O Perfil do Investidor na Bolsa de Valores

Nos diferentes impasses de nossas vidas temos sempre três opções, fazer a coisa certa, fazer a coisa errada e não fazer nada. Na maioria das vezes não fazer nada é a pior coisa que se pode fazer. O efeito paralisante (anestesia) acontece quando o investidor posicionado no mercado tem a razão bloqueada pela emoção e não consegue tomar uma atitude consciente para proteger seu capital.
Pode acontecer tanto numa operação que está dando prejuízo como numa que está dando lucro. Por não aceitar perder o investidor orgulhoso segura uma posição perdedora aumentando ainda mais seu prejuízo. Por ganância deixa uma posição vencedora se transformar numa posição perdedora, devolvendo todo o lucro que havia auferido porque não estabeleceu um limite de perda para suas operações, ou mesmo tendo-o estabelecido, perde mais dinheiro porque não o respeitou.
Operar no mercado financeiro é uma atividade que exige paciência e dedicação para que gere resultados. O sucesso nada mais é do que disciplina e persistência aplicadas em direção ao seu objetivo. Assim, não se deixe desanimar ao achar que você não leva jeito para isso. E acredite, no longo prazo os resultados compensam em muito os esforços aplicados.
“A especulação é o jogo mais fascinante do mundo. Mas não é lugar para pessoas burras, preguiçosas, emocionalmente desajustadas ou para aquelas que querem enriquecer da noite para o dia. Todas estas morrerão pobres”.
Jesse Livermore
A realidade, por pior que seja, é melhor do que a ilusão. Toda vez que você não souber qual é a sua realidade, e ficar se enganando ao pensar que a sua situação é melhor do que ela realmente é, você irá perder mais do que o planejado e se tiver lucro irá devolvê-lo para o mercado. Este é o grande passo para parar de perder, aceitar a realidade. E se você não suporta ter prejuízos não entre no mercado financeiro.
O lado emocional do investidor tende a interferir no raciocínio e na tomada de decisões. De certa forma, ser um investidor é um caminho para o auto-descobrimento. Operando no mercado passamos por momentos de ansiedade, raiva e alegria, vivemos o medo e a ganância. Todo esse contexto mexe muito com o psicológico de cada um e o lado emocional acaba influenciando o lado racional e objetivo.
Em outras palavras, as emoções acabam com a disciplina e com o gerenciamento de capital. O estado emocional do investidor tende a oscilar entre o medo e a esperança, as duas coisas que acabam com qualquer método de análise, estratégia de operação e gerenciamento de capital.
“As pessoas só aprendem quando o financeiro aperta. Não adianta falar, não adianta avisar, não adianta provar matematicamente, o risco só é respeitado quando sentido na própria pele”.
Capital e Valor
Quando a operação dá errado e o mercado vira contra a posição do investidor este tem medo de inverter sua posição, ou mesmo, resiste a “stopa-la” por achar que mercado inevitavelmente reverterá a favor da sua posição perdedora. Já outros são orgulhosos, não admitem que estejam errados, seguram o prejuízo e se iludem ao buscar algum consolo que justifique sua operação. Esses mesmos investidores não veem outra solução a não ser manter a posição perdedora e aguardar semanas, meses, ou mesmo anos, até que o preço do ativo se mova na direção da sua aposta, se é que isso chegará a acontecer.
Tais sentimentos devem ser dominados e controlados através de disciplina e de uma estratégia de gerenciamento de risco aliada a regras operacionais rígidas e objetivas. E uma das maneiras de se precaver contra grandes prejuízos é realizando pequenos prejuízos (stops).
Ninguém muda se não reconhecer os seus próprios erros. Infelizmente, muitas pessoas continuam errando para sempre e, consequentemente, perdem dinheiro no longo prazo. Somente após sentirem a dor da perda do dinheiro e atribuí-la aos seus próprios erros é que começam a obedecer às suas regras e a não repetir tais erros.
O investidor arrogante diante de uma posição perdedora faz preço médio para baixo, ou seja, investe mais dinheiro na operação perdedora comprando mais ativos a preços mais baixos. O resultado é que a cotação do ativo continua a cair, tendo o “investidor” apenas alavancado o seu prejuízo ao aumentar uma posição perdedora ao invés de “stopa-la”.
Não há porque segurar um papel que está caindo, o que é um vício muito comum, inclusive entre investidores veteranos. Mesmo que o mercado se recupere ainda será mais lucrativo liquidar a posição e esperar o momento oportuno para recomprá-la mais barato ao invés de correr o risco de ter que vendê-la por desespero e com um grande prejuízo, apenas para depois observar de fora do mercado, amargurado e arrependido, o ativo que vendera recuperando seu preço.

“Como é caro, o preço da burrice”.
Pessoas que se sentem os donos do mundo quando ganham e ficam deprimidas quando perdem não conseguem acumular um grande patrimônio porque praticamente são guiados apenas por suas emoções. A culpa e a preocupação são as emoções mais inúteis para um investidor. Normalmente ele desperdiça seu tempo e raciocínio refletindo sobre o que fez de errado no passado e preocupado com o que pode acontecer no futuro, na maioria das vezes algo que não se pode ter controle.
Esse investidor acaba desperdiçando o presente. Fica parado no tempo se amargurando por comportamentos passados. O fato é que tanto a culpa como a preocupação levam as pessoas ao mesmo resultado, aborrecimento e inércia, impedindo-as de ganharem dinheiro ou de limitarem seus prejuízos.
Ser obrigado a resolver os seus problemas internos pelo mercado é algo que além de caro é desgastante e desagradável. O passado é algo que nunca poderá ser mudado, mas a maneira como as pessoas se sentem a respeito dele pode. Os sentimentos e as emoções podem impedir que as pessoas tomem a atitude certa, não comprar um fundo de mercado em função de um contexto econômico ruim, de notícias pessimistas e de um histórico de queda das cotações, por exemplo.
A ganância e o orgulho fazem com que os investidores mantenham suas posições quando o mercado reverte sua tendência, devolvendo o que ganharam anteriormente. A arrogância afeta o julgamento e o bom senso. Acreditando que sabem mais que o mercado, investidores insistem nos mesmos erros repetidas vezes.
A perda do dinheiro os leva à anestesia, a não tomar as atitudes que deveriam ser tomadas para limitar os prejuízos. A maioria dos investidores quando diante de uma operação perdedora responde de uma maneira que apenas os levará a um processo que limita os lucros e não limita os prejuízos. Exatamente o contrário ao que diz a regra e também o bom senso.
“Limite seus prejuízos e deixe seus lucros crescerem!”
O objetivo de um investidor de sucesso não é simplesmente fazer dinheiro, ele deve buscar executar o seu planejamento e seguir o seu sistema de forma consistente. É uma pessoa que gosta do que faz, estuda, questiona e se aprimora operando, muitas vezes perdendo antes de mesmo de começar a ganhar de forma consistente. A maioria atribui seu sucesso à sua disciplina e embasamento, seguido do uso consistente de ferramentas objetivas e dos fundamentos do mercado. O seu resultado a médio e longo prazo é fruto de seu compromisso, de um comportamento disciplinado, prudente, dedicado e coerente.
Um bom investidor assume total responsabilidade pelos resultados de suas operações, pois não se deve culpar aos outros por suas perdas. Aprende com as derrotas e procura entender seus próprios defeitos e limitações para então buscar formas de limitá-los no intuito de se tornar um melhor investidor no futuro.
Ao invés de ser ganancioso e impulsivo você deve ser paciente e preciso, adquirindo com o passar do tempo um domínio maior sobre suas emoções, impulsos e intuição, conseguindo também controlar os seus próprios medos. Agindo dessa forma você executará suas operações com mais eficiência, menos desgaste emocional e sem pressa. O mercado abre todos os dias úteis do ano e boas oportunidades virão com o tempo. Mas esteja consciente de que todo erro no mercado atinge dois pontos delicados, seu bolso e sua autoestima.
“Enquanto fazemos da felicidade uma meta, não podemos alcançá-la. Quanto mais a almejamos, mais ela se distancia".
Viktor Frankl
A perda do autocontrole induz a perda do gerenciamento financeiro e, consequentemente, à pobreza. Para ser um bom investidor você deve estar sempre observando os indicadores de mercado, identificando sua tendência e operando de acordo, ao invés de desperdiçar seu tempo se arrependendo de ter perdido dinheiro e torcendo para que o mercado vire ao seu favor.
Bater de frente com o mercado é a pior atitude que uma pessoa pode tomar. Primeiro porque perderá dinheiro e segundo porque claramente estará agindo por emoção e não por razão. A capacidade de julgamento estará afetada, a esperança e a ilusão afetam o bom senso.
A raiva e a arrogância induzem as pessoas a manterem posições perdedoras até que o mercado reverta a seu favor. Mas muitas vezes quando isso acontece já é tarde, muito tempo se passou e o investidor deixou de ganhar utilizando outras estratégias, ou mesmo, fora obrigado a liquidar sua posição por desespero, ficando de fora quando o mercado começou a reagir.
Obter sucesso no mercado de renda variável no longo prazo é difícil, grande parte dos participantes sequer dura mais do que 6 meses no mercado devido às perdas excessivas. Outros têm a sorte de ganhar no começo, apenas para ficarem mais confiantes e acabarem perdendo mais do que conseguiram acumular. O gerenciamento de capital no mercado de renda variável é uma tarefa das mais importantes e provavelmente a mais difícil de se aprender, sendo fundamental que seja feita de maneira séria e comprometida.
“A verdade é que após se aprender a investir no mercado, milhões serão mais facilmente gerados do que as centenas que foram ganhas quando se era ignorante”.
Jesse Livermore
No início muitos investidores passam por confusão mental, ansiedade, frustração e a dor pelo fracasso. Aqueles que conseguem passar por essa fase e aprendem persistem no mercado. Os que não aprendem não acumulam patrimônio algum ou são liquidados do mercado.
Disciplina e controle emocional não são habilidades natas, são adquiridas através de aprendizagem e prática, muitas vezes por tentativa e erro. Processo no qual muitos acabam sem dinheiro antes de aprenderem e outros sequer se recuperam psicologicamente dos seus fracassos e, arrependidos, deixam o mercado.
O histórico de suas operações dirá muito sobre sua atuação no mercado, tanto em relação à eficácia da sua análise como ao seu autocontrole. Caso você desconheça seu comportamento no mercado não será capaz de aprender e de repetir o que deu lucro.
E quando não se sabe o que se fez para ganhar, é de se esperar que também não se saiba o que se fazer para evitar perder. Situação em que se está operando pelo acaso e pela sorte, sem controle e impotente em relação ao que o mercado poderá fazer. O resultado disso é ansiedade, frustração, confusão, arrependimento e medo.
Embora seja importante operar com embasamento e a favor da tendência do mercado, a melhor estratégia nas mãos de um investidor indisciplinado ou fraco do ponto de vista psicológico pode gerar um retorno medíocre, ou mesmo, um prejuízo. Desenvolver certas qualidades psicológicas certamente aumentará as suas chances de sucesso no mercado.
Nossa intenção não é apenas motivar as pessoas. A motivação por si só não é suficiente. Como disse Jim Rohn, "se você motivar um idiota, terá um idiota motivado”. Queremos ajudar as pessoas a desenvolverem suas próprias estratégias e a atuarem no mercado com disciplina e independência.
Ninguém nasce sabendo operar no mercado. É a prática e a aprendizagem que levam o investidor a excelência. Com o tempo você consolidará a sua estratégia em autodisciplina e controle emocional e estará pronto para mudar sua opinião em relação ao mercado se for necessário. Foque no processo de investir bem e não na ilusão do resultado imediato como a maioria faz.
“Se você não muda, quem te muda é o mundo”.
Capital e Valor
Em uma de suas cartilhas de educação financeira a CVM cita alguns perfis estudados pela economia comportamental que são característicos na maioria dos investidores que perdem dinheiro no mercado.
- Excesso de confiança: É um viés que pode ser visto em pessoas que sobreavaliam suas próprias capacidades e acreditam ter uma capacidade de decisão superior à média da população. No mundo dos investimentos, o investidor com excesso de confiança tem certeza que pode antecipar as oscilações da bolsa, mesmo em períodos de alta volatilidade. Trate-se do efeito Dunning-Gruger, em que as pessoas com baixa habilidade em uma tarefa superestimam sua habilidade e consideram que sabem mais do que outras pessoas mais bem preparadas.
Os investidores têm que tomar cuidado com o excesso de confiança pois podem negligenciar o gerenciamento de riscos, ficando mais suscetíveis a grandes prejuízos. Como exemplo deste comportamento superconfiante, podemos citar os investidores que executam muitas transações (“giram muito a carteira”) geralmente apresentam desempenho inferior aos investidores mais realistas.
O excesso de confiança provoca uma ilusão de habilidade nos investidores. Kahneman diz que a ilusão da habilidade está profundamente arraigada na cultura do mundo financeiro à medida que os profissionais altamente qualificados pensam que são capazes de vencer o mercado ao longo do tempo. Entretanto, o autor cita que poucos traders são dotados de habilidade necessária para superar o mercado constantemente.
Investidores com dissonância cognitiva tendem a ter apego às próprias ideias, ainda que a realidade ao redor as desafie ou mesmo as contradiga radicalmente. No mercado, convicções errôneas costumam ser extremamente difíceis de se abandonar. Um investidor com uma forte convicção tende a ignorar todas as informações que contradigam suas crenças e dar um peso extremamente elevado para as informações que corroboram sua opinião.
- Viés de otimismo: Enquanto o excesso de confiança está relacionado com os fatores internos, ou seja, a sobreavaliação das próprias habilidades (como QI ou habilidades de gestão), o viés de otimismo está relacionado com a superestimação das expectativas de fatores externos, que não são controlados por uma pessoa, como por exemplo a oscilação de preços no mercado, a expectativa com relação à economia, à determinado setor ou empresa.
O otimismo exagerado pode fazer com que o investidor perca o foco no due diligence da operação, o que significa a diligência prévia, ou seja, é o processo de busca e análise de informações sobre uma empresa. O objetivo do investidor é analisar as características, os fundamentos, as demonstrações financeiras, as dívidas, os riscos do negócio, entre outras informações, antes de tomar uma decisão consciente sobre o investimento.
- Viés de autocontrole: Como o próprio nome diz, este viés diz que o investidor não consegue controlar seus próprios impulsos, deixando a emoção se sobrepor à razão. Um exemplo deste tipo de viés ocorre quando o investidor apresenta uma série de resultados negativos no mercado, tem dificuldade em manter o autocontrole e decide continuar a montar posições para tentar ganhar o que perdeu anteriormente. Tal situação pode levá-lo(a) a perdas significativas.
- Viés de autosserviço: É o hábito de levar crédito por resultados positivos, mas culpar os outros quando o resultado é negativo. Serve como mecanismo de defesa para proteger a autoestima e o ego e manter um auto-conceito positivo. Os indivíduos acreditam genuinamente nas atribuições tendenciosas que fazem sobre si mesmos, mesmo que sejam objetivamente infundadas, insistindo nos mesmos erros e obtendo prejuízos enormes e consecutivos.
- Viés de confirmação: Este viés ocorre quando o investidor busca somente as informações ou notícias que confirmem seu pensamento prévio em relação a determinado assunto. O risco desse viés é que o investidor pode ficar “cego” em relação ao que efetivamente está acontecendo em seu entorno, levando em consideração somente aquilo em que acredita, ainda que todas as sinalizações do mercado estejam indo em direção oposta. A maioria desses investidores tende a se concentrar em certos tipos de informação e ignorar outras, prejudicando a análise do cenário como um todo.
- Aversão à perda: O sofrimento em decorrência da perda é sempre maior do que a satisfação do lucros, de forma que os investidores tendem a reagir muito mais negativamente a uma perda do que positivamente a um ganho de volume semelhante. Nesse viés, os investidores tendem a manter os ativos que se desvalorizaram e a vender os que se valorizaram.
Como resultado, os investidores tendem a manter os ativos perdedores ou até mesmo a dobrar suas posições com a esperança de pelo menos empatar novamente, muitas vezes assumindo riscos demais, bem como tendem a realizar o lucro muito cedo com receio de que se torne uma perda, perdendo grande parte do movimento de valorização. Novas quedas ocorrem, os números continuam se deteriorando e você fica paralisado, se recusando a realizar o seu prejuízo.
- Desconto hiperbólico: É a tendência da pessoa preferir a gratificação imediata a esperar pelo ganho futuro. Representa a tendência dos investidores buscarem resultados de curto prazo, ainda que pequenos, por tenderem a preferir recompensas imediatas, o que explicaria a grande maioria que busca fazer daytrade ou operar com alavancagem. Um exemplo: se perguntarmos às pessoas se preferem um valor de R$ 1.000 hoje ou R$ 1.100 daqui a um ano, a maioria tende a escolher a primeira opção.
A incidência desse comportamento tende a diminuir o potencial de resultado dos investimentos, já que eles podem ficar mais limitados ao curto e médio prazo. Além disso, passa a apresenta exposição maior à volatilidade. Assim, o portfólio pode se tornar mais arriscado e até desalinhado com o nível de tolerância ao risco do investidor.
- Viés da Ancoragem: É a tendência de acreditar que se está diante de uma oportunidade quando o preço de uma ação sofre uma grande queda. É possível que no passado o preço elevado da ação se justificava porque a empresa tinha uma situação financeira positiva e expectativas de crescimento e lucros crescentes no passado. Contudo, o preço baixo de hoje pode representar uma empresa que tenta se recuperar de sérios problemas financeiros.
Os investidores precificam as ações das empresas analisando os números que ela oferece e criando expectativas sobre o futuro. O preço passado está relacionado com a situação financeira da empresa no passado. Assim, quando as expectativas são positivas os investidores aceitam pagar valores maiores (por acreditarem que o preço atual está barato) e quando são negativas eles só aceitam comprar por preços cada vez menores (por acreditarem que o preço atual ainda está muito caro). Dessa forma, avaliar se o preço da ação está caro ou barato depende de uma análise dos fundamentos da empresa e da economia e não de uma simples comparação entre preços praticados no passado e preços praticados no presente, ou mesmo, da simples comparação entre uma ação que vale R$5,00 com outra que vale R$50,00.
- Representatividade: Esta heurística diz que o investidor só leva em consideração os eventos passados que mais o impactaram para tomar decisão sobre um evento no futuro. O investidor entende que estes eventos passados são representativos de eventos futuros. Um exemplo seria levar em conta que os bons resultados de um gestor na bolsa são representativos de boa performance no futuro e, por isso, o investidor seguirá as orientações deste gestor.
Ocorre quando as expectativas do investidor se fixam em um determinado valor, a despeito das evidências do contexto, ou a partir de uma informação fornecida por terceiros a qual ele considera como garantida. Um exemplo ocorre quando os ganhos momentâneos de um amigo em uma operação de day trade são mais representativos do que a perda do próprio investidor em alguma posição.
Ou quando acreditando que um dia o preço retornará para o “valor justo” que foi pago quando os números da empresa eram positivos. A ideia de valor justo com base no passado é perigosa, pois talvez a empresa não seja a mesma empresa do passado. Embora exista a possibilidade da empresa se recuperar, também existe a possibilidade da empresa não se recuperar e o preço de suas ações continuar caindo.
- Disponibilidade: Esta heurística diz que as pessoas tomam decisões baseadas no conhecimento mais facilmente disponível ou recordado, em vez de analisar as demais alternativas. Devido à racionalidade limitada, tomam decisões fazendo o uso de atalhos mentais. Em outras palavras, as pessoas tomam decisões com base nas informações disponíveis e ignoram os fatos e os estudos que mostram o contrário. Um exemplo disso é o investidor que baseia sua análise e escolha de investimentos exclusivamente nos gráficos de preço dos ativos, ignorando os fundamentos econômicos e os resultados financeiros da empresa.
- Status Quo: Este viés diz que o investidor deixa as coisas como estão, ou seja, não faz nada. O investidor se mantém inerte pois imagina que as desvantagens de sair da posição são maiores do que as vantagens. Um exemplo clássico no mercado financeiro é quando a ação de uma boa empresa se torna ruim porque os fundamentos da empresa se deterioraram e não há perspectiva de melhoria, mas o investidor mantém a posição, ou seja, não faz nada e vê o preço da ação desabar.
Se o investidor decidisse vender a ação no início, o prejuízo poderia ser bem menor do que carregar uma ação de uma empresa que não tem mais os fundamentos para voltar ao nível de valor anterior. Daí vem a importância de sempre estar atualizado e buscar entender o cenário atual das empresas e do mercado.
- Movimento de manada: Este viés reflete a necessidade que as pessoas têm de agir do mesmo modo que a maioria. Se os investidores estão comprando a mesma ação, ou estão montando a mesma posição em opções, provavelmente existe uma boa razão para o que estão fazendo. Um exemplo é quando vários amigos dizem que ganharam dinheiro com determinada ação e o investidor decide comprar aquela ação só porque os amigos disseram que tiveram lucro.
O investidor tem medo de ficar de fora, de estar perdendo algo, consequentemente tende a entrar prematuramente no mercado ou a manter posições existentes por mais tempo do que deveria. Pode ocorrer também em razão da necessidade de aprovação social, ou seja, quando o investidor é inseguro e busca informações ou recomendações em outras pessoas que o encorajam a investir em algo.
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Aprovação social especializada: recomendação de um especialista credível, como um blogueiro do setor ou outra "autoridade" do mercado.
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Aprovação social de celebridade: recomendação ou endosso de celebridades, especialmente aquelas que não são remuneradas.
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Aprovação social do cliente: recomendação dos usuários atuais do produto/serviço, como depoimentos de clientes, estudos de caso e análises.
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Aprovação social da “Sabedoria das multidões”: recomendação de grandes grupos de outras pessoas.
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Aprovação social da “Sabedoria dos seus amigos”: recomendação de seus amigos ou pessoas que você conhece.
Antes de tomar qualquer decisão é importante analisar o cenário e verificar o contexto atual. Resultados passados não significam que serão mantidos no futuro. Uma atenção especial deve ser dada principalmente em posições de contratos futuros e de opções devido à alavancagem e, consequentemente, ao alto risco embutido nas operações. Para evitar ser levado pelo rebanho, é importante desacelerar o processo de decisão para dar espaço para o pensamento crítico. Além disso, afastar-se do ambiente de pressão e considerar as opções alternativas disponíveis, mesmo quando estas vão contra a maré da opinião da maioria.
“Fique atento para vender seu cavalo antes que ele morra. A arte da vida é transmitir as perdas.”
Robert Frost
Infelizmente a verdade é que as pessoas seguem a lei do menor esforço, entram no mercado seguindo dicas ou passam a responsabilidade para seu gerente no banco. São preguiçosas e investem sem se darem conta que como em qualquer outra atividade é preciso estudar e aprender o funcionamento do mercado, saber no que estão investindo e, principalmente, é preciso planejar.
Geralmente, o comportamento dos investidores segue as mesmas tendências. Quando o preço de um determinado ativo sofre uma queda, seja devido a uma crise econômica, do setor ou da própria empresa, investidores que não possuem o conhecimento e a habilidade para analisar o ativo e os seus fundamentos acabam comprando porque a cotação caiu e então o ativo ficou “barato”. Contudo, essa noção de “barato” é apenas uma comparação de preço passado com preço presente e não o entendimento do porque esse movimento está ocorrendo.
Quem negocia no mercado sem qualquer planejamento, sem ter dominado as técnicas de análise, e ainda, sem aplicar mecanismos de controle de risco e de gerenciamento de capital, não está fazendo um investimento e sim apostando num jogo.
Por isso, é importante não ser passivo no mercado e desenvolver um método de análise e uma estratégia de operação própria. Caso contrário, você estará cego, refém de suas emoções num ambiente que é notório por levar as pessoas aos extremos da euforia e do pessimismo, e da riqueza à pobreza.
O investidor consciente deve agir de maneira a fortalecer o seu sistema, os seus princípios e a sua estrutura emocional e psicológica. A realidade é que o mercado sobe e cai, distribui e acumula. Ao invés de se preocupar em tentar adivinhar o futuro se concentre em enxergar o óbvio e aceitar quando cada uma destas situações estiver ocorrendo, especialmente quando for contra você. Este é o grande passo para parar de perder, aceitar a realidade, pois quem se ilude não sobrevive na bolsa.

“Vencedores aceitam perdas ocasionais e seguem em frente, perdedores prolongam suas perdas”.Capital e Valor