o mercado e de executar uma estratégia quando não se está preparado para obedecer às próprias regras.
Há aqueles que investem em empresas concordatárias (micos) e que às vezes obtém grandes lucros rapidamente. Operam como jogadores, traders arrogantes que se expõem a riscos grandes buscando uma recompensa mais rápida. Acham que são mais espertos do que aqueles investem em valor, em fundamento e no longo prazo. Entretanto, é apenas uma questão de tempo até que uma dessas jogadas dê errado, fazendo com que esses espertinhos devolvam todos os ganhos das jogadas anteriores que deram certo.
Isso não quer dizer que seja impossível realizar operações vencedoras com este tipo de estratégia. Significa apenas que é muito improvável que um investidor consiga ter sucesso com tal estratégia por um longo período. Pessoas que fazem isso não auferem lucro no longo prazo, sem contar que com o passar dos anos o investidor de longo prazo acumulará um patrimônio muito maior e mais consolidado do que o jogador de curto prazo.
“Existem investidores velhos e investidores agressivos, mas não existem investidores velhos e agressivos”.
Warren Buffett
Embora seja um conceito aparentemente simples é realmente muito difícil para as pessoas mudarem seus comportamentos, e ainda mais as suas personalidades. Na maioria dos casos a mudança ocorre após o “estrago” já ter sido feito em seus patrimônios. Isso torna primordial para aqueles que pretendem entrar no mercado aprender não só as regras e as estratégias de operação, mas também até onde estão dispostos a ir, qual o risco e nível de stress que estão dispostos a se expor e, principalmente, quais são os seus defeitos e quais são as características mais marcantes em suas personalidades.
Investidores experientes sobreviveram à prova do tempo o suficiente para desenvolverem sua disciplina e um psicológico forte. A principal razão do fracasso de muitos investidores não é a má escolha dos ativos que operam ou dos momentos em que abrem posições no mercado, são eles mesmos. É a falta de disciplina, de gerenciamento dos riscos e do capital que possuem.
A verdade é que para a maioria as mudanças pessoais mais radicais somente ocorrem depois das piores experiências. No caso do mercado, somente após sofrerem grandes prejuízos muitos investidores se dispõem a reavaliar os seus valores e as suas atitudes e a examinar as suas falhas, buscando uma transformação pessoal positiva.
Obedecendo ao ego e à vaidade no intuito de sempre estarem certos agirão de forma irracional e danosa aos seus patrimônios de forma a continuarem perseverando nas suas crenças iniciais. Disciplina é algo necessário para se ter sucesso em todas as áreas, especialmente no mercado de capitais onde não há ninguém que lhe chefie, pois você será o seu próprio chefe. O desenvolvimento dessas características é um grande desafio para todo investidor. E isso não se aprende em uma palestra de fim de semana, mas se pratica todos os dias. É um estilo de vida.
"O problema com o mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, enquanto os estúpidos estão cheios de confiança.“
Charles Bukowski
É bem provável que todos os que operam no mercado já tenham passado pelo efeito paralisante. A partir do momento em que assumimos uma posição no mercado estabelecemos um compromisso com nós mesmos e vamos querer achar todas as razões do mundo para provar que estamos certos.
Quando nos “apaixonamos pelo ativo” muitas vezes negamos a realidade e o óbvio, ou seja, o fato de estarmos errados. Não damos a devida importância ao stop até que tenhamos uma grande perda. Uma perda de 3% ou 5% mesmo ocorrendo várias vezes seguidas é perfeitamente recuperável. Mas um único prejuízo de 10% ou 15% torna a situação bem mais complicada. Recuperar dinheiro no mercado leva tempo. E o tempo é a commodity mais cara do mundo, pois não se pode comprá-lo.
A forma natural do ser humano pensar e agir tende a aumentar os riscos do investimento em renda variável. O medo limita a capacidade de resposta numa determinada situação. Muitos investidores sofrem consideravelmente por saberem exatamente o que fazer, porém, quando o momento da execução chega ficam totalmente imobilizados, observando seus prejuízos aumentarem.
Portanto, antes de investir no mercado é preciso desenvolver a autoconfiança, o que nada mais é do que saber o que fazer no momento em que precisar ser feito e fazê-lo sem hesitação. Qualquer hesitação criará dúvida e medo, o que fará com que o maior medo de um investidor se torne realidade, perder seu dinheiro.

“Quando se está num buraco a primeira coisa que se deve fazer é parar de cavar”.
Capital e Valor