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Políticas Econômicas - Política Monetária
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Para uma análise econômica de qualidade é necessário se aprofundar em todas as consequências de uma política econômica, ao invés de avaliar apenas os aspectos que são diretamente e imediatamente visíveis. Portanto, as principais variáveis que influenciam positivamente a oferta de bens e serviços na economia são: o fácil acesso a insumos e bens de capitais (nacionais e importados), um alto nível de poupança e de capacidade de produção, facilidade de crédito, uma carga tributária não abusiva, uma moeda forte e uma inflação sob controle. Do lado da demanda por bens e produtos, as principais variáveis que a influenciam são o nível de renda e de consumo interno, os gastos públicos, os investimentos e o comércio exterior.

A política econômica avalia a situação econômica de cada um dos grandes agregados nesses mercados e implementa políticas, investimentos e medidas que contribuam no aumento do emprego, na distribuição de renda, no crescimento da economia, na estabilização de valores e na solução de crises emergenciais.

O nível geral dos preços e do agregado da produção depende da demanda agregada – consumidores, empresas, governo, setor externo – e da oferta agregada de bens e serviços. Um fator que influi na estabilidade dos preços é a inflação monetária e a desvalorização cambial.

 

A consequência da inflação monetária é o aumento contínuo e generalizado no nível de preços, o que prejudica além da capacidade de consumo e de geração de empregos, todo o cálculo econômico das operações e dos investimentos do agentes produtivos, gerando uma sistemática alocação errônea de capital nos investimentos em razão do aumento da demanda de curto prazo gerada pela maior oferta de dinheiro na economia através da redução dos juros (expansão econômica).

Isso significa que não apenas os preços de venda mas também os custos de produção irão aumentar, de modo que no final não haverá aumento real nos lucros. Por fim, para conter esse aumento excessivo na demanda gerada pelo aumento da oferta de dinheiro o Banco Central e os bancos irão em algum momento elevar os juros, o que faz com que a expansão do crédito seja interrompida, ou fortemente reduzida.

 

Isso prejudica todo o processo produtivo, pois a renda nominal e a demanda param de crescer e os empreendedores descobrem que seus investimentos não têm a demanda que imaginavam que teriam, aumentando assim o nível de ativos ociosos (recessão econômica).

 

Isso porque o aumento do consumo e dos preços foi decorrente da expansão da quantidade de dinheiro na economia via o aumento do crédito (endividamento) e não como decorrência do aumento da renda e da poupança dos consumidores. Assim, a intervenção estatal sobre o sistema monetário cria distorções em todo o sistema de produção.

"A primeira lição da economia é a escassez: nunca há o suficiente de coisa nenhuma para satisfazer a todos que desejam possuí-la. A primeira lição da política é ignorar a primeira lição da economia."
Thomas Sowell

 

A desvalorização cambial, por sua vez, também enfraquece o poder de compra da moeda e isso afeta muito mais do que os preços dos produtos importados. Afeta também todos os preços internos, inclusive dos bens produzidos nacionalmente. Se a moeda está enfraquecendo, isso significa, por definição, que passa a ser necessário ter uma maior quantidade de moeda para adquirir o mesmo bem, gerando aumento de preços em todas as áreas da economia. Bens produzidos nacionalmente também encarecem, pois as indústrias produtoras certamente utilizam insumos importados ou, no mínimo, peças, equipamentos e maquinário importados.

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Uma moeda com menos poder de compra significa renda menor para a população e preços em contínua ascensão. Consequentemente, as vendas do comércio diminuem e os estoques se acumulam, pois a demanda por bens de consumo diminui e os custos de produção aumentam.

 

Logo, os fornecedores — o setor atacadista — reduzirão suas encomendas para as indústrias. E as indústrias, por sua vez, reduzirão sua produção. Já o exportador perderá vantagem competitiva no mercado internacional, pois os bens produzidos nacionalmente certamente utilizam insumos importados, assim como os seus investimentos em máquinas e demais bens para a produção que também são importados ficarão mais caros. Logo, o câmbio desvalorizado não estimula necessariamente as exportações no longo prazo.

Os níveis de investimentos internos e estrangeiros também são afetados pela desvalorização cambial. Em todo investimento — principalmente os estrangeiros — compra-se um fluxo de renda futura. Para que investidores (nacionais ou estrangeiros) invistam capital em atividades produtivas, eles têm de ter um mínimo de certeza e segurança de que terão um retorno que apresente poder de compra.

 

Se um investidor não faz a menor ideia de qual será a definição da unidade de conta no futuro (sabendo apenas que seu poder de compra certamente será bem menor), o mínimo que ele irá exigir serão retornos altos em um curto espaço de tempo, o que dificulta os investimentos mais vultuosos e de longo prazo, além de aumentar os seus custos.

Por fim, o sucesso dessa política não seria uma economia que não tem problemas ou volatilidade, mas o crescimento do PIB e da renda no longo prazo sem a necessidade de se apelar a medidas de austeridade ou que colapsem a qualidade de vida das pessoas, ou seja, está na forma com que as equipes econômicas, os governos e os agentes se preparam para cada um desses problemas. É entender o momento correto de aumentar os juros, de frear o consumo, de segurar a moeda e, principalmente, de reduzir o crescimento da dívida pública e de conter a desvalorização cambial, por exemplo.

“Existem dois conjuntos de regras ao se tratar de dinheiro: Um conjunto de regras para as pessoas que trabalham por dinheiro e outro para os ricos que imprimem o dinheiro”.
Robert Kiyosaki

A política econômica tem três grandes pilares, estabelecidos como uma forma de reger a macroeconomia no Brasil, o controle da inflação do país, uma taxa de câmbio flutuante e uma meta fiscal de arrecadação e de gastos. À princípio, a meta de inflação, por exemplo, define um limite máximo e mínimo para a taxa. É um número com o qual o governo deve se comprometer.

 

A partir dele, o Banco Central vai tomar as decisões necessárias para se manter dentro dos limites, normalmente através de alterações na taxa de juro, ou seja, acelerando ou desacelerando a expansão monetária e do crédito. Dessa forma, é esperado que a estabilidade da inflação possa garantir mais investimentos no país, maior geração de atividades produtivas, entre outros fatores.

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Já o câmbio flutuante permite que a força da moeda nacional seja regulada em relação às demais moedas pelas leis da oferta e demanda. E, por fim, a meta fiscal é um objetivo que o governo assume para cumprir com suas receitas e gastos. Baseando-se nela, são calculados os impostos cobrados e também é definido o quanto de investimento será feito em cada setor. Sempre que esse objetivo é cumprido o país ganha mais credibilidade junto aos credores, pois o risco país diminui.

Por fim, a meta fiscal corresponde às expectativas de receita arrecadada pelo Governo menos a expectativa de gastos, no período de um ano. Quando a meta é de superávit primário, objetivo que deve ser buscado continuamente pelo governo, significa que a expectativa do governo é de arrecadação superior a despesas. Por outro lado, quando a meta é de déficit primário a expectativa de despesa é superior a de receitas.

E é exatamente esse cenário deficitário que vem se perpetuando há uma década no país, tendo a dívida pública atingido 7 trilhões de reais em 2022, e o gasto com os pagamentos de juros dessa dívida, por sua, vez chegou a 780 bilhões.

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As principais políticas econômicas podem ser divididas em:

Política Monetária - São instrumentos que atuam sobre a quantidade de moeda e de títulos públicos, sendo os recursos disponíveis a emissão de moeda, a compra e a venda de títulos, a regulamentação sobre crédito e taxas de juros, entre outros. Assim, se o objetivo é controlar a inflação, por exemplo, o BC aumenta a venda de títulos públicos aos bancos, diminuindo assim o estoque monetário da economia e a oferta de moeda, o que faz com que os juros aumentem e o crédito fique mais caro, fazendo com que a população e as empresas reduzam o consumo e isto faz com que a inflação diminua, pois há uma menor pressão sobre os preços.

Quando se anseia o estímulo ao consumo e o aumento do emprego o BC aumenta a compra de títulos públicos dos bancos, aumentando assim o estoque de moeda, o que reduz os juros e facilita novas linhas de crédito e o acesso a este, pois desta forma o consumo, os investimentos e os gastos se tornam mais baratos, fazendo com que aumentem de volume. Contudo, caso esse aumento na oferta de moeda seja muito superior à demanda real por moeda decorrente do crescimento econômico, e normalmente é, o resultado será inflação, juros futuros altos e desvalorização cambial.

 

A política monetária pode ser implantada de forma mais rápida do que a fiscal, pois só depende de aprovação de um Comitê do Banco Central ou do Ministério da Economia. Já a política fiscal precisa passar por aprovação no Congresso e por isto é mais demorada.

 

A criação e a manipulação do custo do dinheiro e da oferta de crédito possui mais impacto sobre a economia do que qualquer pacote de estímulo fiscal, qualquer regulamentação ou qualquer parceria público privada. A diferença é que o impacto surge no longo prazo e quase sempre suas reais causas não são compreendidas.  O Banco Central conduz sua política monetária principalmente através de três instrumentos para controlar a oferta da moeda e a taxa de juros, ou seja, para definir o custo mais importante na economia, o preço do dinheiro.

 

"A verdade nua e crua é que todo exemplo de desenvolvimento econômico bem sucedido neste século ocorreu via globalização."
Paul Krugman

- Redesconto: Funciona como uma modalidade de empréstimo do Banco Central para as instituições financeiras que visa atender eventuais problemas de liquidez, de natureza circunstancial e de curto prazo. A política monetária expansionista se caracteriza pela intenção de aumentar a quantidade de dinheiro na economia emitido pelos bancos através de operações de crédito.

 

Sendo assim, o Banco Central ao reduzir a taxa de redesconto está estimulando os bancos a buscarem empréstimos no BC para então aumentarem as suas ofertas de crédito. Já quando essa taxa é aumentada, significa que o Banco Central está sinalizando uma política de redução de moeda em circulação. A taxa de redesconto é de certa forma o contrário do depósito compulsório, sendo raramente utilizado em razão dos juros serem punitivos justamente para coibir a prática de emissão excessiva de crédito.

 

- Depósito Compulsório: É um valor recolhido sobre todos os depósitos feitos nos bancos comercias e depositado no Banco Central, e que por isso rende juros. Ou seja, o compulsório pode ser encarado com um empréstimos dos bancos comercias para o BC, atualmente fixado em 20% do total depositado nos bancos, podendo ser tanto na forma de encaixes (dinheiro em seus cofres) quanto na forma de depósitos junto ao Banco Central.

 

Trata-se de um mecanismo de controle da expansão monetária realizada pelos bancos através de suas operações de crédito. Quanto menor for a porcentagem do compulsório, maior será a quantidade de dinheiro que os bancos podem criar via empréstimos.

 

Assim sendo, quanto maior a taxa de depósito compulsório, menos recursos os bancos podem criar para emprestar e, por consequência, menos dinheiro será injetado pelos bancos na economia. Portanto, o depósito compulsório limita a quantidade de recursos que os bancos podem fornecer e, consequentemente, a sua alavancagem. Por isto, o seu aumento faz parte de uma política monetária contracionista. Enquanto a sua redução faz parte de uma política monetária expansionista.

 

Os bancos mantêm um encaixe monetário para atender a demandas de saque pelos clientes, mas depositam suas reservas excedentes no BC, podendo também as emprestar para outros bancos no chamado mercado interbancário. Caso algum banco chegue ao final do dia tendo sido realizado mais retiradas do que depósitos, ou seja, apresentando desencaixe, necessitando assim arrecadar dinheiro para cobrir o rombo em seu compulsório, ele irá recorrer ao mercado interbancário, no qual aqueles bancos com reservas em excesso emprestam dinheiro para aqueles com reservas insuficientes.

 

Os juros que eles cobram ente si nesta operação é exatamente a taxa DI. Esta taxa é o custo do empréstimo por um dia (overnight) de reservas bancárias. E, ao estipular uma meta para a SELIC, o Banco Central manipula o mercado interbancário injetando dinheiro nele de modo a fazer com que a taxa de juros neste mercado se mantenha próxima do valor estipulado para a SELIC.

 

As principais funções do recolhimento de compulsórios são o fornecimento de liquidez ao sistema bancário, o controle de crédito e a estabilização da demanda por crédito. Mas embora os compulsórios não sejam criados por esta razão, ele são utilizados como fonte de financiamento mais barato para os gastos do governo. O compulsório, mesmo que recolhido sob a forma de depósitos remunerados ou títulos públicos, acaba se constituindo em um financiamento mais barato para o governo do que o financiamento pela emissão de dívida pública.

 

O ganho do governo se dá à medida que os juros pagos sobre tais depósitos sejam inferiores àqueles pagos para rolar sua dívida no mercado. E a obrigatoriedade do recolhimento em títulos públicos cria uma demanda cativa para tais títulos, elevando a demanda e o preço e, consequentemente, reduzindo os juros pagos pelo governo para rolar sua dívida.

 

Por essa razão, embora os depósitos compulsórios estejam em desuso no mundo, eles são amplamente utilizados no Brasil e as alíquotas de recolhimento vigentes estão entre as maiores dentre países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que contribui para elevar o spread bancário. Ao final de 2022, a alíquota do compulsório sobre recursos à vista era de 21%.

 

Esse percentual é mantido pelo Banco Central e as instituições não recebem remuneração por isso. Sobre os recursos a prazo a alíquota era de 20% e as instituições são remuneradas pela Selic.  E sobre os depósitos de poupança a alíquota é de 20% e as instituições recebem a mesma remuneração da poupança.

Os principais instrumentos de execução da política monetária utilizados no Brasil são os depósitos compulsórios e as operações compromissadas (open market). O volume de depósitos compulsórios remunerados em 2022 chegou a R$ 464 bilhões, representando um custo de remuneração em torno de R$ 55 bilhões no ano.

 

Do ponto de vista estritamente financeiro, para as contas públicas, a remuneração do compulsório é contraproducente quando não é atingido o objetivo da política monetária expansionista, de aumentar os  empréstimos do sistema financeiro, em razão do impacto significativo para as contas públicas dos juros pagos sobre as reservas recolhidas.

Logo, em períodos de política monetária expansionista a remuneração dos compulsórios poderia ser eliminada, gerando uma tendência de expansão do crédito e amplificação dos efeitos da política monetária. E mesmo em períodos de uma política monetária contracionista, a remuneração sobre os compulsórios poderia não ser necessária porque o efeito contracionista seria obtido com o simples aumento da alíquota normal do compulsório, sem a geração do custo fiscal da remuneração.

A existência de depósitos compulsórios remunerados, mesmo sobre depósitos à vista, mostra a ligação do custo dos passivos do Banco Central para as contas públicas, de maneira similar à influência da taxa de juros sobre a dívida pública. Portanto, é fundamental a redução das alíquotas dos compulsórios, ou até mesmo a sua eliminação, visto existirem outras maneiras de evitar a criação excessiva de moeda, como os requerimentos mínimos de capital associados ao nível de ativos dos bancos, como estabelecido no acordo da Basiléia.

E como os depósitos compulsórios são um dos fatores que elevam o custo das instituições financeiras, a sua eliminação contribuiria para diminuir o spread bancário, ou seja, a diferença entre a taxa que a instituição financeira paga ao captar recursos e a que cobra dos clientes em suas operações, o qual no Brasil é um dos maiores do mundo. Elevadas alíquotas de compulsório juntamente com uma elevada remuneração, dado a elevada taxa de juros média no país, implicam no aumento do spread bancário e na redução da oferta de crédito.

"Uma das razões mais importantes para estudar a história é que virtualmente todas as ideias estúpidas que estão em moda hoje já foram tentadas antes e se mostraram desastrosas, repetidas vezes."
Thomas Sowell

 

- Open Market: É o mercado aberto onde os bancos realizam operações de compra e venda de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. O Banco Central realiza leilões para comprar ou vender esses títulos junto aos dealers, que são bancos autorizados a operar no mercado primário. Desde a lei de responsabilidade fiscal da década de 90 o BC não pode mais simplesmente imprimir dinheiro e entregá-lo diretamente para o Tesouro para cobrir os déficits orçamentários decorrentes dos elevados e crescentes gastos do Governo.

Contudo, na prática isso continua sendo feito, porém, de maneira indireta. O BC cria dinheiro para comprar títulos públicos que estão em posse dos bancos, injetando esses valores nas reservas compulsórias que o banco que está vendendo os títulos possui junto ao Banco Central, expandindo assim a base monetária. Nesse caso, as reservas desse banco aumentam, o que o permitirá conceder empréstimos a juros menores e em maior quantidade no mercado interbancário.

 

Como isso está ocorrendo simultaneamente com vários bancos, os juros no interbancário diminuem. Logo, a taxa SELIC é reduzida. Portanto, para reduzir a taxa de juros para a sua meta o BC aumenta as suas operações de compra de títulos junto aos bancos. O aumento da demanda significa um aumento do preço desses títulos e a consequente redução do rendimento desses.

 

Por outro lado, para aumentar a taxa de juros o Banco Central aumenta as suas operações de venda de títulos junto aos bancos, contraindo a base monetária. Nesse caso, ele vende para um banco títulos do Tesouro que estavam em sua posse. Assim, há um débito nas reservas que esse banco comprador tem junto ao Banco Central.

 

Portanto, as reservas desse banco diminuem, o que faz com que ele tenha de pedir empréstimos no mercado interbancário para se manter dentro da porcentagem exigida pelo compulsório, bem como reduz a sua capacidade de conceder empréstimos. Como isso está ocorrendo simultaneamente com vários bancos, os juros no interbancário aumentam.

 

Logo, a taxa SELIC é elevada. O aumento da oferta significa uma redução  do preço desses títulos e o consequente aumento do rendimento desses. Isso é a marcação a mercado dos preços dos títulos, ou seja, se o preço do título sobe, o juro cai. Se o preço do título cai, o juro sobe. Uma vez atingida a nova taxa, as operações do BC se limitam a manter a nova curva de rendimento dos títulos.

Portanto, basicamente, quando o BC vende títulos públicos no mercado ele está retirando moeda da economia ao reduzir as reservas dos bancos, reduzindo a liquidez da economia devido à redução da oferta de moeda através do aumento do custo de tomar dinheiro emprestado, ou seja, através do aumento do juro.

 

Já quando o BC compra títulos públicos no mercado, ele está injetando moeda na economia ao aumentar as reservas dos bancos, elevando a liquidez da economia devido ao aumento da oferta de moeda através da redução do custo de tomar dinheiro emprestado, ou seja, através da redução do juro.

 

E é exatamente sobre essas reservas que os bancos criam dinheiro emitindo empréstimos, expandindo a oferta de crédito em uma quantidade várias vezes maior do que a quantidade das reservas que possuem, visto que operam alavancados via reservas fracionárias. Dessa forma, todo o restante pode ser emprestado múltiplas vezes para o mercado. Essa proporção entre a reserva fracionária e o limite de emissão de crédito permitido é chamada de multiplicador monetário.

Logo, dependendo dessa taxa, que é decidida pelo próprio Banco Central, as instituições são liberadas para criar mais ou menos dinheiro através desse sistema. Considerando uma taxa de compulsório de 20%, o valor do multiplicador monetário seria 5, ou seja, é permitido aos bancos emprestarem até 5 vezes o valor que possuem de reservas compulsórias. Portanto, uma compra de títulos no valor de R$10 milhões feita pelo BC pode gerar um aumento de 5 vezes (R$50 milhões) na oferta monetária do sistema bancário como um todo através da emissão de crédito via alavancagem.

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"Nada é tão permanente quanto um programa temporário do governo."
Milton Friedman

 

O Banco Central e os bancos comerciais criam dinheiro ao criarem crédito, ou seja, ao fazerem empréstimos para pessoas, empresas e governos. Logo, o dinheiro entra na economia por meio do endividamento de pessoas, empresas e governos. Portanto, os bancos não são meros intermediadores financeiros entre poupadores e investidores. Bancos são criadores de crédito artificial na forma de dinheiro eletrônico sempre que fazem qualquer tipo de empréstimo ou de investimento.

 

O gráfico acima mostra o crescimento do total das operações de crédito no país, o qual vem crescendo num percentual muito acima da demanda por moeda decorrente do crescimento econômico no período, gerando como resultado o aumento do endividamento de famílias, empresas e governo, juros futuros altos, inflação e desvalorização cambial.

O ativo é o papel que o banco comprou criando dinheiro eletrônico, tais como duplicatas, financiamentos, títulos públicos, contratos de câmbio, crédito pessoal, etc. O passivo são justamente os valores eletrônicos que o banco acrescenta na conta de quem ele comprou o ativo. Ao fazer isso, o banco aumenta a oferta monetária, o que em larga escala dilui o poder de compra da moeda podendo levar ao aumento da inflação e a um quadro de desvalorização cambial que pressiona ainda mais os preços para cima e prejudica o crescimento econômico.

E ao considerar que quanto maior for a reserva do banco maior será a quantidade de crédito que este poderá vender, o melhor investimento para o banco é justamente comprar os títulos públicos que o Tesouro põe à venda, financiando dessa forma o déficit do governo ao mesmo tempo em que obtém retornos dos juros desses títulos, bem como os utiliza como reserva compulsória, possibilitando se alavancar através da venda de operações de crédito muitas vezes maiores do que suas reservas e lucrando o spread entre o custo de captação de reservas bancárias, que é a SELIC, e a taxa de juros cobrada nos seus empréstimos.

 

Logo, o principal problema do sistema bancário de reservas fracionárias é sua inerente disposição à expansão do dinheiro nele depositado gerando uma grande alavancagem, ou seja, um grande risco sistêmico, juntamente com a inflação de preços e a desvalorização cambial, pois o poder de compra da moeda do país acaba sendo transferido para o governo, para os bancos e para as empresas protegidas pelo governo que se beneficiam do aumento dos gastos públicos.

 

O gráfico abaixo mostra o crescimento da base monetária ampliada, o total de dinheiro no país, a qual vem crescendo num percentual muito acima da demanda por moeda decorrente do crescimento econômico no período como decorrência do aumento excessivo do crédito e da dívida pública, numa média de 17,5% ao anos.

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"Banqueiro solto volta para o local do crime!"
Delfim Neto

Por fim, a elevada concentração bancária no país juntamente com um BC expansionista permitem que os bancos também expandam o crédito de maneira excessiva sem o risco de se tornarem insolventes, aumentando de sobremaneira os lucros deste setor. Garantia de proteção que estimula os bancos a expandirem ainda mais o crédito, medida essa que no longo prazo gera ciclos de expansão econômica seguidos de recessão, resultando na perda da renda, de empregos e de investimentos.

 

Esses momentos de crises incitam os vários setores e agentes econômicos, assim como o público em geral, a recorrerem ao governo para que este solucione as adversidades e os problemas que ele próprio cria através da intervenção governamental no âmbito monetário, ao permitir que o crescimento da oferta de crédito seja sistematicamente maior que o crescimento da renda real, decorrente do aumento da produtividade, o que faz com que a razão dívida/PIB das economias esteja em constante crescimento. 

Ainda que essa razão possa continuar elevada por algum tempo, enquanto os bancos centrais continuarem diminuindo e mantendo as taxas de juros em níveis baixos, no longo prazo essa situação é economicamente insustentável, sendo a solução dos governos a desvalorização da moeda via inflação, um artifício para livrar os devedores de suas obrigações. Ou seja, mais inflação e mais expansão do crédito tornam-se os remédios contra os malefícios trazidos justamente pela inflação e pela expansão do crédito.

Considerando que o IPCA acumulado no período de setembro de 1995 a setembro de 2021 foi de praticamente 400%, algo que valia R$ 100,00 naquela época hoje vale R$ 500,00. Sob outro ponto de vista, o Real perdeu 80,44% do seu poder de compra, ou seja, R$ 100,00 naquela época hoje equivalem a R$ 19,56.

 

Além disso, o Dólar se valorizou 466% frente ao Real, ou seja, o Real perdeu 82,4% do seu valor frente ao Dólar. Neste mesmo período a base monetária foi expandida em mais de 6400%, as operações de crédito cresceram 1800%, a dívida líquida do setor público DLSP aumentou em 3100%, passando de 153,7 bilhões para 4,918 trilhões, e o endividamento das famílias em relação à renda praticamente triplicou, enquanto que o PIB Real cresceu 156% e o PIB per capita 40%.

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"Nunca invista em uma empresa sem analisar as suas finanças. As maiores perdas no mercado de ações ocorrem em empresas com balanços ruins."
Peter Lynch

 

Esse aumento da quantidade de dinheiro na economia, gerado pela criação de crédito bancário, faz com que, num primeiro momento, haja uma grande sensação de prosperidade. A renda nominal aumenta, os investimentos aumentam, o consumo aumenta e o desemprego cai.

 

E isso, de início, estimula os números do PIB, do emprego e da renda. Contudo, no longo prazo as duas principais consequências de toda essa expansão do crédito serão o endividamento, a inflação de preços e a desvalorização cambial, juros futuros altos, bem como a consequente inadimplência das empresas e das famílias atingindo níveis recordes, o que além de afetar os balancetes dos bancos torna-os mais cautelosos na concessão do crédito, tornando-o mais caro e escasso. Situação que obriga o Banco Central a elevar os juros para resfriar essa atividade econômica, gerando uma recessão econômica.

 

Os sistemas de metas de inflação implantados pelos bancos centrais nada mais são do que metas de se criar dinheiro a uma taxa que supere os ganhos de produtividade. Aumentar a oferta de moeda em quantidade muito acima da demanda por moeda decorrente do crescimento econômico acumulado num determinado período, o que resulta na diluição do seu poder de compra, bem como na redução dos valores reais das dívidas.

 

Esse é o principal motivo porque a quantidade de dinheiro necessária para comprar um item aumenta com o passar do tempo. É simplesmente porque a quantidade de dinheiro em circulação está sendo aumentada a um ritmo maior do que o aumento da produtividade, tanto para incentivar o consumo como para financiar os elevados e crescentes gastos do Governo, bem como baratear as dívidas públicas e privadas.

Os preços sobem porque o sistema bancário, em conjunto com os bancos centrais controlados pelos governos, está continuamente criando mais dinheiro. Consequentemente, os preços dos bens e serviços simplesmente se ajustam a este dinheiro adicional em circulação. Se caso tivéssemos uma moeda e uma economia sólida e estável os preços cairiam anualmente, pois estaríamos sendo beneficiados pelo comprovado aumento de produtividade.

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"Se colocarem o governo para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia."
Milton Friedman

 

No passado, a moeda era lastreada em ouro, ou seja, cada emissão de papel-moeda deveria ter como contrapartida a compra de ouro para estoque, por parte do Banco Central. Logo, quando o dólar estava atrelado ao ouro, os demais países podiam simplesmente atrelar suas moedas ao dólar, o que fazia com que suas moedas automaticamente também estivessem em um padrão-ouro.

 

Atualmente, com o desenvolvimento do comércio internacional, não foi mais possível a conversão em ouro e hoje temos a moeda fiduciária, ou seja, um papel-moeda que não possui lastro, mas sua aceitação é garantida por lei.

 

Em 1970 para reativar a economia americana que estava em recessão e financiar a guerra no Vietnã, Nixon deu início a uma agressiva política monetária expansionista, reduzindo os juros e expandindo a oferta monetária e de crédito. Essa política monetária expansionista aumentou enormemente a quantidade de dólares no mundo.

 

E quanto mais esses dólares se acumulavam nas mãos de governos estrangeiros, mais estes governos exigiam que fossem restituídos em ouro, gerando uma severa redução no estoque de ouro em posse do governo americano, chegando ao ponto deste não mais poder honrar com seus compromissos financeiros.

 

Na prática, a abolição do padrão ouro em 1971 representou o fim de um regime monetário que, desde a alvorada da civilização, havia tornado o dinheiro tanto um meio geral de troca como também uma reserva de valor, visto que ao atrelar a capacidade de emissão de moeda à disponibilidade de ouro em posse dos Governos, ainda que parcialmente, cria-se um limite para a emissão de moeda e de dívida. Já no atual sistema inflacionário, os políticos podem simplesmente emitir a dívida que lhes seja necessário para seus projetos e suas vontades.

 

A partir da abolição do padrão ouro, o dinheiro em todo o mundo tornou-se meramente uma moeda de papel sem lastro que poderia ser criada e ter seu custo e valor manipulado por bancos e por Bancos Centrais praticamente sem limite. Os países desatrelaram suas respectivas moedas do dólar e, com isso, as moedas mundiais começaram a flutuar entre si.

 

A falta de lastro incentiva a expansão monetária sem que necessariamente esteja havendo um crescimento econômico na mesma proporção da emissão de mais moeda, o que leva não só ao aumento da inflação como à desvalorização monetária e ao aumento da dívida pública no longo prazo. Apesar de incentivar o crescimento da economia no curto prazo, o reflexo dessa prática por todos os bancos centrais foi a depreciação das respectivas moedas nacionais ao longo dos anos.

 

Tal resultado se mostrou contrário às garantias emitidas pelos governos sobre os valores de suas moedas, ou seja, a confiança de que governos não inflacionarão a moeda apoiados em leis de curso forçado que obrigam os cidadãos a aceitar a moeda como pagamento.

 

A década de 1970 foi marcada pela inflação de preços em todo o mundo, que alcançou níveis até então inéditos, e pelo declínio econômico. Desde então, o fenômeno da inflação de preços e dos ciclos econômicos se tornaram uma constante, pois se o dólar é inflacionado, todas as outras moedas também são. Por fim, tudo isso resultou num colapso inflacionário mundial e no aumento exponencial da dívida global em cerca de US$ 40 trilhões, alçando um patamar próximo de quatro vezes o PIB mundial. Essa explosão na dívida pública americana a partir de 1971 após a abolição do padrão ouro pode ser observada no gráfico abaixo.

 

Assim, o mesmo efeito ocorreu no mercado de crédito. Quando os governos estimulam artificialmente a liberação de financiamentos e de empréstimos para si, para as empresas e para a população sem que estes tenham condições para garanti-los, forma-se uma bolha que afeta o nível geral de preços e causa distorções no mercado.

Infelizmente, alguns preferem ver a causa da inflação não no aumento da quantidade de dinheiro, mas na elevação dos preços, o que contradiz o próprio termo, inflação monetária. A perda do poder de compra da moeda é, portanto, a consequência da expansão da oferta monetária.

Em última instância, a hiperinflação se encerra com o colapso do meio circulante, quando as pessoas passam a utilizar moedas estrangeiras fortes, tal como o dólar, em lugar da moeda nacional, a qual já não vale mais nada, dando lugar a uma catástrofe econômica e social, como vem ocorrendo recentemente na Venezuela.

 

Tem-se então uma situação insolvência que pode comprometer toda a cadeia produtiva e acabar com a economia de um país, vide Argentina e Grécia. Como disse, Friedrich von Hayek: "Entregar o controle da oferta monetária aos políticos é o mesmo que pedir a um gato para tomar conta de um pires de leite". Portanto, a expansão monetária, necessariamente, provoca uma descoordenação entre os planos de consumo, de poupança e de investimento da população, dos governos e do setor privado.

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Contudo, em razão de grande parte das reservas dos países serem em dólar (cerca de 60% das reservas mundiais), da maior parte do comércio internacional, em especial do petróleo, ser realizada em dólar (em torno de 60%), em razão do dólar servir como reserva de valor para muitas pessoas e empresas e, principalmente, em razão da grande maioria dos países emitirem títulos das suas dívidas em dólar, ou seja, se endividarem também em dólar, sendo  40% da dívida mundial em dólar, percebe-se que os Estados Unidos aproveitam a demanda por dólares para financiar o seu déficit com a emissão de moeda e títulos do tesouro, bem como para manter sua taxa de juros baixa, o que barateia e estimula o consumo da maior economia do planeta.

Como existe uma enorme demanda global para absorver dólares como forma de reservas e para realizar negociações no comércio exterior, mesmo quando o dólar é inflado e perde poder de compra o impacto disso na inflação de preços nos EUA em geral é bem menor se comparado aos demais países, o que permite que os EUA tenham baixas taxas de juros e se endivide à um baixo custo, permitindo maiores gastos do governo, um elevado déficit público e na balança comercial e, por consequência, um maior consumo das empresas, do governo e das famílias.

 

Um privilégio de quem pode emitir a moeda que é o padrão mundial e cujos títulos de dívida são avaliados com as maiores notas pelas agências de classificação, apesar de serem impagáveis dado o volume absurdo da dívida americana, a qual ultrapassou 30 trilhões de dólares em 2022, gerando um gasto anual de 1 trilhão dólares com juros, o qual por sua vez é coberto pela emissão de mais dívida pública.

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Em suma, os EUA vem incorrendo em déficits públicos e comerciais crescentes desde a abolição do padrão ouro, como decorrência do elevado nível de consumo das suas empresas, famílias e Governo. Esses déficits, obviamente, são financiados, predominantemente, pela venda de títulos do tesouro americano, não apenas para bancos e investidores, mas para os demais países que possuem superávit comercial, ou seja, que recebem mais dólares via exportações do que gastam via importações, tal como a China, principal comprador de títulos da dívida americana. Seus saldos de balança comercial positivos e suas reservas são investidos em títulos da dívida americana, retroalimentando todo o processo de financiamento da economia americana, juntamente com os demais investidores estrangeiros que investem nos demais ativos da economia americana.

Além disso, os bancos centrais estrangeiros compram títulos do governo americano e aumentam as suas reservas internacionais porque seus respectivos governos querem manter suas moedas nacionais depreciadas em relação ao dólar, de modo a aumentar as exportações. Utilizam do poder estatal para subsidiar o setor exportador, cujo lobby é poderoso em qualquer nação do mundo, ao mesmo tempo em que espoliam a esmagadora maioria da população via o imposto da inflação monetária e da desvalorização cambial, prejudicando seu poder de compra e sua qualidade de vida.

E ao contrário dos EUA, os demais países deficitários, como Turquia e Argentina, necessitam manter elevadas taxas de juros para evitar a fuga de capitais e a depreciação excessiva de suas moedas, bem como de tomar empréstimos do FMI não apenas para cobrir os seus déficits públicos mas também para terem dólares suficientes para realizarem suas importações. Um cenário extremamente desvantajoso se comparado às realidades econômicas dos países desenvolvidos, especialmente em relação aos EUA.

Por fim, juntamente com inflação elevada, juros elevados e desvalorização cambial, tudo isso acaba por gerar nesses países a escassez de dólares, momento em que negociam novos empréstimos e renegociam empréstimos anteriores com o FMI mediante condições como privatizações, abertura comercial, cortes de gastos e demais medidas de austeridade que, juntamente com esse cenário desvantajoso, acabam por dificultar o crescimento econômico e a exacerbar as suas crises sociais, assim como ocorreu no Brasil entre 1970 e 2000.

 

“A redistribuição não é dos ricos para os pobres, mas dos grupos desorganizados politicamente para os organizados.”

Carlos Rodriguez Braun

Portanto, sendo a moeda um monopólio do governo, a qualidade da moeda será diretamente proporcional à qualidade do governo que a gerencia. Se o governo tem uma política fiscal ruim, se ele não gera confiança nos investidores e nos consumidores, se ele trava os investimentos, se sua política creditícia é ruim, e se ele é visto como relutante em atacar seu déficit e estancar o crescimento da dívida, então sua moeda será fraca (será pouco demandada mundialmente) e, consequentemente, o poder de compra dela será declinante. Logicamente, uma sucessão de governos ruins será fatal para a qualidade de uma moeda e, consequentemente para a economia e para o povo.

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Fica claro que a atual forma de financiamento do governo é inerentemente inflacionária, visto que a arrecadação de impostos é insuficiente para cobrir os crescentes gastos do governo, sendo necessário que o Tesouro emita cada vez mais títulos para conseguir mais dinheiro para cobrir um déficit público crescente e a rolagem da dívida pública. Esta, por sua vez, acaba funcionando como uma dívida perpétua que o Estado não precisará quitar nunca, enquanto for possível que faça a sua rolagem.

 

E, obviamente, os bancos são os maiores compradores dos títulos da dívida pública, os quais além de renderem juros aos bancos são incorporados nos ativos dos bancos, aumentando assim as suas reservas e os seus patrimônios, o que consequentemente aumenta a capacidade de concessão de crédito e, portanto, aumenta a quantidade de dinheiro na economia. 

 

Logo, em decorrência desse peculiar funcionamento do sistema bancário de reservas fracionárias e do fato do governo ser o maior devedor do país, quando este se endivida, acaba gerando inflação monetária, juros futuros altos e desvalorização cambial, o que piora ainda mais a situação de empresas e famílias.

Historicamente, a taxa de expansão da base monetária brasileira como forma de financiar os crescentes gastos públicos e a expansão do crédito tem sido bem acima do PIB, assim como o crescimento da dívida pública, consequentemente resultando numa inflação média bem acima do PIB também.

 

Ou seja, o crédito não está aumentando porque está havendo maior poupança, geração de renda e produtividade das pessoas e das empresas. Está aumentando porque o Banco Central e o sistema bancário simplesmente estão expandindo rapidamente o volume de dinheiro na economia como forma de financiar o governo, expandir o crédito e gerar lucro para o setor.

Os bancos direcionam boa parte dos depósitos de seus clientes para a compra de títulos do governo como forma de financiar todo esse processo. Logo, o dinheiro que poderia ir para o setor produtivo na forma de crédito, acaba sendo sugado para o setor não produtivo (governo) na forma de empréstimos que serão pagos via impostos ou via mais empréstimos, pois o governo gera novas dívidas para pagar dívidas antigas que estão vencendo.

Em países como os EUA e Japão, que possuem economias abertas e uma produtividade elevada, é possível manter uma expansão creditícia por um longo período de tempo porque, como suas economias são abertas, as importações ajudam a arrefecer as pressões inflacionistas geradas pela expansão do crédito. Sendo assim, aquele aumento dos juros que põe fim à expansão de crédito e que dá início à recessão só irá ocorrer um bom tempo após o ciclo expansionista ter começado.

Mas como no Brasil a economia é bastante fechada e menos produtiva, qualquer expansão do crédito bancário rapidamente se transforma em inflação de preços e desvalorização cambial, o que faz com que o Banco Central rapidamente volte a aumentar os juros, agravando ainda mais um quadro recessivo na tentativa de conter a inflação de preços.

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“Os capitalistas conseguem o dinheiro de que precisam comercializando. Os políticos tomando pela força mediante o decreto de impostos.”

David Friedman

Embora um sistema bancário de reservas fracionárias tenha a capacidade de criar moeda sem a existência de um banco central, a expansão excessiva seria automaticamente contida pelo risco de insolvência gerado pela perda das reservas de um banco que se alavancar em excesso, visto que seus desencaixes seriam maiores.

 

Contudo, como os déficits orçamentários do governo são financiados pela emissão de títulos do Tesouro, os quais são majoritariamente comprados pelos bancos, tanto a manutenção quanto o aumento dos déficits do governo são uma medida inerentemente inflacionária.

Esse aumento na venda de títulos significa um aumento da demanda do governo por mais dinheiro do setor bancário para se financiar. Com mais dinheiro indo para o governo, o setor bancário fica com menos dinheiro disponível para empréstimos para o setor privado.

 

Adicionalmente, isso também faz com que a quantidade de dinheiro disponível para o mercado interbancário, em que os bancos emprestam uns para os outros com o intuito de manter suas reservas em níveis estipulados pelo BC, fique reduzida, pois agora há dinheiro sendo demandado de todos os lados (governo e setor privado).

Nesse cenário, o Banco Central é obrigado a injetar dinheiro no mercado interbancário como forma de conter a alta do juro e manter a meta da SELIC. E o dinheiro que o Banco Central injeta no sistema bancário vai direto para as reservas bancárias, reiniciando todo o processo acima descrito de expansão da oferta monetária via reservas fracionárias e consequente criação excessiva de dinheiro na economia como forma de financiar os gastos públicos.

 

Ou seja, de um lado o governo pega dinheiro emprestado dos bancos, o que tende a elevar a SELIC. De outro, o Banco Central injeta dinheiro nos bancos, justamente para evitar que a SELIC suba.

E no resultado final, o governo, os bancos e as empresas que têm contratos com o governo ganham, mas todo o restante da sociedade perde, pois tem que arcar com o imposto da inflação. O BC, além de estimular o financiamento dos déficits do governo pelos bancos, que são os maiores credores da dívida pública, estimula também que o Governo incorra despreocupadamente em déficits, razão pela qual os gastos do governo devem ser contidos e evitados sempre que possível, pois capturam e destroem recursos da economia e de fato geram inflação de preços, prejudicando em larga escala o crescimento econômico.

 

A variação da oferta monetária é o fator preponderante para a inflação de preços.  Se a oferta monetária estiver apresentando aceleração os preços subirão e, subirão ainda mais caso essa aceleração na criação de moeda venha acompanhada de desvalorização cambial, e normalmente vem.  Tratava-se então de uma política inflacionária autofágica, que se alimentava de si própria. 

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"Um dos maiores erros que existem é julgar os programas e as políticas públicas pelas intenções e não pelos resultados."

Milton Friedman

Esse processo foi realizado massivamente na década de 80 devido ao aumento excessivo dos gastos públicos e à elevação do endividamento externo durante o governo militar, quando o Banco Central expandia a base monetária acima de 400% ao ano em média, resultando numa hiperinflação de preços que atingiu mais de 2000% ao ano, sendo a média do período 250% ao ano. Em abril de 1990, a inflação acumulada chegou a 6.821% e a taxa selic acumulada chegou a 5.838%, razão pela qual esse período entrou para a história como a década perdida.

Esse período foi marcado por uma profunda e longa recessão que sucedeu o “milagre econômico brasileiro”, um período de grande expansão econômica entre 1968 e 1973 em que houve um crescimento expressivo do PIB brasileiro, em média 11% ao ano, sustentado por enormes empréstimos do exterior, bem como pela expansão do crédito, sobretudo o destinado a consumidores e ao setor agrícola e exportador.

 

Este último, tinha por objetivo baratear o custo de alimentos, item com peso na inflação. Também houve destinação de recursos para o financiamento da construção e aquisição de moradias. Contudo, o principal mecanismo de descontrole inflacionário foi a política de desvalorização cambial visando favorecer o agronegócio e o setor exportador e os sucessivos e crescentes déficits do Governo causados por seus elevados gastos, principalmente para pagar os juros da dívida externa que acumulou.

A busca por financiamento externo durante o milagre brasileiro no regime militar resultou em uma dívida externa enorme, que continuou a ser um desafio para a economia brasileira nas décadas seguintes. Os pagamentos da dívida só foram regularizados em 1994, após acordo com os credores para reduzir o montante devido e os juros.

Os governos militares da época procuravam manter a estratégia de obter empréstimos externos para financiar investimentos em infraestrutura e para a criação de estatais. A dívida externa brasileira cresceu em mais de 30 vezes, alcançando em 1985 US$ 104 bilhões, tornando o Brasil o 2o maior devedor do FMI no período, devendo a governos e bancos estrangeiros o equivalente a 53,8% do Pib.

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Um cenário recessivo similar pode ser visto entre 2011 e 2020 no gráfico abaixo, a nova década perdida, período que sucede o chamado "milagrinho econômico" de 2006 a 2010, um novo período de grande crescimento econômico proveniente da valorização do Real frente ao Dólar e da estabilidade econômica, orçamentária e fiscal, bem como de uma inflação baixa e da redução do juro.

 

O Brasil iniciou a década passada na 77ª posição entre os maiores PIBs per capita globais em paridade do poder de compra (PPC) e chegou em 2020 no 85º lugar após uma queda de 50% nesses 10 anos de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), chegando em 2020 com um PIB per capita de US$ 6.796, ficando atrás do Chile (US$ 12.993), do Uruguai (US$ 16.287) e até mesmo da Argentina (US$ 8.574).

Portanto, todo processo de expansão creditícia, cedo ou tarde, se transforma em um processo de restrição ou contração do crédito devido à inflação gerada naquele primeiro período. Isso pode ser visto no período de 2011 a 2020 (pior década da história brasileira moderna), marcado pela desvalorização do Real, descontrole das contas públicas, crise política, excesso de endividamento público, inflação alta e queda da atividade econômica e dos investimentos produtivos.

 

A intensidade da recessão econômica tende a ser proporcional à intensidade da expansão econômica que o país vivenciou. Fica claro que a política monetária expansionista do BC utilizada como forma de financiar os elevados e crescentes gastos do governo é o motor primário do empobrecimento das famílias e do atraso econômico e social do país.

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"Aos amigos do Rei, exceções e favores. Aos desconhecidos e inimigos, nada além do que o rigor da lei.

Maquiavel

Essa política de financiamento dos gastos do Governo faz com que o Brasil seja um dos países mais lucrativos do mundo para o setor bancário, visto o elevado volume de dívida pública emitida, o seu crescimento e as elevadas taxas de juros dos títulos emitidos.

 

E ao invés de emitir dívida predominantemente para empregar em investimentos de interesse da sociedade (educação, saúde, infraestrutura, etc), o Governo se endivida para pagar os elevados custos da dívida pública, pois à medida que o Banco Central retira o dinheiro dos bancos e lhes entrega títulos da dívida pública, recursos que poderiam ser direcionados para o setor produtivo, estimulando assim a atividade econômica, os investimentos produtivos, a geração de empregos e, consequentemente, a geração de renda, a qual serviria como base para a manutenção do consumo, são drenados para os gastos do setor público e para o pagamento dos juros e amortizações da dívida pública.

Isso ainda gera um cenário de escassez e encarecimento do crédito, pois acirra a elevação das taxas de juros de mercado, empurrando o País para uma profunda crise socioeconômica. Ou seja, o Governo paga dívidas gerando mais dívidas, retroalimentando a deterioração das contas públicas, sendo o rombo nas contas públicas causado por essa política muito maior do que o problema dos gastos com servidores públicos e com o déficit da previdência.

 

Cabe observar que em 2018, as dívidas de empresas com a previdência social atingiram R$ 1,055 trilhão, valor que supera o déficit previdenciário em quase 30 vezes. Dentre os maiores devedores estão JBS, Petrobrás e Itaú, dentre outras grandes empresas. Além disso, ainda há um grande volume de dívida dos Estados com a previdência.

 

Portanto, a maior parte do orçamento público, o qual por sua vez ainda é deficitário, acaba sendo direcionado para o pagamento dos juros e amortizações da dívida pública, comprometendo a maior parte do orçamento do governo. Em 2024 o Brasil liderou o ranking de pagamento de juros em relação ao PIB entre as grande economias.

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"Amadurecemos com os danos e não com os anos."
Romeu Sos Itaguaré

 

Para se ter uma ideia, em 2021 quase 51% de todo orçamento federal foi destinado para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, cerca de 1,96 trilhões. E do restante, cerca de 20% foram destinados para a previdência social, ficando os 29% restantes para todas as demais despesas do Governo, o que limita os orçamentos de setores sociais causando deficiência na prestação dos serviços.

 

E quando os recursos existentes no orçamento federal não são suficientes para pagar os juros, são emitidos novos títulos da dívida e esses são utilizados para pagar juros, sendo o gasto com juros, historicamente, o principal fator de crescimento da dívida pública, sem considerar a remuneração diária da sobra de caixa dos bancos e os prejuízos das operações de contratos de swap cambial do BC.

E em 2023 o encargo da dívida pública apenas com os juros da dívida pública pode chegar a R$ 813 bilhões ou 7,7% do PIB, ante os R$ 780 bilhões em 2022, maior proporção desde 2016. E quando somados aos pagamentos de juros as amortizações da dívida pública, o montante consumido é de cerca de 46,3% do Orçamento Federal, alcançando em 2022 R$ 1,88 trilhão, maior despesa do orçamento seguida pela Previdência Social.

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A criação de dinheiro por meio de reservas fracionárias e o modelo de endividamento público são inflacionários e provocam desequilíbrios econômicos e excesso de endividamento do setor privado e, principalmente, do governo. Além disso, são também a causa essencial dos ciclos econômicos, os quais por sua vez, estimulam e facilitam a adoção de políticas cada vez mais intervencionistas pelo governo na economia, tais como subsídios, crédito subsidiado, regulamentações excessivas, estatizações, controle de preços, barreira às importações, dentre outras medidas que ao longo do tempo corroem e até mesmo destroem os princípios essenciais sobre os quais se fundamenta uma sociedade de livre mercado.

 

O crescimento econômico brasileiro nos últimos 20 anos foi e continua sendo baseado predominantemente na expansão artificial do crédito pelo Banco Central e pelo cartel dos grandes bancos e pela expansão dos gastos públicos. Sempre que a expansão monetária e dos gastos públicos desacelera, toda a economia desacelera, e os mais diversos setores e grupos econômicos recorrem ao governo em busca de mais protecionismo e subsídios. Vivemos claramente um ciclo recorrente de expansões econômicas seguidos de recessões, chamados de voos de galinha.

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Para haver crescimento econômico sólido e constante é necessário uma sociedade que consiga gerar renda e poupar, que tenha acesso a bens de capitais e à liberdade econômica. Ou seja, um ambiente de negócios que respeite a propriedade privada, permita e facilite a liberdade de comércio, incentive e atraia o investimento nacional e estrangeiro, forneça plena liberdade às transações comerciais e à concorrência e que permita a acumulação de capital.

 

A economia brasileira, por sua vez, possui um estado amplamente interventor, vorazmente tributador, altamente protecionista e burocrático e descontroladamente perdulário, o que prejudica todos esses aspectos fundamentais, impedindo assim o desenvolvimento econômico e perpetuando o atraso social.

 

Quanto maior for o governo maiores serão seus gastos, consequentemente, maiores terão de ser os impostos e o endividamento público, resultando em inflação de preços, juros futuros altos e desvalorização cambial, bem como num menor incentivo ao investimento, à geração de empregos, à produção de bens e serviços e à geração de renda. Logo, visto que aumentos de gastos públicos resultam em maiores impostos e inflação de preços, quanto mais o Governo gasta, mais ele oprime o setor produtivo da sociedade.

“No Brasil, o futuro é duvidoso e o passado é incerto.”

Pedro Malan

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